Caso Hugo Calderano: quando a política é adversária do esporte
Brasileiro foi impedido de competir em solo americano por ter estado em Cuba

Esporte e política sempre andaram juntos. Do mesmo lado da quadra, do campo, da piscina. Um não vive sem o outro. Quando o contrário acontece, o resultado quase sempre é uma aberração. Estamos vendo uma delas agora.
Os Estados Unidos usaram uma regra de 2015 para impedir que o mesa-tenista brasileiro Hugo Calderano entrasse no país para disputar um campeonato da categoria.
E sabe por quê? Porque Hugo esteve em Cuba em 2023, não a passeio, mas para disputar o Campeonato Pan-Americano e a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris, que ocorreram em 2024.
O atleta tentou entrar por meio de uma dispensa de visto previsto para cidadãos de 42 países, usando um passaporte de Portugal, que usa costumeiramente. Este programa permite viagens aos EUA de até 90 dias a passeio ou a negócios, desde que determinadas regras sejam cumpridas.
Basta preencher um formulário chamado de ESTA (sigla em inglês para “Sistema Eletrônico para Autorização de Viagem”). No entanto, segundo a lei dos EUA, o benefício é revogado se um cidadão tiver viajado para um dos países de uma “lista de banidos”, entre os quais Coreia do Norte, Irã, Iraque e Cuba.
Pessoas ou atletas que tenham visitado ou estado nestes países a partir de janeiro de 2021 têm que fazer um pedido para visto americano regular.
A assessoria do mesa-tenista tentou contornar a situação e obter um visto regular de emergência, mas não houve tempo. E assim, os espectadores e atletas que estarão no torneio de Las Vegas, onde ele competiria, deixarão de ver o atual número 3 do mundo do Tênis de Mesa em ação.
Hugo vive um grande momento nas mesas. Nos últimos dois meses, alcançou os maiores feitos da sua carreira: o título da Copa do Mundo e, mais recentemente, a medalha de prata no Mundial. Incompreensível.
Em nota publicada em seu site, Hugo disse que seguiu o mesmo protocolo de todas as viagens anteriores feitas aos EUA, usando seu passaporte português.
“Ao ser informado sobre a situação, mobilizei toda a minha equipe para conseguir um visto regular de emergência, mas, infelizmente, não houve tempo hábil. É frustrante ficar fora de uma das mais importantes competições da temporada por questões que fogem do meu controle, especialmente vindo de resultados tão positivos”, disse o atleta.
Isso me lembra que nos torneios de tênis, e vocês já devem ter percebido isso, os atletas da Rússia (Medvedev, Rublev, Andreeva) e de Belarus (Sabalenka) nunca têm a bandeira de seus países exibida ao lado dos nomes. A justificativa é o boicote a um país que está em guerra.
Mas não deixa de ser estranho que atletas de outros países que, mesmo teoricamente em paz, cometem atrocidades sem que haja qualquer penalização ou esta ridícula tentativa de mostrar, “olha, este tenista vem de um país que não é bem visto pelo mundo aqui fora”, leia-se Estados Unidos da América. Mais uma vez, política e esporte em campos opostos.
Agora, a pergunta que fica é: como será no próximo ano, para a Copa do Mundo? A seleção iraniana está classificada. E as Olimpíadas de 2028? Cuba terá permissão para entrar?
Quem viver, verá.