Lais Souza quer esporte paralímpico para voltar a andar
Ex-ginasta ficou tetraplégica quando treinava para disputa dos Jogos Olímpicos de Inverno
Olimpíadas|André Avelar, do R7

Mesmo em processo de recuperação da lesão que a deixou tetraplégica, Lais Souza já fala timidamente em voltar a competir. A ex-ginasta desconhece qual esporte poderá praticar, mas não esconde que o desafio faz parte de sua vida e insinua uma participação em modalidades paralímpicas. A reabilitação já para Rio 2016 não parece ser um sonho tão distante.
Lais admite, no entanto, que voltar a andar será sua medalha de ouro e o esporte pode ser um catalisador para esse objetivo. Com calma e serenidade depois de viver um turbilhão em pouco mais de um ano, a ex-ginasta, que recentemente experimentou o surfe adaptado, só espera se apaixonar por sua futura escolha. Segundo ela, trata-se de uma questão da adaptação dela com a modalidade.
“São muitas as adaptações, ainda estou passando por muita coisa, estou melhorando minha saúde para encarar tudo isso e aí sim escolher uma coisa para fazer. Mas eu queria, sim, encontrar um esporte e vestir esse blusão amarelo”, disse Lais, olhando para o uniforme dos atletas paralímpicos, em um evento em São Paulo para anunciar a parceria da Ernst Young com o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro). “Encontrar um esporte, encontrar alguma coisa que eu ame novamente só vai ser mais uma porta para encarar de novo.”
A atleta sofreu o acidente em um treinamento em Salt Lake, nos Estados Unidos, dias antes da inédita participação em Sochi 2014. Lais teve uma lesão entre a terceira e a quarta vértebras, que esmagou a medula e a deixou sem os movimentos e sensibilidades do pescoço para baixo. Aos 26 anos, esteve entre a vida e a morte e passou quase um ano por tratamentos em hospitais nos Estados Unidos.
Portas abertas
A comunidade paralímpica recebeu com entusiasmo o por enquanto apenas embrião de um projeto para receber Lais. O CPB garante que todo o apoio será dado para que a ex-ginasta encontro primeiramente seu esporte pela simples prática de uma atividade física. A questão do alto-rendimento, como o que a levou para Atenas 2004 e Pequim 2008, seria pensada em uma próxima etapa.
Presidente da CPB, Andrew Parsons é cauteloso ao apontar a possível participação da atleta em Jogos Paralímpicos e acredita que o esporte faz falta na vida de quem sempre foi atleta. A bocha poderia ser, por exemplo, um dos esportes em que Lais poderia se encaixar com o acompanhamento de todo seu corpo médico.
“A descoberta de um esporte é por gosto, aptidão... Como no convencional. Depende dos seus objetivos. Você pode gostar muito de jogar basquete, mas não ser bom em basquete. No esporte paralímpico, o que acontece muitas vezes, é que o processo de reabilitação leva para uma modalidade específica. Muita gente começa na natação ou no atletismo e depois temos alguns trabalhos em que trazemos treinadores de outas modalidades para observar talento”, disse Parsons.
Dono de 13 medalhas paralímpicas (seis de ouro, cinco de prata e duas de bronze), Clodoaldo Silva se mostra empolgado com o ingresso de Lais. O nadador, que descobriu a natação em 1996 como processo de reabilitação depois de sucessivas cirurgias devido a uma paralisia cerebral durante o parto, é a própria tradução da superação.
“A Lais foi uma grande ginasta, que participou de Olimpíadas e o que aconteceu com ela foi muito triste, mas ao mesmo tempo fico muito feliz por ver a evolução dela. Ela passa uma alegria, uma vontade de viver muito grande nos olhos. Isso até para nós com deficiência nos dá uma lição de vida. A Lais é esse exemplo de vontade de viver”, disse Clodoaldo.
Na próxima quinta-feira (18), Lais volta para os Estados Unidos para dar sequência ao tratamento com células-tronco. A tatuagem no punho direito, feita no fim do ano passado, complementa os anéis olímpicos na panturrilha direita. Lais espera agora que o cadeirante recomece a andar e reencontre o esporte.
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