Herdeiros do cavalo mais famoso do Brasil mantêm tradição vencedora
Baloubet du Rouet tem 96 filhos em atividade no hipismo nacional
Olimpíadas|André Avelar, do R7

Cavalo mais famoso do Brasil, Baloubet du Rouet morreu de causa natural há pouco mais de um mês. Nem por isso o legado da extensão do corpo do cavaleiro Rodrigo Pessoa ficou perdido no tempo com a refugada em Sydney 2000 ou na curta memória com o ouro tardio de Atenas 2004. O garanhão tem pelo menos 96 filhos registrados no País e até hoje mantêm a tradição vencedora.
Hipismo pode ter time com atletas de países diferentes em Tóquio 2020
Dois filhos do prestigiado cavalo participam a partir desta quarta-feira (20) do Concurso Indoor de Salto da Sociedade Hípica Paulista, na zona sul de São Paulo. LF Balourdac e Sharapova, de 14 a 15 anos respectivamente, são resultados de alguns dos vários cruzamentos que geraram herdeiros também vencedores e de valores perto do inimaginável.
Sharapova, nome em homenagem à tenista russa Maria, é a montaria de Francisco Musa. O cavaleiro conta que de nada adianta ter na rédea um animal de genética vencedora se não souber conduzir a carreira dele corretamente. Os cavaleiros sempre consideram que 70% do mérito em competições é do cavalo.
“Existem os diamantes, os cavalos que são naturalmente muito bons e você tem que saber lapidar o diamante e fazer dele um cavalo de alto nível. O cavaleiro tem que saber trabalhar da melhor maneira possível as qualidades para o cavalo aprender e chegar nesse alto nível. Sempre vemos muitos cavalos espetaculares que caírem em mãos erradas e os cavalos não viram ganhadores”, disse Musa, que se orgulha do seu cavalo nascido e criado por aqui, de formação BH (brasileiro de hipismo de saltos).
O uruguaio, de “coração brasileiro”, como gosta de dizer, Marcelo Chirico é quem monta LF Baloudarc, também de grande sucesso no ranking, como a mesma linhagem sanguínea. Em atividade no circuito europeu, são 200 filhos do craque e reprodutor, tricampeão da Copa do Mundo e medalha de ouro depois da confirmação do doping do conjunto irlandês Waterford Cristal/Cian O'Connor.

Apesar do registro brasileiro, Baloubet nunca visitou o Brasil nos 12 anos que representou o País em competições pelo mundo. Mais do que uma questão de patriotismo, há inúmeras dificuldades e seguranças sanitárias para transportar os cavalos. Para se ter uma ideia, até mesmo a competição olímpica na Rio 2016 esteve ameaçada.
Presidente da Confederação Brasileira de Hipismo no ciclo olímpico até Tóquio 2020, Ronaldo Bittencourt Filho lembra que é preciso diferenciar as licenças dos animais de competição para os de uso comum no dia-a-dia. Mais do que isso, a criação nacional para as competições deve ser bem cuidada já que é mais fácil (e infinitamente mais barato) criar e trabalhar um cavalo desde potro do que comprar um animal em tese vencedor e colocar em competições.
“O Baloubet foi um cavalo-atleta com um destaque tão grande que acabaram as maiores matrizes do mundo usando também o sangue Baloubet”, disse Bittencourt. “Hoje, quem tem um cavalo vitorioso não quer abrir mão dele. Então, imagine o custo incalculável para comprar esse cavalo de um criador.”
No meio do hipismo, estima-se que um cavalo já pronto para saltos possa custar de R$ 5 a 15 milhões. E há compradores para isso. Os próprios norte-americanos e agora os japoneses, anfitriões dos próximos Jogos Olímpicos, não têm o hábito de criar cavalos de alto nível técnico. Em geral, os cavalos começam a competir aos 4 anos, passam para competições de grande porte aos 9, são aposentados aos 18 e morrem perto dos 30. Baloubet morreu aos 28.