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BRASILEIRO 2022
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Amigos correm juntos para vaga da maratona dos Jogos Olímpicos de Paris

Conner Mantz e Clayton Young estudaram juntos na faculdade e, neste ano, vão realizar o sonho de disputar uma Olimpíada juntos

Mais Esportes|Talya Minsberg, do The New York Times


Conner Mantz e Clayton Young vão realizar o sonho de correr juntos em uma Olimpíada Russel Daniels/The New York Times

Os braços de Conner Mantz tremiam. Ele se preparava para as provas da maratona olímpica em Orlando, na Flórida, que foram disputadas em fevereiro.

Mantz, de 27 anos, da cidade de Provo, em Utah, olhou para o lado, onde estava seu melhor amigo, Clayton Young, se espreguiçando. Os dois homens correram juntos mais de 16 mil quilômetros. Competiram pelo mesmo prêmio em dinheiro, lutaram pelos mesmos lugares no pódio e criaram um vínculo tão forte que outros corredores gostariam de poder copiá-los. Apoiavam-se mutuamente durante as lesões no fim da temporada e se incentivavam durante as horas cansativas de treinamento.

A amizade os levou ao auge de sua carreira profissional como atletas corredores. Naquele dia, em Orlando, acreditavam que um havia levado o outro até a linha de partida. Agora, queriam se classificar juntos para correr a maratona dos Jogos Olímpicos de Paris. Tinham uma chance real: Mantz era o favorito para se classificar e Young era um forte candidato.

Se fizessem parte da equipe principal, os anos de trabalho monótono seriam recompensados com a oportunidade de representar seu país e com uma chance ainda melhor de proporcionar segurança financeira à família.

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Mas muita coisa poderia dar errado nas mais de duas horas necessárias para completar a corrida. Mantz e Young enfrentavam competidores muito fortes, incluindo o tetracampeão olímpico Galen Rupp e vários outros atletas que poderiam surpreendê-los.

Quando os corredores se juntaram na linha de largada, a temperatura era de 16 graus, com 65 por cento de umidade – o tipo de clima morno e abafado que torna uma corrida de 42 quilômetros ainda mais desafiadora. Young segurava um saco de gelo nas mãos na tentativa de manter a calma. Mantz e ele usavam chapéu branco e óculos escuros pretos; sacudiram os braços e as pernas nervosamente quando a contagem regressiva começou.

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Cerca de 200 homens se contorciam na largada. Era provável que apenas dois conseguissem uma vaga na equipe olímpica dos EUA. A sirene soou. Os dois amigos bateram os punhos e começaram a correr.

Um caminho paralelo para a corrida de elite

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Quando Mantz e Young se conheceram na Universidade Brigham Young, em 2017, já eram astros em ascensão na corrida de longa distância.

Young, hoje com 30 anos, começou a correr na quinta série graças a um programa chamado Mileage Club. Cada volta que dava no campo de futebol no recreio de sexta-feira o deixava mais perto de ganhar os singelos prêmios, como um chaveiro com pezinho de borracha. Foi também uma oportunidade para Young competir com um de seus amigos de infância, chamado Alex. Ele adorava a competição e as saídas com os amigos que os motivavam a percorrer mais quilômetros.

Aos 12 anos, Mantz decidiu que queria correr uma meia maratona depois de ver seu irmão mais velho e seu pai fazerem o mesmo. Quando seu pai começou a correr maratonas, Mantz anunciou à família que também correria os 42 quilômetros completos. (Depois de consultar os médicos, seus pais pisaram no freio, mas não o impediram de ingressar na equipe de cross-country.)

Tanto Mantz quanto Young encontravam alegria no esporte. Quando ingressaram nas equipes de atletismo e cross-country, no ensino médio, seu potencial já era óbvio. Os treinadores de outras universidades logo começaram a ligar para eles.

Young escolheu a Universidade Brigham Young, em parte porque o treinador favorecia o time em detrimento dos atletas famosos. Dois anos depois, Mantz chegou à mesma escola, atraído em parte pelo técnico Ed Eyestone, que já havia corrido duas maratonas olímpicas. A universidade é apoiada pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, da qual ambos os corredores são membros.

Mantz e Young disseram que a fé coloca a corrida em perspectiva. Assim como acontece com todos os atletas, eles enfrentam lesões e contratempos e podem ser sugados pela natureza acirrada da competição, mesmo entre si. Mas, como disse Mantz, “estamos muito focados no eterno”.

Eyestone não consegue se lembrar do momento exato em que algo clicou entre os dois corredores, mas a conexão deles rapidamente ficou patente. Embora exista uma competitividade natural entre corredores de elite, Mantz e Young estavam “suficientemente confortáveis um com o outro para que o ego não atrapalhasse os treinos”, disse Eyestone. Mantz gostava de liderar o pelotão e definir o ritmo; Young o seguia sem transformar o treino em uma competição.

Os amigos se apoiaram durante as provas da maratona olímpica em Orlando, na Flórida Russel Daniels/The New York Times

Isso não significa que os dias de corrida fossem tão cordiais quanto os treinos. “Ele não quer perder e quero vencê-lo”, comentou Young, o mais analítico dos dois. Debruça-se sobre dados de seu treinamento e acompanha de perto as pesquisas que surgem sobre o desempenho humano para ajudar a dupla a melhorar a performance. “Ele está sempre tentando encontrar a próxima melhor opção que pode nos fazer melhorar”, afirmou Mantz.

Quando Young se formou em engenharia mecânica, em 2018, teve de tomar uma decisão: assinar um contrato profissional que exigiria que se mudasse para outro estado ou ficar em Utah, onde Mantz ainda deveria permanecer por dois anos até se formar.

Ele optou por ficar, em parte para que pudessem continuar treinando juntos, com a suposição de que Mantz também permanecesse em Utah depois da formatura. Um contrato de longo prazo com a empresa de calçados Asics deu segurança financeira a Young.

Os dois comentaram essas escolhas com bastante cuidado. “Foi uma decisão que ele teve de tomar sozinho”, disse Young. Mas ambos compartilham a mesma crença: “Se cada um tivesse seguido um caminho separado, simplesmente não seríamos tão bons como somos agora”, resumiu Young.

‘Onde está Clayton?’

Não havia garantia de que os Estados Unidos teriam um maratonista masculino nos Jogos de Paris. Para garantir ao menos uma vaga, pelo menos um americano teria de completar uma maratona, em algum lugar, em menos de duas horas, oito minutos e dez segundos. Esse foi o limite estabelecido para formar uma equipe.

Houve uma reviravolta que foi detalhada em 24 densas páginas das regras de seleção de atletas de campo do USA Track & Field (órgão regulador nacional dos Estados Unidos para os esportes de atletismo, cross country, road running e marcha atlética). Alcançar esse tempo não garantiria necessariamente uma vaga no time para quem conseguisse. Simplesmente abria uma vaga para alguém que alcançasse um bom desempenho nas provas da maratona em Orlando.

E não importava quantos corredores americanos vencessem esse tempo: os Estados Unidos não enviariam mais do que três maratonistas masculinos para Paris – o limite estabelecido para cada país.

À medida que o ano olímpico de 2024 se aproximava, Connor Mantz e Clayton Young se concentraram em correr o tempo de qualificação. Ninguém havia conseguido chegar a esse ponto até outubro de 2023, quando entraram na Maratona de Chicago, percurso plano e rápido, que dava aos corredores uma chance maior de bater o tempo.

As esposas, Ashley Young e Kylie Mantz, acompanharam o percurso de Chicago, cada qual tentando avistar o marido com a maior frequência possível ao longo da rota sinuosa. Ficaram felizes ao vê-los unidos. “Não há ninguém melhor para estar ao lado de Conner”, disse Kylie Mantz sobre Clayton Young.

Quando Conner Mantz passou por elas no quilômetro 37, cada respiração o impulsionava em direção à linha de chegada. Ele usou uma parte da preciosa energia que acumulara para gritar para as duas: “Onde está Clayton?” E Young vinha logo atrás dele.

Quando Mantz terminou a prova em duas horas, sete minutos e 47 segundos, virou-se para ver Young cruzar a linha de chegada apenas 13 segundos depois. Marcaram, respectivamente, o quinto e o sétimo tempos de maratona mais rápidos de todos os tempos para os americanos e foram os únicos dos EUA que alcançaram o tempo limite para Paris. Mas cada um ainda precisava conquistar sua vaga no time.

‘Vamos ficar juntos’

Logo se reuniram para iniciar um ciclo de treinamentos voltado para as seletivas de Orlando.

Havia apenas duas vagas garantidas disponíveis na seleção olímpica – justamente as duas que eles abriram com o resultado em Chicago. Tecnicamente, outro corredor ainda poderia conseguir uma terceira vaga. Mas, se ninguém o fizesse, tanto Mantz quanto Young teriam de terminar em primeiro e segundo lugares para entrar no time.

Durante grande parte da corrida de Orlando eles seguiram um corredor chamado Zach Panning, deixando-o fazer o trabalho de liderar e definir o ritmo. Quando chegaram ao quilômetro 28, sabiam que estavam em condições de se classificar para Paris. A ansiedade que fez os braços de Mantz tremerem no início da corrida deu lugar a uma demonstração de relaxamento e excitação controlada. Mantz se voltou para cumprimentar Young batendo as mãos.

Nos últimos três quilômetros, porém, Mantz começou a sentir dificuldades. Ele já tinha tropeçado no fim de algumas corridas de que participara anteriormente, com músculos e pulmões parecendo estar à beira de um abismo. Temia não terminar a prova.

Pediu a Young que ficasse à sua frente, para bloquear o vento contrário que torna os quilômetros finais ainda mais difíceis. Young mudou de posição e disse a Mantz: “Apenas corra atrás de mim. Vamos ficar juntos.”

A dupla avançou passo a passo, como sempre tinha feito quando se aproximava da linha de chegada em primeiro e segundo lugares. Nos momentos finais, Young sinalizou para que Mantz o ultrapassasse e conquistasse a vitória, mesmo que isso significasse dar ao amigo os US$ 15 mil extras de prêmios em dinheiro que vêm com o primeiro lugar.

Os amigos pareciam admirados ao romper a fita da chegada. Tornaram-se os únicos dois atletas masculinos norte-americanos a se classificar para as Olimpíadas de Paris deste ano.

“Quando penso no motivo por que fiquei com Conner nas seletivas olímpicas, é por saber que correria melhor em Paris com ele ao meu lado”, disse Young, enquanto Mantz concordava: “Não só nas Olimpíadas, mas nos treinos também.”


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