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Atleta supera assalto e sonha em disputar Paralimpíada no golfe

Depois de levar tiro nas costas entregando pizza, paulista Lucas Oliveira é atual 2º do ranking estadual e já disputou competições no exterior

Olimpíadas|Eugenio Goussinsky, do R7

Lucas Oliveira é um dos melhores do ranking estadual
Lucas Oliveira é um dos melhores do ranking estadual

O som dos tiros faz parte do passado. Enquanto atravessa a cidade de São Paulo, de metrô, Lucas Valde Marciano de Oliveira, transforma, a cada dia, o trauma em esperança. Aos 33 anos, ele se apega nesta nova fase, de jogador de golfe paralímpico, para cada vez mais acreditar na vida, 14 anos depois do assalto que o deixou paraplégico.

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Lucas Oliveira se encontrou no Esporte após viver um drama
Lucas Oliveira se encontrou no Esporte após viver um drama

Quando criança, nas brincadeiras em Santana de Parnaíba (SP), ele sonhava em ser jogador de futebol. Em vez disso acabou se direcionando para as necessidades imediatas e trabalhou desde criança, indo morar na casa de amigos, que se tornaram uma espécie de pais adotivos.

Ele disputa torneios internacionais
Ele disputa torneios internacionais

Depois de trabalhar em supermercado, em telemarketing e outras atividades, descobriu o golfe por curiosidade. E evoluiu de maneira impressionante. É, atualmente, o segundo do ranking paulista, já tendo disputado competições no exterior. Em uma na Espanha, foi o oitavo entre 42 participantes.


"Moro em Osasco e, quando ia para o trabalho, no caminho eu via alguns campos de golfe, que me deixavam curioso. 'O que será que faziam ali?', me perguntava. Um dia resolvi ir lá para saber e um instrutor me deu o endereço da Federação Paulista. Desde então não deixei mais o esporte."

O "desde então" de Oliveira refere-se a apenas três anos atrás. Esse pouco tempo foi suficiente para descobrir esse universo que estava adormecido dentro dele. Foi algo que surgiu de forma rápida, mas que se desenvolveu com consistência. Ele treina quatro horas por dia no São Paulo Golfe Clube, que o acolheu e abriu portas para que conhecesse melhor o mundo.


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"O esporte me ajudou fisica e mentalmente. Me faz bem, sinto uma paz dentro de mim. Me sinto concentrado, seguro e isso me ajuda inclusive a solucionar os problemas comuns do dia a dia."


Golfe paralímpico

Atualmente, há cerca de 20 jogadores de golfe paralímpico no Brasil. Mas Oliveira está incluído em um grupo ainda mais restrito. Ele é um dos quatro que têm uma cadeira especialmente adaptada para o esporte.

Foi durante uma competição na Espanha que Oliveira ganhou o equipamento. Há um dispositivo que faz o encosto subir para que o jogador possa se posicionar melhor para a tacada. O equipamento custa cerca de R$ 60 mil, segundo ele. 

"O dono de uma empresa especializada alemã me presenteou, após conhecer o trabalho e a história dele. Tem me ajudado, agora estou em busca de novos patrocínios. Um, da Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim - ligado à Saúde da mulher), eu já consegui. Quero disputar a Paralimpíada de 2024, na qual o golfe já deverá estar incluído."

Nascido na Bahia, Oliveira foi com menos de três anos morar em Santana de Parnaíba com os pais e irmãos. O assalto ocorreu quando ele era entregador de pizza na cidade paulista. Os assaltantes o abordaram durante uma entrega, ele acelerou a moto e foi atingido nas costas. Quem mais o ajudou foi a sua esposa Kelly, 42 anos, com quem namorava há apenas três meses.

"Nos primeiros dias em que não podia sentir minhas pernas a angústia foi enorme. Depois de quatro, cinco meses, eu fui enxergando um novo mundo, com a ajuda da minha esposa e de seus filhos, Caíque e Larissa. Comecei a pensar que o fato de usar cadeira de rodas não era motivo de eu parar minha vida. Limitações todos têm. É fundamental que um cadeirante não se sinta um inválido, que tenha o estímulo de ir sempre atrás de seus objetivos."

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Prazer no esporte

A mudança para Osasco ocorreu pela necessidade de estar mais perto de tratamento médico adequado. Beneficiário de um programa habitacional, ele não paga aluguel. Mas as coisas ainda estão difíceis.

O único carro é usado pela mulher, para trabalhar na barraca de cachorro-quente que eles mantêm. De Santana de Parnaíba, ele ainda tem contato com familiares, principalmente com a mãe. Mas seu olhar agora vai mais além. Já aceitou o convite para disputar um torneio nos Estados Unidos. E o atleta não mostra nenhuma apreensão.

"Gosto demais de jogar golfe. Não sei como explicar, só sei que peguei a técnica de forma muito rápida. Não é só pegar o taco e bater na bola. É necessário muito mais: concentração, relaxamento. E tudo isso me faz bem."

Oliveira se esquece do mundo quando percorre o campo, subindo pelos morrinhos, contornando lagos e curtindo o silêncio campestre.

"Tenho para mim que ainda vou longe neste esporte. Encontrei algo sensacional e agora quero servir de inspiração para que as pessoas entendam a importância de lutar sempre, não desistir."

Mesmo não se concretizando o desejo infantil de ser jogador de futebol, ele se realizou em outro esporte. O sonho só mudou de endereço. E mostrou que, muitas vezes, é simplesmente o lado bom da realidade.

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