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The Asian way of life: conheça Zeca, brasileiro que virou artilheiro no oriente

Em entrevista ao Lance!, atacante também explica cenário do futebol asiático

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Lance|Do R7

Zeca em entrevista exclusiva ao Lance! (Foto: reprodução) Zeca em entrevista exclusiva ao Lance! (Foto: reprodução)

Todo mundo que já sonhou em jogar bola um dia se imaginou em uma partida da Liga dos Campeões ou da Libertadores com a camisa de um grande clube. É o caminho "clichê" para quem busca dinheiro, fama e estrelato nos principais campeonatos do mundo, mas há exceções. Um outro lado da moeda começou a ser explorado recentemente e virou opção no roteiro dos jogadores que saíam do Brasil não necessariamente em busca de glamour.

O objetivo era ter qualidade de vida em um mercado altamente promissor na Ásia. É a "Rota da Seda" do esporte, mas em sentido oposto àquela historicamente conhecida.

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Foi essa a lógica seguida por José Joaquim de Carvalho, mais conhecido como Zeca, que construía uma carreira em solo brasileiro quando resolveu largar tudo e ir em busca do sonho de jogar na Ásia. Pode até parecer estranho um jogador falar que é um sonho trabalhar tão longe de casa, mas o atacante tem uma boa explicação para justificar a escolha pouco convencional.


— É um mercado que cresce a cada dia. Traz muitos jogadores para viverem seu sonho. Faz com que muitos jogadores no Brasil, que não teriam oportunidade de jogar em times grandes como Flamengo, São Paulo, Corinthians, ou mesmo na Europa, tenham a oportunidade de vir pra cá, realizarem seus sonhos, fazerem seu pé de meia, sua reserva financeira, e conseguirem desfrutar de uma vida… Pô, uma vida incrível. Você tem tudo, velho. Tem uma tranquilidade absurda. Você está em países incríveis, onde pega um trem e está em outro lugar, numa cultura totalmente diferente, mas onde, se você quiser comer uma picanha, você vai comer. Se quiser um sanduíche, você vai comer.

É claro que, assim como no futebol europeu, esse sonho asiático é regado a dinheiro para muitos jogadores. Basta analisar o "boom" recente do futebol chinês e da Arábia Saudita, que atraíram estrelas do esporte com uma injeção financeira nunca antes vista no futebol desses países. Mas, no caso de Zeca, a escolha foi baseada, principalmente, na qualidade de vida e na forma como parte do asiáticos tratam o futebol.


— Então, é uma vida tranquila, que te dá segurança, tanto financeira quanto profissional, e te dá paz pra viver. Não tem essa pressão que tem no Brasil. Então, cara, se alguém tiver a oportunidade de vir - lógico, numa situação boa, não pra qualquer canto -, pode fechar o olho e vir que não tem erro.

— Esse sonho que as pessoas falam: “Ah, jogar a Série A, jogar no Campeonato Brasileiro…”. Não tenho. Realmente, não tenho. Tenho 28 anos e hoje não penso em voltar. Não sei o que o futuro reserva, mas hoje eu penso em terminar minha carreira aqui. Continuar meu legado aqui na China, no tempo que eu conseguir. Se tiver oportunidade de outros lugares na Ásia também, seguir trilhando esse caminho — completou.


A era de ouro da Ásia no futebol

Hoje, Zeca é jogador do Shandong Taishan, da China, mas também passou por Daegu e Pohang Steelers, ambos da Coreia do Sul. Foi no Pohang, inclusive, que ele disse ter vivido o melhor momento da carreira.

Depois do período na Coreia do Sul, Zeca foi para o futebol chinês, que estava em alta há pouco tempo e ajudou a levantar a "voz" do futebol asiático para o mundo. Craques como Hulk, Oscar, Talisca e tantos outros começaram a migrar para a China e ajudaram a fortalecer a liga. Mas a era de ouro teve suas consequências, e as finanças não suportaram tamanho investimento. O time mais badalado neste período, que englobou toda a década passada, foi o Guangzhou Evergrande.

Contudo, o declínio da sua principal acionista - a Evergrande, empresa do setor imobiliário - fez o time chegar ao fundo do poço depois de uma época de glórias.

— Na época, eles pegavam jogadores na Europa, fechavam o olho e falavam: “Quero o Tevez”. E o Tevez vinha. “Quero o Oscar, quero o Hulk, quero o Paulinho…”. E vieram vários. Eles também naturalizavam jogadores, como Elkeson, que jogou no Vitória, Ricardo Goulart… vários. Aquele boom que aconteceu fez o futebol se desenvolver muito, ganhou uma visibilidade gigante. Mas o futebol chinês sofreu, cara. Teve um boom de dinheiro, mas acho que eles perceberam que aquela conta não fechava. É a minha visão, uma análise que faço —, explica Zeca.

— Hoje, você vê muito time quebrando, fechando as portas. O Evergrande, que foi campeão um milhão de vezes, que teve Elkeson, Aloísio, Talisca, que ganhou até Champions da Ásia, fechou as portas. Acho que era muito dinheiro e chegou uma hora que a fonte secou. Mas eles deixaram um legado. Deixaram consciência tática, treino, qualidade técnica. E, quando você treina com gente boa, você evolui.

Mas ainda assim, de acordo com Zeca, mesmo com todo o investimento e o legado deixado por jogadores do mais alto nível do futebol mundial não foram suficientes para fazer o futebol chinês passar o japonês.

— Então, é um futebol que evoluiu muito, mas hoje, talvez, esteja um pouco atrás do futebol japonês e do coreano em termos de conjunto. Se você olha, o futebol japonês talvez seja o mais forte aqui do Leste da Ásia. O coreano e o chinês meio que se batem, ficam no mesmo nível — analisou.

Artilheiro nato

Soteropolitano, Zeca passou pelas bases de Bahia, Vitória e Ypiranga, mas não conseguiu deslanchar a ponto de se fixar na equipe profissional. Diante da situação, ele aceitou a oportunidade de jogar em Portugal, naquela que seria sua primeira experiência fora do Brasil.

— Na época eu estava afastado no Vitória e trabalhava com o Antônio, meu empresário. Eles tinham um jogador no Boavista, o Robson, zagueiro, que também fez base no Bahia e estava até recentemente na China. Ele jogava no Boavista na época.

— Com 20 anos, fui para Portugal fazer esse teste no Boavista B. Deu tudo certo, fui aprovado, fiquei lá um ano e meio, mas as coisas não aconteceram como eu esperava. Meu plano era fazer uma temporada no B, depois tentar subir para o A e jogar a primeira divisão de Portugal. Acabou não rolando, coisas da vida. Fiquei muitos meses sem receber - não lembro exatamente quantos, mas foram muitos. E aí voltei para o Brasil — lembrou Zeca.

Neste retorno ele rodou por times como Goiás, Criciúma, Oeste, Lodrina e Mirassol. Foi o destaque no time paulista que abriu as portas para ele na Ásia.

O primeiro time de Zeca do outro lado do mundo foi o Daegu, da Coréia do Sul, onde conseguiu deslanchar e participar de 24 gols em 38 jogos (16 bolas nas redes e oito assistências). A fase era tão boa que ele foi o único jogador do futebol coreano a ser escolhido para a seleção da Champions League da Ásia, maior competição do continente.

+ Artilheiro na Ásia, brasileiro explica ascensão do Mirassol: ‘Era previsível’

No ano seguinte ele foi para o Pohang Steelers, também da Coreia do Sul, e conseguiu feitos ainda maiores. Foram 17 gols e 10 assistências para sacramentar a melhor temporada da carreira.

— Cara, eu fui campeão da Copa da Coreia pelo Pohang, né? Então, é um clube que eu tenho um carinho absurdo. Foi o segundo clube que eu joguei na Coreia. Fui pro Daegu, depois fui comprado pelo Pohang. A gente foi campeão da Copa e eu fiz um gol na final. Acho que foi o gol de empate, ou da virada, nem lembro bem agora, mas lembro do êxtase de estar sendo campeão. Foi meu primeiro título na carreira. Então, esse momento é muito marcado pra mim.

— Acho que o primeiro gol que eu fiz com meu filho pequeno no estádio também foi muito marcante. Meus pais estavam lá, minha esposa, meu filho… Eles tinham ido me visitar na Coreia, no meu segundo ano. Eu faço o gol e vejo meus pais na arquibancada. Cara, é um momento que carrego comigo.

Zeca segue colecionando bons números pelo Shandong Taishan e, só nesta temporada, tem seis gols e quatro assistências em 15 partidas. É assim que, aos poucos, ele se torna ídolo de um país que já chama de casa.

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