No litoral paulista, Rafael Bábby usa o basquete para inclusão social
Mais Esportes|Do R7
Um garoto entra no ginásio chorando. O pai havia sido preso. Uma menina de 9 anos chega ao treino acompanhada dos três irmãos porque precisa tomar conta deles enquanto a mãe trabalha. São histórias assim que fizeram Rafael Bábby Araújo, que abandou o basquete recentemente, entrar de cabeça no instituto que leva o seu nome.
O projeto nasceu em 2009, quando ele voltou ao Brasil para defender o Flamengo. Era um desejo antigo, mas só se materializou há três meses. A sede é uma pequena sala, no ginásio Dondinho, uma homenagem ao pai de Pelé, no bairro de Catiapoã, em São Vicente (SP), local cedido pela prefeitura. No ambiente, há uma máquina de lavar, um cesto com bolas, uniformes, uma mesa, duas cadeiras, um sofá... O tapete, peça que se destaca, Bábby trouxe do apartamento que mora em Santos, contrariando um pouco a mulher Vivian. Ela é parte ativa do projeto que busca atrair parceiros pela imagem do marido. O ex-pivô de 2,12 metros teve uma carreira sólida, atuou por Toronto Raptors, Utah Jazz e Minnesota Timberwolves, jogou na Rússia e por seis equipes brasileiras antes de se aposentar aos 35 anos, em 2014.
Em três meses, o Instituto Bábby já atende cerca de 70 jovens, entre 9 e 18 anos, sendo três meninas, de áreas carentes da região. "Diariamente recebemos mais garotos", se empolgou o ex-pivô. Na última terça-feira, quando a Agência Estado visitou o local, um garoto entrou se dizendo craque no futebol e logo dava os primeiros arremessos. O projeto é aberto para qualquer jovem, desde que ele se dedique dentro e fora de quadra. Todos precisam preencher uma ficha e levar para ser assinada pela diretoria da escola onde estudam. Sem nota boa, nada de bola. "O que cobro dos jovens é disciplina e um bom rendimento nos estudos", comentou Bábby.
Além do treinamento bastante intenso, ministrado por Bábby com tudo que ele aprendeu ao longo da carreira, principalmente nos Estados Unidos, quando estudou em duas universidades antes de entrar na NBA, o instituto oferece frutas e vitaminas, além de tratamento odontológico. Tudo com ajuda de parceiros informais. As vitaminas foram doadas por uma farmácia que ficou sabendo do projeto quando o ex-jogador foi ao local. As frutas são entregues pelo Supermercado Fiel Barateiro a cada 15 dias. A conversa foi utilizada para conseguir tinta mais barata para pintar a quadra e atrair interessados em bancar uniformes para os treinos e camisas do projeto. Até o preço do galão de água foi negociado por Bábby para evitar colocar mais dinheiro do próprio bolso.
A partir de janeiro, os garotos terão também transporte para ir e voltar dos treinos. Desta vez com ajuda da Ultragaz, que vai arcar com o custo de duas vans. A empresa de gás será responsável ainda pela confecção da mascote para utilização em promoções com futuros parceiros. A abelha foi o símbolo escolhido por representar o trabalho em equipe. Bábby só não conseguiu dinheiro para comprar pares de tênis para todos os jovens. "Quem sabe aparece algum interessado?", sonhou.
O cenário deve melhorar em 2016. O Instituto fechou um acordo nesta semana de quatro anos para criar um apêndice do projeto nas instalações da Unibr, faculdade de São Vicente. Lá os jovens terão aulas de judô, jiu-jítsu, basquete de cadeira de rodas e basquete 3x3. O parceiro vai oferecer bolsa de estudo. Em contrapartida, Bábby e Vivian vão desenvolver cursos com profissionais de fora do Brasil para o público em geral. "É um intercâmbio ao contrário. Também vamos oferecer estágios no Instituto", explicou Vivian.
A verba para viabilizar o segundo passo virá via Lei de Incentivo ao Esporte. Na última segunda-feira, Marcelo Rigotti, chefe de representação do Ministério do Esporte, visitou o local para conhecer o trabalho. O desejo de Bábby de usar o basquete para inclusão social está apenas engatinhando, mas o ex-jogador não vai desistir.