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Campeã surda fala sobre superação no esporte: 'Meu mundo é visual'

Aos 16 anos, Geisa de Oliveira disputa competições regulares e compõe a seleção brasileira de badminton, tendo vencido dois Sul-Americanos

Olimpíadas|Eugenio Goussinsky, do R7

Geisa é campeã no badminton
Geisa é campeã no badminton Geisa é campeã no badminton

Enquanto a bola de lã flutua no ar, a jovem Geisa Oliveira, 16 anos, assiste atenta aos movimentos leves, do objeto que parece uma peteca, aguardando uma surpresa. Como na vida, às vezes eles traem, e a bola cai sorrateiramente, enganando o praticante de badminton.

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Atleta disputou competição na Turquia
Atleta disputou competição na Turquia Atleta disputou competição na Turquia

A diferença, muitas vezes vantagem, é que ela faz isso imersa em um silêncio, que transforma sua surdez na melhor forma de ouvir. Vendo, sentindo. Surda de nascença, Geisa, que também não fala, utilizou o esporte como algo que a ajudou a superar adversidades. E os adversários.

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Ela se tornou campeã da modalidade, jogando em competições de ouvintes, assim chamados sob o ponto de vista de quem não pode ouvir. Ela se comunica por meio da linguagem de libras, gestual.

Pela seleção brasileira juvenil, Geisa venceu o Sul-Americano por equipes, em 2015 e 2016, ficando com a prata, em duplas, em 2017.

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"A dificuldade que tenho é por não ouvir a batida da peteca e os ouvintes acabam tendo mais facilidade, mas nada que não possa superar visualizando... Meu mundo é visua!!!"

As três exclamações indicam entusiasmo. E quem confirma isso é a própria Francisca, sempre ao lado da filha. Além do papel de intérprete, muitas vezes ela dá instruções como se fosse a técnica.

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"Fazer o quê? Não tem jeito, às vezes a gente não aguenta e fala. Mas o pessoal já está acostumado, sei que não posso exagerar."

O treinador da seleção brasileira, Manoel Mori, passou a entender melhor a linguagem de libras. Ele também é o presidente da Federação de Badminton do Estado de São Paulo.

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E, quando há maior dificuldade de comunicação, às vezes com árbitros, Francisca faz o papel de intérprete.

Autoestima

A mãe conta que a menina, de 1m45 e 47 kg, nem quis fazer exame para realizar um implante, que poderia resolver a falta de audição.

"Ela se aceita como é. Sempre foi decidida. Não se adaptou a aparelhos e me disse: 'Gosto de ser como sou. Amo a linguagem de libras. Não quero falar. Estou bem."

Vinda de Várzea Alegre, no interior do Ceará, ao lado do ex-marido, Gilberto Gil de Oliveira, Francisca se estabeleceu em São Bernardo do Campo (SP), onde Geisa nasceu em 2003.

Os dois avós da menina eram surdos, o que fez a família se preparar. Geisa encara a disputa com quem não é surdo como um desafio, e, ao mesmo tempo, uma integração de mundos. A forma dela de descrever o que acontece no contato entre qualquer pessoa.

"O badminton na minha vida é tudo. Gosto de competir e me sentir incluída."

Nem sempre, no entanto, houve plena aceitação. Francisca conta que a filha já se deparou com algumas situações de preconceito, mas que, assim como aprendeu no badminton, soube superar. Com uma simbólica raquetada.

"Em geral ela é muito bem recebida, mas quando houve alguma situação de preconceito, ela soube tirar de letra, ignorou e prosseguiu em seus objetivos."

Novas descobertas

Tendo começado no esporte aos 7 anos, quando lhe apresentaram a modalidade na Emebe (Escola Municipal de Educação Básica Especial) Neusa Bassetto, em São Bernardo, Geisa, até os 15 anos, só disputava competições com ouvintes.

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A partir dos 15 anos, atuando pelo SBB (São Bernardo Badminton), passou também a participar de campeonatos entre surdos.

Geisa já atuou na Surdolímpiadas 2017, na Turquia. Ela também se classificou para o Mundial de badminton 2019, em Taipei, somente com a participação de surdos. Mas, segundo Francisca, a falta de verba pode impedir a ida da atleta.

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"Ela está muito ansiosa para ir, mas não sei se haverá condição financeira. Está difícil, não sei se eu conseguirei acompanhá-la, e a participação ainda está em aberto."

Francisca sempre acompanhou de perto a carreira da filha. Aprendeu na prática, mas se interessou tanto pelo esporte que fez um curso e hoje atua como árbitra da modalidade, em competições da federação.

A nova profissão veio para complementar a sua remuneração como diarista. "Essa atividade da minha filha, acabou também abrindo caminho para eu encontrar uma nova oportunidade."

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