Rueda se defende de ‘gestão temerária’ no Santos, mas pode ser expulso do clube
Andrés Rueda teve contas de 2023 reprovadas e hoje conselho se reúne para definir novas ações
Andres Rueda, ex-presidente do Santos Futebol Clube, apresentou defesa após ter as contas de sua gestão, no ano 2023, reprovadas por gestão temerária. O ex-dirigente apresentou um documento de 15 páginas justificando cada item polêmico debatido no conselho deliberativo.
Nós tivemos acesso a cada uma das defesas do ex-presidente e as manifestações do Conselho Fiscal (CF), órgão responsável por analisar o assunto.
Os itens que levaram a reprovação das contas são: Folha de Pagamento, Marketing, IPTU, Krasnodar, Mou com a WTorre, Propriedades Comerciais do Brasileiro, Antecipação de Cotas do Campeonato Paulista e Comprometimento das Receitas.
FOLHA DE PAGAMENTO
A defesa do ex-presidente usa trecho do próprio relatório do Conselho Fiscal e alega que todos os limites estatutários foram respeitados. Andres Rueda refuta a alegação do CF de que o clube teve aumento significativo (36%) nos gastos em relação a 2021 e 2022 e destaca que os gastos com o futebol representaram 58,36% do total (o limite estatutário é de 76,5%).
O documento da defesa ainda aponta que o gasto com o departamento de futebol em 2023 chegou a R$ 138.143.195,00, um número superior em 0,71% ao que estava previsto no orçamento. A remuneração com direitos de imagem foi R$ 34.075.613,00, valor 8,96% superior ao previsto no orçamento.
POSICIONAMENTO DO CONSELHO FISCAL
O órgão mantém o posicionamento de que o aumento de 36% da folha em relação a 2021 deve constar no relatório, mas ressalta que o item não foi usado como embasamento para o pedido de reprovação das contas.
WTORRE
A defesa do ex-presidente alega que todos os candidatos na eleição ficaram sabendo das condições do acordo em reunião realizada no dia 27 de novembro do ano passado. O ex-presidente também alega que participou de uma reunião com as principais construtoras da cidade de Santos e todas teriam concordado que a WTorre era a empresa que mais tinha experiência na gestão e administração com shows do novo estádio.
O documento ainda revela que o Santos pode rescindir o contrato em quatro situações:
1) O Santos não aprove a due dilligence da WTorre (aspectos jurídicos e financeiro).
2) A WTorre não apresente o orçamento de implantação na forma acordada.
3) A WTorre não apresente ou as partes não cheguem a um acordo quanto ao estudo de viabilidade.
4) O Santos decida rescindir de forma imotivada, com pagamento de penalidade.
POSICIONAMENTO DO CONSELHO FISCAL
O órgão cita que a defesa de Andres Rueda alegou ter inserido as cláusulas por pressão da WTorre e que não foram apresentados fundamentos legais ou técnicos que modifiquem o entendimento do órgão.
KRASNODAR (DÍVIDA PELA CONTRATAÇÃO DE CUEVA)
Sobre o não pagamento do meia Cueva ao Krasnodar, que gerou um transferban da Fifa, a defesa alega que a contratação foi feita em 2019 por cerca de R$ 43 milhões e nada havia sido pago até 2021. O ex-presidente afirma ter pago cerca de R$ 20 milhões, mas alega ter faltado caixa em 2023 e a direção optou por priorizar o pagamento de tributos, folha de pagamento e direito de imagem para respeitar a sequência de pagamentos listada no Estatuto Social.
O ex-presidente alega ainda que o pagamento do Pachuca ao Santos pela contratação do jogador foi feito de forma parcelada e que o clube russo tinha interesse na contratação de um jogador do clube (Joaquim). Andres Rueda cita também que o Santos teria uma entrada significativa de receita com a venda de Marcos Leonardo e que o valor poderia ser usado no abatimento da dívida. Ele ainda alega que a situação foi informada a todos os candidatos da última eleição do clube.
POSICIONAMENTO DO CONSELHO FISCAL
O órgão afirma que o parecer cita que houve gastos sem critérios com compra de jogadores com altos salários e nível técnico incompatível com os proventos e aponta que a defesa em reunião sem registro com os candidatos e conversas informais.
ANTECIPAÇÃO E COMPROMETIMENTO DE RECEITAS
O ex-presidente alegou que, com os péssimos resultados em campo, o Santos não recebeu os valores de premiação do Campeonato Brasileiro e também a parcela anual do patrocínio da Binance. Com isso, o Comitê de Gestão antecipou R$ 28 milhões da cota do Paulistão 2024. Mesmo com a antecipação, ainda foi preciso buscar um aporte de R$ 18 milhões via funding para zerar as contas.
Andres Rueda alega que optou por não vender qualquer ativo do clube, que a Binance havia prometido pagar a parcela em janeiro e que o clube ainda poderia ter receitas oriundas do acordo com a LIBRA.
A defesa de Andres Rueda ainda alega que o Conselho Fiscal fez uma “ginástica de raciocínio totalmente equivocada” por incluir aquisição de atletas e seus respectivos salários como comprometimento de receita. O documento do ex-dirigente alega que aquisição de atleta é um ativo, não uma despesa.
Rueda ainda ataca o relatório do Conselho Fiscal: “Que os torcedores comuns não tenham ciência que o patrimônio líquido do clube (passivo a descoberto) no início da gestão anterior era de R$ 464 milhões é compreensível, já o Conselho Fiscal não tem esse direito”.
Por fim, o documento alega que, com o superavit nos últimos três anos totalizando R$ 62 milhões, o passivo foi reduzido para R$ 403 milhões. Andres Rueda ainda dá conselho para os próximos presidentes.
“Sem ironias, serão necessários 20 anos de gestões responsáveis para talvez zerar o passivo do clube. Então, o dirigente que assume sabe que terá de escolher quem pagar, quando e como pagar. Priorizar é a palavra! Não vai se conseguir a curto prazo pagar a todos e virão possivelmente novos transferbans ou atrasos de impostos e atrasos de salários. Pode-se quando muito alongar os compromissos. Não há mágica”, encerra o documento.
POSICIONAMENTO DO CONSELHO FISCAL
O novo relatório cita que, apesar da antecipação de receitas e do aporte do funding, o pagamento de férias de dezembro e de imposto de renda de novembro e dezembro de alguns funcionários não foi efetuado.
O parecer aponta que o aumento de gastos sem planejamento de 2023 comprometeu em 30% as receitas de 2024, “gerando um resultado negativo ao planejamento financeiro do clube”.
O QUE PODE ACONTECER?
Os conselheiros do Santos devem seguir a sugestão do Conselho Fiscal e, novamente, reprovar as contas do ex-dirigente.
A partir daí, o ex-presidente e seus dirigentes passam a ter o caso analisado pela comissão de inquérito e sindicância do Peixe.
Estatutariamente as punições por reprovação de contas por gestão temerária vão desde suspensão, ilegibilidade e expulsão do quadro associativo.
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