Por que temos flatulência quando estamos na altitude?
Praticar montanhismo em altitudes elevadas, faz com que organismo de qualquer pessoa passe por mudanças. Uma delas, pouco comentada por
Blog de Escalada|Do R7
Praticar montanhismo em altitudes elevadas, faz com que organismo de qualquer pessoa passe por mudanças. Uma delas, pouco comentada por motivos óbvios, é o aumento da flatulência. Para quem ainda não sabe, a flatulência tem origem nos gases que são ingeridos juntamente com a comida e acumulados durante o processo de digestão, na etapa de decomposição dos resíduos orgânicos dentro do intestino. Portanto, todos animais, incluindo os seres humanos, estão propensos a ter flatulência.
Porém, em locais com altitude elevada, a flatulência parece ser mais frequente do que o normal. O processo chamado de “expulsão flatulenta de altitude elevada”. Mas se você fez algum curso de exatas, pode chamar também de “lei de Boyle-Mariotte”. Pode parecer piada, mas não é, é um fato científico.
O agregador de blogs norte-americano The Huffington Post publicou um artigo a respeito do assunto, afirmando que turistas que visitam o Monte Kilimanjaro (5.895 m) liberam aproximadamente 75 metros cúbicos de gás intestinal no local todos os anos. O volume foi calculado estimando que cada uma das 25.000 pessoas que sobem o pico mais alto da África todos os anos, sofreram de “expulsão flatulenta de altitude elevada”.
Cientificamente falando, a flatulência aumenta por causa da diferença da pressão atmosférica a qual o corpo está acostumado. A HAFE (high-altitude flatus expulsion) foi descoberta pelos pesquisadores Dr. Paul Auerbach (Stanford University School of Medicine) e Dr. York Miller (University of Colorado School of Medicine). O interesse em um assunto tão sui generis tem uma justificativa: ambos os médicos são ativos e entusiasmados praticantes de trekking desde a juventude. Dr. Paul Auerbach é montanhista e o fundador da Wilderness Medical Society (instituto para treinamento, aconselhamento e orientação para o pessoal médico que trabalha em ambientes remotos e selvagens).
De acordo com a justificativa dos dois médicos, tudo começou durante um trekking que Auerbach e Miller realizaram nos anos 1980. Quando ambos estavam a uma altitude estimada de 3.400 metros, começaram a perceber que ambos tiveram um aumento considerável da flatulência. Após ficarem conversando sobre o assunto, conseguiram chegar a uma conclusão do que poderia ter provocado este aumento. Quando ambos voltaram para casa, a dupla enviou uma carta sobre a “descoberta” deles para o New England Journal of Medicine. Na carta, os médicos atribuíram o distúrbio à “expansão do gás do cólon à pressão atmosférica reduzida de alta altitude” ou a lei de Boyle-Mariotte .

A lei de Boyle-Mariotte estabelece que “em um sistema fechado em que a temperatura é mantida constante, verifica-se que determinada massa de gás ocupa um volume inversamente proporcional a sua pressão”. Isso significa que se dobrarmos a pressão exercida por um gás em um sistema fechado, o volume irá diminuir pela metade. O inverso também ocorre. Desta maneira, quando a pressão diminui (como em grandes altitudes) o volume do gás aumenta. Desta maneira, com o volume do gás aumentando dentro do corpo humano, o gás é expelido, ocasionando a flatulência.
Não satisfeitos, os dois médicos enviaram uma carta para o Western Journal of Medicine, atualmente extinto. Os editores do periódico acreditaram que seria interessante publicar o conteúdo, e o fez em 1981. O artigo foi amplamente lido e elogiado. O sucesso da “descoberta” originou até mesmo um filme intitulado “HAFE: The Story Behind” (assista no topo do artigo).