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BRASILEIRO 2022

Por R$ 30, várzea e futebol society pagam para 'alugar' um goleiro nas partidas

Mais Esportes|Do R7

Não é à toa que o site Goleiro de Aluguel ganhou o apelido de Uber dos goleiros. Mais ou menos como o aplicativo que aproxima condutores e usuários de veículos, o site faz sucesso com a oferta e procura de goleiros no futebol amador. As equipes divulgam os dados do jogo no site da empresa, que procura os interessados pelo Whatsapp. O primeiro a responder é convocado. O goleiro alugado recebe R$ 30, independentemente dos eventuais frangos, fica com R$ 18 e repassa R$ 12 para a empresa.

Marcos Silva encontrou no site uma maneira de aumentar a sua renda mensal. Além de fazer bicos na área de segurança e revender materiais esportivos na internet, o goleiro de 31 anos joga de segunda-feira a domingo no Goleiro de Aluguel e nos clubes de São Caetano do Sul e do bairro Ipiranga. Ele é remunerado em todos os jogos, sempre na média de R$ 30 a 45 por partida, e ainda conta com uma espécie de caixinha quando joga bem. "Quando a gente joga bem, defende pênalti, por exemplo, sempre tem um agrado a mais", disse.

A reportagem do jornal O Estado de S.Paulo o encontrou na última sexta-feira no Parque São Jorge. Com o uniforme do site - a cor roxa foi escolhida para impedir a associação com qualquer clube -, Marcos usa os ganhos para investir em suas próprias ferramentas de trabalho - ele reclama que uma luva boa custa cerca de R$ 500 e um par de chuteiras, R$ 200. Com o que sobra, ele ajuda o orçamento doméstico - ele mora em São Mateus, na zona leste de São Paulo, com a mãe e o irmão. Tudo atrás de um sonho. "Acredito no milagre de ser profissional. Eu pago as minhas contas e vou atrás do meu sonho".

A questão financeira ficou em segundo plano para o paranaense André Negrello. Ele colocou na cabeça que ia bater o recorde de jogos por mês para provar que estava recuperado de um corte grave no braço direito. Chegar aos 42 jogos no mês de maio - rendimento de R$ 742,00 - foi uma espécie de troféu particular. Assim como os prêmios que ganhou: luva profissional, uniforme com seu nome e uma garrafa térmica. "Fiquei três anos parado e encontrei uma motivação para voltar a jogar", disse o supervisor de vendas de uma autopeças.


O baiano Eliseu Mendes Silva, recém-formado como técnico de Edificações, está na outra ponta da estatística. Ele reclama que a oferta de jogos no interior da Bahia ainda é pequena. Até agora, o morador de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, só fez dois jogos. "Eu era perna de pau e só podia jogar no gol mesmo. Jogo com os amigos, mas queria ter mais partidas do Goleiro de Aluguel por aqui".

MUITO PRAZER - O primeiro jogo intermediado pelo site é sempre uma surpresa para contratantes e contratados. Teoricamente ninguém se conhece, eles não se falam diretamente até o jogo. Foi legal ver o primeiro contato, na hora em que Marcos chegou para jogar e se apresentou. "Prazer, eu sou o goleiro de aluguel de vocês", disse com a voz firme.


Alugar um goleiro não é totalmente um salto do escuro. Existe um ranking que avalia pontualidade, personalidade e técnica. "Personalidade" significa que o goleiro não pode xingar os companheiros nem arrumar confusão. O engenheiro civil Donael Ildo de Castro, um dos organizadores do jogo no Parque São Jorge, que reúne praticamente o mesmo grupo de amigos há oito anos, afirma que a técnica fica em segundo plano. "Nem é tão importante a qualidade do goleiro, aquele que pega tudo. O mais importante é que esteja presente", disse.

Essa preocupação de Donael está raiz do crescimento do negócio. A partir de pesquisas na Federação Paranaense e também de dados da CBF, os empreendedores Samuel Toado e Eugen Braun estimam que 70% dos jogos amadores não têm goleiros fixos. Por mês, o Brasil promove um milhão de jogos em quadras de aluguel.


Obviamente nem tudo vai às mil maravilhas. No mês de abril, a empresa foi bloqueada pelo Whatsapp por causa da quantidade de mensagens que enviava. É pelo aplicativo que a empresa busca os goleiros em cada região. Eugen Braun ainda guarda a mensagem de bloqueio como recordação.

Outro desafio é modernizar as operações financeiras. O pagamento do goleiro à empresa é feito na base da confiança. O próprio arqueiro é o responsável pelo repasse, por meio de depósito bancário, dos R$ 12 da empresa. Em quatro mil jogos realizados até agora, o calote gira em torno de 7%. Para contornar problemas como esse, será lançado em julho um aplicativo da própria empresa.

VOCAÇÃO - Com 15 partidas nos últimos meses, o contador Wenderson Ferreira exercita sua vocação. "Alguns nascem para ser professores. Eu nasci para ser goleiro", disse. Formado em Contabilidade fazendo pós-graduação, ele pretende aumentar a frequência nos campos nas férias de julho. "A gente não persegue a fama, o nosso reconhecimento é ser escolhido e chamado para a próxima partida. Eu jogo no gol, o que eu amo, e ainda recebo por isso. Tem coisa melhor?"

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