Gesto dos Panteras Negras resiste meio século após México 1968
Tommie Smith e John Carlos clamaram no pódio dos Jogos Olímpicos igualdade de direitos civis em protesto contra preconceito racial nos EUA
Olimpíadas|André Avelar, do R7
Cabeça baixa, luva na cor preta, punho cerrado e mão para o alto em pleno pódio dos Jogos Olímpicos. A terça-feira guarda a resistência ao tempo de um gesto que marcou a história do esporte. Tommie Smith e John Carlos eternizaram o movimento dos Panteras Negras em um 16 de outubro, no México 1968.
Os dois atletas norte-americanos haviam acabado de conquistar respectivamente as medalhas de ouro e de bronze nos 200 metros do atletismo das Olimpíadas na Cidade do México. A cerimônia de premiação nem tinha começado quando Smith e Carlos chegaram com cara de não-medalhistas, meias pretas e as mãos escondidas.
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O hino nacional norte-americano começou a tocar e as mãos então foram erguidas para o mundo todo ver. Não apenas um gesto pura e simplesmente, mas um clamor na luta pela igualdade de direitos civis, em protesto contra o preconceito racial em um Estados Unidos em ebulição. O gesto do grupo que lutava contra a segregação racial colocou ainda mais combustível na questão.
"As pessoas enxergam o gesto como sacrifício. Vejo como responsabilidade", disse Smith, hoje com 74 anos, em entrevista a jornais americanos. “De que lado da história você está?”, questiona o site oficial de Carlos, um ano mais novo que o amigo e colega de treino.
A atitude, classificada como ‘controversa’ para os nem tão exaltados, provocou uma rápida reação do COI (Comitê Olímpico Internacional), que até hoje rejeita manifestações políticas em seus eventos. Os dois atletas foram expulsos das Olimpíadas, afastados da confederação americana e tiveram a carreira praticamente abandonada por uma parcela branca da população.
Smith havia vencido a prova com direito ao novo recorde mundial da prova (19s83), seguido por Peter Norman que, na hora pouca gente notou, mas também apoiou o movimento. O australiano carregava no peito um broche com a inscrição “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos”.
Pantera Negra de hoje
As Olimpíadas passaram, o gesto ficou eternizado, mas a questão racial ainda não foi solucionada. O quarterback Colin Kaepernick, então um dos principais jogadores do San Francisco 49ers, decidiu comprar a mesma briga de 50 anos atrás. E pagou caro por suas escolhas.
Na temporada de 2016, o atleta decidiu, assim como Smith e Carlos, aproveitar a visibilidade do esporte para a manifestação política. Durante a execução do hino americano, antes de uma partida da NFL, Kaepernick se ajoelhou em sinal de luto — homens negros estavam sendo mortos pela polícia em diversos protestos pelo país.
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O protesto o colocou como Pantera Negra dos dias de hoje, mas também gerou infinitas críticas em um país que tanto se orgulha da sua bandeira. De repente, o jogador se viu em uma guerra contra o próprio time, contra os demais times de futebol americano, opinião pública, imprensa e até Donald Trump. Resultado? Não jogou mais desde então.
"O problema de se ajoelhar nada tem a ver com raça. É sobre o respeito ao nosso país, bandeira e hino nacional. A NFL tem que respeitar isso", escreveu o presidente, antes de dizer em um programa de TV que Kaepernick deveria "procurar um país que lhe agradasse mais".
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Kaepernick pontuou na época que “há muito racismo neste país disfarçado de patriotismo”. Ganhou o apoio de Carlos em um país que, segundo estudos, mata oito vezes mais negros em relação a brancos.
“É preciso chamar a atenção da sociedade, para eles serem capazes de determinar por que existe esse negócio chamado racismo, violência e preconceito. E enterrar tudo isso de uma vez”, comentou Carlos.
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Além dos Panteras Negras: Jogos Olímpicos sempre foram vitrine para a política