Depois do silêncio, Neymar usa as redes sociais para emocionar
Aquele que deveria ser o líder da Seleção, se calou diante de mais um fracasso. O Brasil precisa acabar com a dependência de Neymar
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Kazan, Rússia.
Primeiro, o silêncio, o desprezo. Depois, as redes sociais. Depois dará uma exclusiva para um jornalista amigo. Provavelmente chorará.
Os dois itens, Neymar já cumpriu. Depois da eliminação do Brasil na Copa, virou as costas aos jornalistas do mundo todo, em um comportamento deplorável.
E hoje, dia seguinte, o previsível desabafo para emocionar seus seguidores.
"Posso dizer que é o momento mais triste da minha carreira, a dor é muito grande porque sabíamos que poderíamos chegar, sabíamos que tínhamos condições de irmos mais além, de fazer história .. mas não foi dessa vez.
'Difícil encontrar forças pra querer voltar a jogar futebol, mas tenho certeza que Deus me dará força suficiente pra enfrentar qualquer coisa, por isso nunca deixarei de te agradecer Deus, até mesmo na derrota... porque eu sei que o teu caminho é muito melhor do que o meu. Muito feliz em fazer parte desse time, estou orgulhoso de todos, interromperam nosso sonho mas não tiraram da nossa cabeça e nem dos nossos corações."
Lógico que ninguém há de levar a sério sua ameaça de abandonar o futebol. Lógico que ele está triste. Mas o texto não passa de um desabafo. Algo passageiro. E que sempre remete à lembrança que ele é o melhor jogador de sua geração. E cuja necessidade a Seleção não pode abrir mão.
Suas palavras nas redes sociais vão convencer milhões de seguidores.
Que nem imaginam o que aconteceu após a derrota contra a Bélgica.
Muito menos porque ele é tão questionado, além do futebol.
Mas eles deveriam saber o que aconteceu na Arena Kazan.
Foi uma cena deprimente.
Eram quase 300 jornalistas do mundo inteiro esperando pelos jogadores da Seleção. Três horas depois da partida, Resignados, diante da rotina imposta por Tite após as partidas na Copa da Rússia. Banho, jantar e palestra para acalmar os nervos dos atletas.
Nesta longa espera, o principal jogador do país, o real líder do grupo na Rússia, provocava a maior expectativa.
Teria a chance de explicar, via imprensa, a queda do Brasil.
Todos os grandes jogadores da história tiveram vitórias e derrotas, o que é normal no esporte.
Foram incensados quando ganharam e cobrados quando perderam.
Mas Neymar é diferente.
Com ele é rancor ou silêncio.
E o camisa 10 do Brasil passou entre os 300 jornalistas de todo o planeta do jeito que explica sua imensa rejeição, apesar do talento incrivel que possui.
Bastou ele surgir, que os gritos de "Neymar, Neymar, Neymar", nos mais variados sotaques dominavam a zona mista da arena de Kazan. Jornalistas, radialistas e repórteres de tevê dos veículos mais fortes do planeta.
E homens de 30, 40, 50 e até 60 anos, se empilhavam em uma cerca metálica. Com seus celulares servindo como gravadores, com os braços esticados, implorando uma palavra do jogador.
Sua reação foi a pior possivel. Ao lado de Philippe Coutinho, ele apenas olhava os que gritavam mais alto. Os encarava com desprezo e seguia, como se fosse surdo. Foi assim com todos os veículos, mesmo com a Globo, com quem teve contrato de exclusividade na Copa de 2018 e seu pai amarrava um acordo de paz.
Alguém do staff de mais de 30 pessoas que cuidam da carreira de Neymar deveria estar ontem na madrugada de Kazam, as 2h40 da manhã, quando ele acabou de passar. E sentir o ódio dos jornalistas pelo desprezo do jogador.
Perceber o ressentimento que ele provocou. Ouvido os adjetivos e palavrões em vários idiomas. Foram esses 300 desprezados que foram mostrar para seus leitores, ouvintes ou telespectadores quem é Neymar.
O jogador que ficou mais de 15 minutos deitado no gramado durante a Copa. Acabou marcado por simular faltas, agressões. No Brasil o que é esperteza, na Europa é deslealdade.
Uma empresa portuguesa decidiu colocar uma foto do brasileiro e o associar aos números de trotes, chamadas de emergências que são falsas.
Para quem ainda não sabe, o camisa 10 da Seleção é odiado pela imprensa europeia. E ela tem uma influência decisiva na escolha do melhor do mundo. A imagem que ele tem fora do Brasil é muito ruim entre os jornalistas.
Sua postura de celebridade encanta adolescentes, infantilizados e alienados nas redes sociais. Que ele estimula com fotos diárias de suas farras, festas e propagandas. São milhões. Os mesmos que seguem Justin Bieber, Anitta e outros na Internet. Como seus pais se desesperarvam pelos Menudos. É esse público específico que cultua e leva ainda mais dinheiro Neymar.
Das cinco partidas que disputou na Copa, quatro vezes ele fez a mesma coisa. Só diante da Suíça, o atacante falou com jornalistas na zona mista.
Neymar aprendeu com Messi, cinco vezes melhor do mundo, mas fracassado na Seleção Argentina. Acredita que não acontece nada se desprezar a imprensa internacional. Realmente ninguém da AFA ou CBF tem coragem de punir os dois. Mas o retrato de ambos é cada vez pior.
A primeira coisa que Cristiano Ronaldo fez quando Portugal acabou desclassificado da Copa da Rússia, o mundo viu. Foi dar entrevista. Mostrar aos portugueses a explicação do líder da sua seleção. Os motivos e o sentimento do jogador mais importante na derrota.
Neymar foi o primeiro a confirmar que não voltará ao Brasil no avião que a CBF fretou. Não desembarcará no Rio de Janeiro na madrugada deste domingo.
Ele pegará seu jato particular e decidirá onde irá aproveitar suas férias. Pode ser no Brasil, no Taiti, em Paris. Só dependeria de sua vontade.
Neymar já fracassou em duas Copas do Mundo. A ilusão que a 2014 foi perdida pela Seleção porque ele se contundiu, acabou. Ele estava perfeito, descansado, no melhor da forma diante dos belgas. E o Brasil caiu eliminado.
A próxima Copa, no Catar, ele já terá 30 anos.
Sua carreira é espetacular. Em clubes. Na Seleção principal só ganhou a Copa das Confederações, laboratório para o Mundial de 2014. Fracassou em Copa América e nas duas Copas do Mundo.
Ele chegou à Russia disposto a chamar a atenção. Um cabelo diferente a cada partida. Acabou sendo ridicularizado nas redes sociais, que tanto estimula. Estava claro que sonhava em ganhar prestígio para brigar por ser o melhor do mundo, tentativa desesperada de tirar a conquista de Cristiano Ronaldo, campeão da Champions, em outra temporada fantástica.
Neymar viu Phillipe Coutinho roubar seu protagonismo na primeira fase da Copa. Foi ótimo contra o México. Mas fracassou quando mais o Brasil precisou dele, diante dos belgas.
Optou pelo silêncio acovardado de Messi na eliminação.
Com o acréscimo do olhar de desprezo.
O argentino cogita abandonar a Seleção e só se focar no Barcelona.
Não será de estranhar se Neymar fizer a mesma coisa.
E pensar ainda mais só em si.
Na sua carreira, no seu clube.
Lá, ele não precisa dar explicações.
Mas quem é o principal talento da única seleção pentacampeã do mundo precisa saber o que representa para 213 milhões de pessoas.
A postura de Neymar não só o prejudica.
Corrói o encanto do mundo pela Seleção.
Neymar tem dinheiro, namorada global, parças, iate, jatinho, mansões, o Paris Saint-Germain aos seus pés.
Ele não precisa da Seleção.
Nem a Seleção precisa de um ídolo que parece fazer um favor ao jogar pelo Brasil.
E que tolamente acredita estar desprezando só os jornalistas.
Quem tem coragem no seu staff de explicar a ele?
E perder seus privilegiados salários?
Ninguém.
Por isso Neymar é cada vez menos valorizado no Exterior.
Apesar de seu talento excepcional.
Um líder de verdade assume suas vitórias e fracassos.
Ele não é esse líder.
Em entrevistas fraternais é fácil.
Mais ainda em desabafos escritos nas redes sociais, 24 horas depois de um fracassso.
É bom os brasileiros compreenderem de vez.
O resto do mundo já entendeu...