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Samir Xaud: ‘Vamos reformular a maioria dos campeonatos organizados pela CBF’

Em entrevista exclusiva, o presidente da CBF também falou sobre os debates em torno do Fair Play Financeiro

Lance

Lance|Do R7

Samir Xaud conversou com a reportagem na Rio Innovation Week Divulgação/CBF

O calendário do futebol brasileiro vai mudar, e a mudança será substancial. É o que garante o presidente da CBF, Samir Xaud, que nesta quarta-feira (13) concedeu entrevista exclusiva ao Lance! na Rio Innovation Week.

— Posso antecipar que vai ser uma boa mudança no calendário brasileiro, e acredito que em 60 dias nós estaremos apresentando. Não se trata só de um campeonato. A gente vai reformular a maioria dos campeonatos organizados pela CBF — disse Xaud, que nesta semana completou 80 dias à frente da CBF.

O dirigente também falou sobre os debates em torno do Fair Play Financeiro. Disse que vê boa aceitação entre clubes e federações, mas previu que o sistema ainda deve demorar para ser implantado no Brasil.

— É uma construção, não é tão simples. Há um período de transição, e teve países que demoraram anos nessa transição. Nós temos que dar tempo aos clubes se adaptarem ao novo modelo — considerou Samir Xaud.


Confira a entrevista exclusiva:

LANCE! - A CBF organizou na segunda-feira uma plenária com clubes e federações para debater Fair Play Financeiro. Um dos seus vices, na semana passada, comparou a situação financeira dos clubes ao Titanic e o iceberg. Você vê da mesma forma? Qual é o tamanho da preocupação da CBF com a situação financeira dos clubes?

SAMIR XAUD - Foi um encontro com 37 clubes, mais 12 federações, players do mercado importantes, representantes da Uefa. A gente está começando essa discussão, tentando achar o melhor modelo para implementarmos aqui nos nossos campeonatos do Brasil, dos campeonatos brasileiros. O que a gente fez foi o kick-off inicial, mas nós temos 60 dias para, durante esses debates, apresentar os modelos mais viáveis aqui para o futebol brasileiro. A partir desse modelo escolhido, a gente começa o nosso período de implementação e de transição tão importante nesse assunto aqui para o Brasil.


O foco deve ser na transferência de jogadores?

Na verdade, não só na transferência, mas na questão de gastos (como um todo). O que nós nos preocupamos bastante são os gastos demasiados de alguns clubes. Você tem uma arrecadação X e o clube está gastando 3X. Então, além de prejudicar o campeonato, de ser uma atitude antidesportiva com os outros clubes, os clubes menores que pagam em dia, suas receitas, seus jogadores, acaba tendo aquele, entre aspas, “doping financeiro” ali. E o que a gente quer é dar uma lisura maior para os nossos campeonatos, deixar o campeonato mais disputável e tornar o futebol brasileiro autossustentável financeiramente.


Você falou em um período de transição, mas a ideia é já começar em 2026?

Não, aí é uma construção, não é tão simples. Eu acho que esse período de transição, teve outros países que demoraram anos nessa transição. Nós temos que dar tempo aos clubes se adaptarem ao novo modelo. Acredito que o pontapé inicial, o que precisava, a gente começou. O tempo determinado a gente não tem, mas o que nós queremos é ser o mais breve possível.

Tem uma boa aceitação dos clubes, ou enxerga alguma resistência?

Tem, tanto que times de série A e B, dos 40, nós tivemos ali 37 clubes. Não só clubes, mas federações, a CBF como um todo. Está todo mundo antenado nesse tema, um tema muito importante para todo o futebol brasileiro. E eu acredito que nós vamos construir um melhor modelo aqui no Brasil.

Na segunda-feira você falou que vai haver uma mudança no calendário do futebol brasileiro. Pode antecipar qual vai ser?

Posso antecipar que vai ser uma boa mudança no calendário brasileiro, e acredito que em 60 dias nós estaremos apresentando. Não se trata só de um campeonato. A gente vai reformular a maioria dos campeonatos organizados pela CBF. Estamos nos ajustes finais, discutindo alguns detalhes importantes. Mas daqui a 60 dias eu vou te contar de primeira mão.

Samir Xaud diz que turbulência na CBF nos últimos anos afastou o torcedor da seleção

São 80 dias de gestão. Como o senhor encontrou a CBF?

A CBF vinha por muitos anos passando por um momento de turbulência institucional, com os gestores anteriores. A gente encontrava um clima um pouco pesado nessa gestão institucional. Foi onde nós começamos a tratar, não só dentro das quatro linhas, mas fora das quatro linhas. Com esse novo modelo de gestão descentralizada, dando autonomia para as pessoas trabalharem lá dentro, aproximando clubes e federações da CBF, aproximando os próprios funcionários da CBF. Hoje a CBF vive um novo momento, um momento de muita união ali dentro. Isso está se refletindo fora de campo também.

Historicamente, o torcedor brasileiro não tem uma visão muito boa da CBF. Por um lado tem a questão que na última década e meia houve trocas sucessivas de presidente, e por outro tem aquela questão de o torcedor sempre achar que a CBF está prejudicando o seu time. Como fazer para mudar essa visão?

Transparência. Ser mais transparente em todas as ações é o que nós estamos fazendo. Eu faço uma gestão com muito diálogo de todas as áreas, com clubes, com federações, com a imprensa. Estou ali para fazer o melhor para o futebol brasileiro. Acredito, sim, que essas mudanças que estamos fazendo, já com poucos dias de gestão, elas serão muito impactantes a médio e longo prazo com o futebol brasileiro. Acho que é isso, é o diálogo. O diálogo, para mim, é o pilar essencial dessa nova gestão.

Na mesma linha, o torcedor se afastou nos últimos anos, perdeu um pouco daquele gosto pela seleção brasileira. A que você atribui a isso e o que pode ser feito para mudar?

Muito atribuo a tudo que a CBF vinha vivendo nessas últimas gestões. Acabou perdendo um pouco da credibilidade. Mas o que nós estamos fazendo com esse trabalho transparente é aproximar mais o torcedor da seleção. Nós estamos também atuando muito com a parte do nosso marketing, trabalhando isso. Vamos começar agora a dar o pontapé inicial também no CBF Social, que é um programa que estava parado. São muitas ações, são muitas frentes que acabam aproximando mais o torcedor da seleção brasileira.

Essa chegada do Ancelotti também nos ajudou bastante em relação a isso. Eu já vejo um novo sentimento no ar, de grande parte da torcida brasileira, que tem nos apoiado, tem visto as mudanças que estamos fazendo, e recebo muitas mensagens de apoio para continuar dessa forma. É o que nós queremos, nós queremos realmente que haja essa mudança no futebol brasileiro, que o brasileiro comece a torcer novamente, como torcia antigamente, como eu era torcedor quando mais jovem. O que a gente quer é trabalhar dessa forma para que ano que vem nós consigamos chegar na nossa sexta estrela.

Você falou sobre o CBF Social. A CBF destravou recentemente uma verba ainda da Copa do Mundo de 2014, para investimento em centros de treinamento em áreas periféricas do futebol brasileiro. Fale um pouquinho sobre isso.

Na verdade, é o legado da Copa de 2014, onde todos os estados que não tiveram jogos e não foram subsedes, receberam um recurso para a construção desses centros de desenvolvimento do futebol. Desde 2014 estava parado. Tinham construções que estavam paradas, prontas há muito tempo, só que por conta do recurso de autossustentabilidade que esses centros dependem, a CBF não destravava. O que eu fiz questão de fazer quando cheguei foi dar o primeiro comando para que destravasse. Nós fizemos um estudo financeiro e vimos que tinha condições de aplicar o recurso para esses centros de desenvolvimento se sustentarem por dois anos, até que a federação conseguisse, por meios próprios, fazer os projetos e ter uma autossustentabilidade por si só. Agora estamos nas entregas desses centros. Começamos com três centros de desenvolvimento no Norte do Brasil, Amapá, Rondônia e Tocantins. Sexta-feira agora (dia 15) estou indo entregar um em Balneário Camboriú, Santa Catarina. E na próxima semana, nós estaremos indo para Sergipe. São, ao todo, 14 centros que nós queremos entregar até o ano que vem.

Por dois anos, a CBF vai ajudar com os custos?

Isso, são mais de R$ 20 milhões de investimentos para esses custos. E a CBF vai arcar com esses custos até que as federações façam o seu próprio programa e tornem aquilo autossustentável.

Para finalizar: a seleção brasileira sempre é apontada como uma das favoritas da Copa do Mundo. O que a CBF pode fazer para que daqui a dez meses o favoritismo se transforme em título?

Tudo, tudo que estiver ao alcance da CBF, nós estamos colocando à disposição da comissão técnica do Ancelotti. Fiz questão de dar 100% de autonomia para eles, sem interferências externas. Eu apenas acompanho o trabalho, e o que eles decidem tecnicamente, o que eles precisam para o treinamento, quem são as seleções que vão enfrentar, tudo ligado à parte técnica, eles têm autonomia.

Acredito muito no trabalho deles, são excelentes profissionais, tanto o Rodrigo Caetano, como sua comissão, quanto o nosso mister, Ancelotti, que veio como a cereja do bolo para a nossa seleção. Estou muito confiante de que ano que vem a gente vai estar, sim, numa final de Copa do Mundo, se Deus quiser, conquistando a sexta estrela.

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