Ex-dependente químico, brasileiro planeja atravessar o Canal da Mancha aos 47 anos

Ele não é atleta olímpico e nem tem o sonho de rivalizar com Cesar Cielo como o maior nome da natação brasileira. Mas quem disse que as metas de dominar o mundo são as únicas que importam? Visando pura e simplesmente sua superação pessoal, Marcelo Teixeira quer coroar sua recuperação de 20 anos de dependência química com a travessia a nado do Canal da Mancha, braço de mar que separa a Inglaterra da França.

O desafio está marcado para setembro, quando o brasileiro terá 47 anos. Ao todo, ele estima que ficará 12 horas nadando, acompanhado de um barco cedido por uma associação que promove a travessia, além de águas vivas, navios cargueiros e, possivelmente, baleias. Boa parte deste período provavelmente se passará no escuro, pois em geral as largadas acontecem durante a noite.

Limpo das drogas há 13 anos, ele diz que foi justamente a compulsão que quase acabou com sua vida que o levou a tamanho desafio:

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— A natação me impulsionou a sair das drogas e aquela compulsão de quem é dependente químico me fez começar a querer treinar muito. Nesses anos todos, fui fazendo outras travessias longas no Brasil para evoluir no trajeto e realizar meu sonho, que era percorrer o Canal da Mancha.

Para bancar os gastos de mais de R$ 22 mil somente com despesas diretas, Marcelo conta com a ajuda de dois patrocinadores (Academia Planet Sport e a marca de roupas infantis Atelier des Enfants) e também com o salário do emprego que mantém como gerente de vendas.

Por conta do trabalho, aliás, ele só consegue treinar no começo da manhã e no fim do dia, muitas vezes na piscina do próprio prédio em que vive. O próprio atleta admite:

— É uma coisa pra louco

Aulas de musculação e alongamento também são necessárias. Todo o treinamento é supervisionado pelo técnico Igor de Souza, uma das cinco pessoas no mundo a já ter travessado o Canal da Mancha nos dois sentidos:

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— O cara é um monstro de técnico. Ele fala que metade do desafio da travessia é físico e a outra metade é psicológico. E o treino psicológico dele é pior que o Capitão Nascimento, linha duríssima. Se chorar, a série dobra.

Não bastasse tudo isso, Marcelo também tem outro desafio: engordar enquanto intensifica ainda mais os treinos. Desde que começou a se dedicar pra valer à meta de atravessar o Canal da Mancha, em fevereiro de 2013, ele já ganhou oito quilos e pretende engordar mais três até setembro. O nadador explica:

— Estava com 76 kg, 13% de gordura no corpo, então ia morrer de frio lá. Faço trabalho para ganhar uma capa de gordura que proteja meus órgãos vitais e eu sobreviva.

Se vai dar certo, Marcelo ainda não sabe, mas ele já se sente um vencedor:

— Por que um desafio tão difícil? Porque aprendi que, quanto maior o desafio, maior o tempo de recuperação. Meu ganho está aí: no foco de me manter limpo, de ter uma vida saudável, conhecer pessoas legais... O caminho é tão maravilhoso que a tendência de eu chegar na França é grande, mas o ganho da caminhada é maior ainda