O favoritismo exagerado da Seleção Brasileira na Rússia
Técnico tem apenas 21 partidas à frente da Seleção. A confiança na conquista do hexa transborda, em Sochi. Falta tensão, competitividade. É um perigo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Sochi, Rússia
"Eu disse ao Infantino que ele pode preparar a taça para o Brasil."
"A Áustria achou que iria fazer frente, porque ganhou da Alemanha.
"Mas não deu para a saída.
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"O zagueiro está procurando o Neymar até agora."
Estas palavras, acompanhadas de risadas, foram do presidente da CBF, o coronel Antônio Nunes. Ele falou, sem o menor constrangimento, para jornalistas na saída da reunião, em Moscou, que sacramentou o apoio maciço dos países sul-americanos a Gianni Infantino, na busca pela sua reeleição, em 2019.
E mais, a confirmação da votação em favor da união entre Estados Unidos, Canadá e México para a organização da Copa de 2026. Foi por ter perdido a Copa de 2022 para o Catar, em uma votação marcada pela corrupção, que os norte-americanos fizeram a devassa na cúpula da Fifa, que levou vários dirigentes do então presidente Blatter à cadeia.
Tite não tem nada a ver com as negociatas dos dirigentes. Mas sofre o efeito direto das palavras do presidente Antônio Nunes. Quem ainda tem o mínimo de memória, se recorda das palavras do então coordenador Carlos Alberto Parreira, no dia da apresentação da Seleção Brasileira, em 2014.
"O time campeão chegou hoje, e chegou chegando."
Parreira jogou toda a responsabilidade nas costas da equipe de Luiz Felipe Scolari, porque havia vencido a Copa das Confederações. O treinador e seus atletas aceitaram o peso do favoritismo e se viu o vexame histórico dos 7 a 1 para a Alemanha, fora a derrota também vergonhosa por 3 a 0 para a Holanda. O time tomou dez gols e só marcou um na semifinal e na disputa do terceiro lugar.
E quatro anos depois, a história se repete, aqui em Sochi. No luxuoso hotel cinco estrelas que o Brasil está, que lembra um palácio, os sorrisos são em profusão. Jogadores e membros da Comissão Técnica transpiram otimismo. Assim como aconteceu antes de começar a Copa de 2014, eles são apontados internacionalmente e, agora, nacionalmente, como mais do que preparados para o hexa.
"Brasil é um dos favoritos, sim. Pela história e pelo que vem desempenhando. Em cima do presente do que os atletas estão fazendo, digo que a equipe está fazendo por merecer estar entre os favoritos", já dizia Tite, em setembro do ano passado, em evento de um dos patrocinadores da CBF. Desde então, seu discurso só ficou ainda mais firme.
"Geramos essa boa expectativa... é bom. Vamos nos desafiar. É bom", disse o técnico, após a vitória diante da Áustria.
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Até porque a campanha de quatro vitórias em quatro jogos, torna o Brasil, ao lado do Uruguai, as únicas seleções importantes a vencerem todos seus amistosos antes da Copa. Só que o time de Suárez derrotou adversários muito mais fracos: República Tcheca, País de Gales e Uzbequistão. Enquanto a equipe de Tite teve pela frente Rússia, Alemanha, Croácia e Áustria.

"Tem que confiar, sonhar, não tem que segurar a onda não. Pode falar que é brasileiro e pode sonhar. Estamos sonhando cada vez mais", disse Neymar, após a vitória contra os austríacos.
Tite e Neymar são os porta vozes oficiais da Seleção no Mundial de 2018. Sabem que cada palavra que dizem repercute, ainda mais a cinco dias do início da Copa para o Brasil, domingo diante dos suíços, em Rostov.
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Não há uma preocupação específica, aqui na Rússia, de a Seleção domar essa onda de favoritismo. Que é incentivada pela cobertura de maneira generalizada da imprensa brasileira. Há como um flerte perigoso com a recuperação da honra do principal esporte nacional, manchada pelos 7 a 1 no Mundial dentro do país, em 2014. A pressa em mostrar que está tudo bem e agora está dentro da normalidade, com o Brasil pronto para a conquista do título é evidente.
Parece que Tite está à frente da Seleção há pelo menos quatro anos. E não apenas 21 jogos. A pequena quantidade de confrontos é apagada pelo apelo de apenas uma derrota e só cinco gols sofridos, em 16 partidas, ninguém marcou contra o Brasil. São 17 vitórias, três empates, uma derrota. Nada menos do que 85,7% de aproveitamento.
A tentação realmente é muito grande.
Ainda mais para Tite. O treinador ganhou seus principais títulos na carreira tendo equipes que surpreenderam na reta final. Principalmente o Corinthians, que não era favorito na disputa do dois Brasileiros que venceu. Assim como a Libertadores e o Mundial.
Com a negativa dos jogadores em relação aos psicólogos, o proprio treinador se assume como o responsável pela saúde mental do grupo que comanda aqui na Rússia. Mas ninguém cuida do estado psicológico de Tite.
Nos dois primeiros tempos, contra croatas e austríacos, o Brasil foi inferior. E, por justiça, deveria ter saído perdendo os jogos no intervalo. Tite disse que foi estratégia, uma maneira de atrair, cansar os adversários.
"60% dos gols da Seleção saem no segundo tempo", se defendeu o treinador.
O que se percebe aqui em Sochi é os jogadores e a Comissão Técnica relaxados demais. Não há o ar tenso de disputa da maior competição esportiva do mundo. E que o Brasil não consegue vencer há 16 anos.
O trabalho é sério. Embasado por estudos inéditos da fisiologia, análise de desempenho, com cada treino filmado. Todos os jogadores recebem preparação física e nutricional individualizadas.
Não há disputa raivosa por nenhuma posição. Roberto Firmino e Marquinhos são só sorrisos, apesar de serem reservas de Gabriel Jesus e Thiago Silva, com toda condição de serem titulares. Fernandinho que deixou o time para que Willian e Philippe Coutinho possam atuar ao lado de Neymar, também só é visto animado, brincando.

Cada detalhe parece ter sido estudado, antecipado.
Como o treino de hoje da Seleção, aberto principalmente para crianças russas. Por trás da gentileza há o planejamento de conquistar a torcida local, decepcionada com o time nacional. Haverá fotos, autógrafos e abraços dos jogadores nas crianças, após a atividade. Tudo filmado e fotografado pela CBF, lógico.
Está faltando competitividade, medo de perder a posição, a Copa.
Não há aquela famosa vontade de 'conter a euforia'.
Todos não falam, mas o pensamento escancarado do presidente da CBF, o coronel Nunes, impregna o ambiente, a concentração aqui em Sochi. É algo nítido. Quase palpável.
Só que não falta apenas Infantinno 'entregar a taça'.
Muito longe disso.

Otimismo é fundamental na vida.
Mas o excesso de confiança é um pecado mortal.
E a Copa do Mundo é a competição mais ingrata de todas.
Que os 21 jogos tenham ensinado tudo que Tite precisa saber...
Veja o estilo das seleções quando chegam à Rússia:
Faltando apenas dois dias para o apito inicial, quase todas as seleções que disputarão a Copa do Mundo 2018 já chegaram à Rússia. E, além da euforia por conta dos atletas, o que chamou atenção no desembarque das equipes foi as roupas que elas usaram. E...
Faltando apenas dois dias para o apito inicial, quase todas as seleções que disputarão a Copa do Mundo 2018 já chegaram à Rússia. E, além da euforia por conta dos atletas, o que chamou atenção no desembarque das equipes foi as roupas que elas usaram. Enquanto Brasil e Portugal, por exemplo, optaram por usar ternos nas viagens, argentinos e uruguaios surgiram com visuais bem diferentes e vestiram agasalhos esportivos Veja também: Neymar desembarca em Sochi com mochila de quase R$ 3,5 mil