O que há por trás de Wimbledon? Grama cortada a laser, bolinhas geladas e flores milimétricas
São cultivadas 28 mil plantas por ano para o torneio, incluindo de 15 mil petúnias, além de hortênsias, lavandas e sálvias
Mais Esportes|Do R7

Wimbledon começa nesta segunda-feira (1º) em Londres. Além dos jogos, o torneio mantém tradições rigorosas que envolvem o cuidado com a grama, o controle das bolinhas e o cultivo de flores em grande escala. Detalhes que não aparecem nas transmissões, mas fazem parte da rotina do Grand Slam desde o século XIX.
A grama é o principal símbolo do torneio. Neil Stubley, chefe do setor de horticultura do All England Lawn Tennis and Croquet Club, supervisiona a manutenção de 88 quadras, incluindo as 18 oficiais, 34 para qualificatórias, 16 de treino e 20 de prática interna. A grama passa por testes diários, como medição da altura e do quique das bolinhas. A irrigação é ajustada de acordo com a firmeza do solo. Se estiver dura, recebe água. Se estiver mole, o processo é suspenso. Ao final do torneio, as áreas mais usadas perdem a coloração, mas a grama volta a crescer em poucas semanas.
A logística das bolinhas é controlada por Andy Chevalier, gerente de distribuição. Cada quadra recebe 21 latas com três bolas. Elas são trocadas a cada nove games. Caso uma bolinha se perca, o árbitro tem acesso a latas extras com bolas classificadas por tempo de uso: três, cinco ou sete games. Isso evita que uma bola nova entre em jogo com outras já desgastadas.
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A jardinagem também tem função estratégica. São cultivadas 28 mil plantas por ano, incluindo de 14 a 15 mil petúnias, além de hortênsias, lavandas, sálvias e outras espécies. Martyn Falconer, responsável pelo setor, destaca que as flores são posicionadas em cestos, jardineiras e floreiras suspensas em locais estratégicos. Desde 1970, elas fazem parte da paisagem do torneio. Uma escultura instalada no complexo, cercada de plantas, representa o momento de silêncio antes do saque dos tenistas.
Outra regra mantida é o uso obrigatório de roupas brancas. A exigência existe desde o século XIX, quando manchas de suor eram consideradas inapropriadas. O americano Andre Agassi chegou a boicotar o torneio entre 1988 e 1990 por não aceitar a regra. Voltou em 1992, ano em que foi campeão.
Os ingressos também seguem um modelo tradicional. Todos os dias, torcedores formam longas filas para tentar comprar entradas para os jogos. Não é possível garantir presença com antecedência, o que exige paciência de quem quer assistir às partidas presencialmente.
A presença da realeza britânica é outra marca do torneio. Um camarote com 74 lugares é reservado para membros da família real, autoridades e convidados.
Entre os profissionais envolvidos na rotina do torneio, há espaço até para animais treinados. Rufus, um falcão, sobrevoa o complexo diariamente para espantar pombos que possam interferir nas partidas.
Na parte de alimentação, a tradição mais conhecida é o consumo de morangos com creme. Os frutos são colhidos pela manhã e vendidos em porções de dez unidades. Desde 2010, o preço é mantido em 2,50 libras (R$ 19). Estima-se o consumo de 38 toneladas durante as duas semanas de competição. Também é comum o consumo do coquetel Pimm’s Cup, bebida com base de gim, limonada, frutas e pepino.
O torneio vai até o dia 13 de julho e conta com dois brasileiros: João Fonseca e Bia Haddad, que não terão vida fácil na estreia. O jovem carioca vai encarar o inglês Jacob Fearnley, 51º do ranking, enquanto a paulista terá pela frente a eslovaca Rebecca Sramkova, 36ª do mundo.