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'Temos de aprender a angariar o fã para o futebol feminino', diz Hoffman Túlio, técnico do Galo Feminino

O treinador fez um cenário claro do potencial do esporte praticado pelas moças no país e ainda explicou os motivos de deixar o Cruzeiro para assumir o Atlético-MG

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O futebol feminino mineiro teve um primeiro ano de destaque em 2019 com o surgimento das equipes do Atlético-MG, o Galo Futebol Feminino, e do Cruzeiro. O América-MG já tinha a modalidade há mais tempo e também surfa na onda do crescimento do esporte praticado pelas moças no estado.

Um dos pilares dessa mudança positiva é o técnico Hoffman Túlio, de 33 anos, que comandou a Raposa na campanha vitoriosa do acesso à primeira divisão nacional, não ficou em 2020 para dar seguimento ao trabalho no time azul. Hoffman aceitou o convite do rival, Atlético-MG, para alavancar sua equipe feminina, que ainda está na Série A2 Brasileira.

A conversa que a reportagem Valinor Conteúdo/LANCE! teve com o treinador foi além da troca de clube. Ele traçou um cenário do futebol feminino muito otimista, mas realista de como a modalidade pode crescer no Brasil.

1- A pergunta é inevitável: por que a troca de clube, sair do Cruzeiro e ir para o Galo Feminino se tinha um elenco forte que acabara de ser vice-campeão nacional no primeiro ano de existência do futebol feminino no Cruzeiro?

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R: O Cruzeiro me dispensou. Só depois que eu fui para o Atlético-MG. Foi uma mudança que o Cruzeiro quis que acontecesse na comissão técnica. Só depois que saí, assinei com o Atlético, em janeiro.

2- Houve alguma interferência direta no seu trabalho? A antiga diretoria investia de fato na equipe ou era uma obrigação imposta pela CBF sem a atenção devida?

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R: A diretoria do Cruzeiro sempre me tratou bem. O presidente da época(Wagner Pires de Sá) fez uma exigência que subissemos para a Série A1. O Itair(Machado, ex-vice de futebol) e o Marcone Barbosa(ex-gerente de futebol) sempre quiseram que o futebol feminino tivesse um apoio. Do Marcone não tenho o que falar mal, apenas bem. E nos apoiou bastante.

3- O Galo Feminino não conseguiu o acesso para a A1 de 2020. O elenco está sendo reformulado. Qual a meta desta temporada para a equipe?

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R: O elenco foi reformulado antes de mim. Quando cheguei, em janeiro, apenas duas jogadoras saíram. A diretoria e a comissão técnica se reuniram e já havia um trabalho para manter boa parte do grupo. Temos atletas que podem nos ajudar muito nesta construção do time, já que a nossa meta é sempre o acesso. Mas temos de entender que subir(O Galo Feminino está na série A2 do Brasileiro) é um processo que pode acontecer em uma temporada, ou com duas ou mais. Todavia, a meta é sempre subir.

Nota da redação: Hoffman Túlio levou o Cruzeiro à primeira divisão do futebol feminino brasileiro já na primeira temporada ao ser vice-campeão da Série A2. Perdeu a final para o São Paulo.

4- A parada do esporte pela pandemia da Covid-19 terá um efeito mais danoso para o futebol feminino do que para o masculino? O Atlético-MG está dando suporte à equipe?

R: Não sei se afeta mais o feminino. Meu pensamento e análise é se o boom do futebol feminino pós Copa do Mundo Feminina(França, 2019) vai continuar. Isso me preocupa. Não tem como dizer que o feminino perde mais que o masculino com a crise. Financeiramente não, mas, como oportunidade creio que sim. Eu vou saber isso quando recomeçar e ver todo o mercado, como ele vai se mobilizar. Se vai ter transmissão dos jogos, mobilização, veiculação de mídia da modalidade.

Quanto ao suporte às meninas, o Atlético está dando todo o suporte para as meninas nesta parada. Com um plano nutricional, de atividades mas mesmo assim, todos os times vão perder um pouco com a parada.

5- O corte de 25% nos salários atingiu todo o elenco e comissão técnica? Como estão lidando com essa perda financeira?

R: Não, no feminino não atingiu. Não houve atraso de pagamentos. está tudo em dia. nada a reclamar do clube.

Nota da redação: o Galo atrasou parte dos pagamentos do elenco de futebol, mas o feminino não foi afetado.

6- O caso Vitória Calhau. Como administrou com a jogadora a situação constrangedora causada pelo mascote Galão?

R: Conversamos com a diretoria, com a comissão técnica e com a Vitória Calhau. Deixamos ela à vontade para dar entrevista , falar o que quisesse. Chegamos a conclusão que foi uma infelicidade do funcionário( que veste a roupa do mascote Galão). O ato pode ser traduzido como machismo. Ponto. As meninas se posicionaram. Nós nos posicionamos. Até no pedido de desculpas do clube teve o posicionamento delas. A vida seguiu e o trabalho segue com respeito, cabeça erguida, com posicionamento, é assim que espero que elas tenham postura frente às questões sociais.

7- O futebol feminino ainda sofre com preconceitos sociais e até mesmo dentro dos clubes. Há uma perspectiva de haver mais respeito e até mesmo ver o potencial que a modalidade possui como negócio?

R: Futebol feminino sofre um preconceito como outras modalidades femininas. Falamos mais de futebol porque ele é mais jogado no Brasil. De uma forma geral, as mulheres passam por isso, mas ainda assim, temos uma perspectiva de crescimento do mercado sim. Principalmente após a Copa do Mundo. Por isso é importante o apoio da mídia. Quanto mais mídias, canais passarem os jogos, falarem, ai sim vamos alavancar o mercado. Quando tem uma TV passa os jogos do brasileiro deste ano, como fez com as finais do ano passado, gera movimentação, vai nos dar retorno. Espero que continue. Contamos com os meios de transmissão para que esse mercado feminino se abra mais.

Veja como tem potencial o mercado. A Maria (Alves, atacante),do Santos foi vendida para a juventus-ITA. Foi a primeira venda de um clube brasileiro para o exterior que o mercado considera. Creio que teremos mais vendas daqui pra frente. Os clubes começam a fazer contratos mais longos com as atletas. Se houver um interesse de tirar as meninas dos clubes, os rivais terão de pagar. Isso movimenta o mercado, gera repercussão da mídia, apoio dos fãs. E, como consequência, busca dos fãs pelo melhor time, Aí teremos um mercado movimentado e lucrativo.

8- Quando aceitou ir para o Atlético-MG, o projeto apresentado a você prevê que tipo de atuação? Ser somente o treinador, ou tentar incrementar a modalidade dentro do clube?

R: Ser treinador da equipe no projeto. No dia a dia vamos sempre conversando com a Nina(Abreu, coordenadora do Galo Feminino). Ela é uma pessoa muito aberta ao diálogo. Sempre vamos falando sobre colocar algo novo na modalidade. Algo que possa agregar mais valor ainda ao nosso trabalho. Mas isso vem de uma forma natural e pela abertura da Nina. Não como uma obrigação que o Atlético me deu.

9- O Galo Feminino pode ser uma chance de angariar novos fãs para o clube com ações voltadas para as meninas do time?

R: Com certeza. O Galo Feminino é uma forma do clube angariar novos torcedores. Se olhar o Instagram e Twitter do clube(@galoffeminino),temos um número muito bom de seguidores para apenas um ano de existência, sem grandes vitórias ainda no Brasileiro. A questão é que ainda é novo esse fã, que está sendo descoberto por todos nós, de como será esse novo torcedor do futebol feminino que vamos angariar. Não só do Atlético. Tudo do futebol feminino é mais recente em Minas Gerais. Só o América-MG tem mais tempo no estado. Galo e Cruzeiro estão a menos tempo com as equipes e ainda terão de aprender muito de como divulgar e atrair esse torcedor. Aprender a promover o Galo Feminino para o torcedor, que está sedento por um futebol feminino forte com a cara do Galo.

10-Seleção Brasileira é uma meta futura?

R: A meta é sempre levar os clubes que dirijo um pouco mais alto. Hoje(seleção) é um pouco distante. Mas creio que em quatro anos posso estar em um hall de escolha da CBF. Vou continuar trabalhando firme para ser uma opção futura dentro da seleção.

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