Treinador da academia líder de atletas no UFC revela maior deficiência do MMA brasileiro
Ricardo Libório mora nos EUA desde 2001, onde comanda os treinos da ATT
Mais Esportes|Diego Ribas, do R7

Os lutadores brasileiros inventaram o MMA e, por anos, dominaram o esporte. Tanto que, em uma época não muito distante, as equipes nacionais Chute Boxe e Brazilian Top Team disputavam cabeça a cabeça o posto de maior academia do mundo e reinavam soberanas no Pride, então maior torneio de lutas do mundo.
Mas de lá para cá muita coisa mudou e os dois times em questão perderam força e representantes de expressão, processo que acompanhou a perda gradativa de cinturões do Brasil nas artes marciais mistas nos últimos anos.
Conhecedor como poucos do esporte que ajudou a construir, Ricardo Liborio, faixa preta de jiu-jitsu de Carlson Gracie e um dos criados de BTT, mora há 13 anos nos EUA onde lidera a academia America Top Team, recordista em número de atletas no UFC.
Em conversa com a reportagem do R7 em sua última passagem pelo Brasil, Libório revelou o que acredita ser o ponto fraco deste esporte no Brasil, como solucionar o problema e qual sua expectativa para, finalmente, conquistar um cinturão do UFC para a ATT.
R7 – Liborio, há quantos anos você está à frente da ATT e qual a sua avaliação sobre a equipe?
Liborio – Eu cheguei na América em 2001, já vai fazer 13 anos. Começamos pequenos, numa academia minúscula com 36 alunos. Vim a convite para passar seis meses, mas percebi que era uma grande oportunidade e decidi vender minha parte da BTT e ficar de vez. Sou sócio da ATT desde então.
R7 – Embora a equipe seja bem grande atualmente, ela nunca conquistou um título do UFC. O que falta para isso?
Liborio – É uma questão de acertar mesmo a mão. Existem campeões que vem de equipes pequenas. Nós somos as que mais te4m atletas no UFC, são mais de 20, fora os que competem no Bellator, onde temos três campeões. A ATT se tornou uma monstruosidade. As vezes é até uma questão de sorte, de chegar o momento certo. Tem que ter tempo e trabalho, não desistir. Treinar certo, não machucar, principalmente perto da luta, e aprender sempre.
R7 – O Glover pode se tornar o primeiro campeão do time...
Liborio - Tomara que ele seja. É um cara maravilhoso, que merece muito. Na minha idade, me dei ao luxo de botar a capacidade pessoal do lutador, o quanto elas podem ajudar e influenciar, em primeiro lugar. E o Glover é um deles. Fico satisfeito, ele é muito positivo. O Glover tem capacidade e caráter, e eu admiro isso. Tecnicamente, nem se fala. Ele é um faixa preta de jiu-jitsu, tem um wrestling muito bom, bate forte e treina em alto nível com qualquer um.
R7 – Você concorda que o Brasil pode ficar para trás no MMA nos próximos anos?
Liborio – Olha, a cultura do wrestling no Brasil ainda é primitiva. Temos jiu-jitsu e striking em alto nível. Mas o wrestling está começando agora. Tem um trabalho muito bem feito pelo Gama Filho e pelo Beto Leitão, mas não é o suficiente para o País. Até temos o projeto de ajudar e levar pessoas para treinar lá com a gente.
R7 – Como fazer, para solucionar isso?
Liborio - Acho que tem muita cosa que pode ser feita. O Brasil esta a frente em tanta coisa, principalmente no jiu-jitsu, além da cultura do MMA que surgiu no País. O negocio é fazer intercâmbio e criar raízes, fazer mais campeonatos... O MMA hoje é diferente de cinco anos atrás, e daqui dez anos vai ser ainda mais. A quantidade de atletas sempre vai ser grande no Brasil, acho que o ideal é fazer mais intercâmbio, e eu estou aqui para ajudar, sempre de portas abertas.
R7 – Por falar nisso, a ATT chama a atenção por ter atletas de vários países.
Liborio – Sim, contamos com lutadores de 37 países que já passaram pela ATT. É muita gente de alto nível. Temos uma relação muito boa com a prefeita da cidade. Com o nosso trabalho bem feito, ajudamos muito a divulgar a cidade, que é bem pequena e desconhecida aqui no estado da Florida. Então, nós somos os notáveis da cidade. A economia do local mudou muito por causa disso, e eles reconhecem.
R7 – Você foi um dos fundadores da BTT e hoje é sócio da ATT. Como você explica a diferença no cenário do MMA entre elas hoje em dia?
Liborio - Estar nos EUA nos ajuda, com certeza. A situação econômica é diferente. Quando comecei os estudos sobre como fazer a ATT ser bem sucedida, fiz atá curso de pedagogia nos EUA. Foram dez anos de estudo e pesquisa. Investimos muito no trabalho com crianças e em marketing. Não tem mistério, tem que trabalhar a estrutura de aula. Hoje, temos muitas pessoas trabalhando e vivendo em função da ATT, foram criadas varias famílias em torno do time. A grande diferença no trabalho é que o nosso business não é o atleta profissional. Temos 450 alunos, além de 100 crianças nas creches. Isso faz a nossa diferença.
R7 – Você vê diferença de trabalho com alguma nacionalidade de atleta?
Liborio - A questão gira em torno da qualidade do profissional e da personalidade individual de cada um deles. Admiro os brasileiros que estão conseguindo se sobressair, pois não é fácil. Nos EUA você tem muito mais opções, oportunidades e patrocínios. Brasileiro é guerreiro, está sempre na busca. Quando o cara é campeão, fica fácil, mas o difícil é trabalhar a base. Não é uma questão de país, mas de personalidade. Eu, por exemplo, não trabalho com campeão se ele for mau caráter. Essa não é a filosofia da ATT.
R7 – Você trabalhou com o Thiago Silva por anos na ATT. Como você viu a prisão dele?
Liborio - Ele sempre teve problemas psicológicos. Mas quando não tem nada de bom para falar de alguém, prefiro não comentar [risos]. Na verdade, ele vacilou e está sofrendo as consequências. Tomara que ele saia bem dessa e aprenda.
R7 – Para terminar, alguns lutadores da sua época do jiu-jitsu estão participando de competições de veteranos. Você pretende realizar algum combate?
Liborio – Sem dúvida, é uma ideia que me agrada. Mas eu tenho que ficar saudável antes de tudo. Tenho sete hérnias de disco. Estou tentando melhorar e fazer tratamentos, porque isso vai mudar muito minha vida. Preciso tirar o stress. Toda vez que eu treinava, três dias depois eu não conseguia andar direito.