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A incrível saga de Alphonso: do campo de refugiados para o Bayern

Destaque do Vancouver Whitecaps, Alphonso Davies nasceu em acampamento em Gana após seus pais fugirem de guerra civil na Libéria

Futebol|Do R7

Davies, à direita, em amistoso entre MLS All Stars e Juventus, na última quarta
Davies, à direita, em amistoso entre MLS All Stars e Juventus, na última quarta

Na noite da última quarta-feira (1), o MLS All Stars, time formado por grandes nomes da liga dos Estados Unidos e do Canadá, empatou por 1 a 1 com a Juventus em amistoso e perdeu nos pênaltis por 5 a 3. Aos 32 minutos do primeiro tempo, o time norte-americano promoveu a entrada do atacante canhoto Alphonso Davies, de apenas 17 anos. A pouca idade do jogador para estar entre os melhores é algo que chama a atenção, mas este não é o ponto mais impressionante na vida dele.

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Alphonso nasceu em Buduburam, campo de refugiados localizado em Gana, que abriga 42 mil pessoas. São refugiados da Libéria que fugiram durante a Primeira Guerra Civil do país (1989-1996) e a Segunda Guerra Civil do país (1999-2003), além de refugiados de Serra Leoa que também escaparam dos estragos da sua guerra civil (1991-2001). Alphonso veio ao mundo em 2000, um ano após o início da Segunda Guerra Civil na terra de seus pais, em confrontos que resultaram em cerca de 50 mil mortes.

Buduburam, onde nasceu Alphonso
Buduburam, onde nasceu Alphonso

Alphonso Davies joga como profissional desde 2016 e atualmente é o principal nome do Vancouver Whitecaps, do Canadá, liderando o quesito dribles na MLS. Por conta deste destaque, foi comprado pelo Bayern de Munique em julho, pelo valor de 16,6 milhões de euros (R$ 72,7 milhões), e deverá ir para a Alemanha quando completar 18 anos - em novembro.


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No entanto, a saga até o estrelato foi complicada. Victoria e Debeah Davies, mãe e pai de Alphonso, viviam na capital da Libéria, Monróvia, e já haviam sobrevivido a uma guerra civil quando as balas e o derramamento de sangue recomeçaram. Eles tinham duas escolhas: pegar uma arma e tentar se proteger ou escapar do país. Com um filho vindo ao mundo, preferiram fugir da violência implacável.


- Você está indo para algum lugar e tem que atravessar os corpos para ir e encontrar comida. Então, a melhor coisa a fazer era simplesmente sair - disse Victoria, anos depois. Assim começou a caminhada da Libéria rumo a Gana.

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De Monróvia até Buduburam, foram cerca de 1.531 km, em trajeto que dura um dia de ônibus e passa por Costa do Marfim de ponta a ponta. Buduburam não tem balas, mas era (e ainda é) um local com precariedades. O acampamento tem o suporte de ONGs liberianas e organizações voluntárias, mas não era raro faltar comida. Novamente, os pais de Alphonso se viam cercados de incertezas.

Rota de Monróvia até Buduburam
Rota de Monróvia até Buduburam

- A vida de refugiado era como ser colocada em um contêiner e ser trancada. Não havia como sair. E você não pode ir longe do acampamento, porque qualquer coisa pode acontecer com você - recordou Victoria.

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Debeah também recorda a aflição. Alphonso viveu neste local até cinco anos.

- Estávamos preocupados, porque a fome poderia matá-lo. Não é só em uma zona de guerra que há fome. No campo, se não houver comida, as pessoas morrem. Então, todos os dias precisávamos ter certeza de que tínhamos algo para ele comer - falou Debeah, lembrando depois como saiu de Buduburam.

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- Eles (em Buduburam) têm um programa de reassentamento. Um dia, falaram: "Ok, você tem que preencher um formulário para o Canadá". Nós passamos pela entrevista e tudo, e chegamos ao Canadá - explicou Debeah.

Primeiramente, a família foi para Windsor, Ontário. Um ano depois, partiu para a cidade de Edmonton, em Alberta. Lá, foi colocado pelos pais no projeto Free Footie, uma escolinha de futebol voltada para crianças carentes, fundada pelo jornalista Tim Adams. Após destaque, rumou para o Edmonton Strikers, time que disputava o campeonato regional sub-10. Aos 14, entrou na base do Vancouver Whitecaps. E, dois anos depois, estava estreando como profissional.

Alphonso Davies aos 15 anos
Alphonso Davies aos 15 anos

CASO ALPHONSO: QUANDO UMA PORTA SE ABRE

- Um dia, surgiu um jovem vindo do Afeganistão. Ele era incrível e o levei para um teste num clube. Eles o colocaram em uma posição no qual não estava acostumado e o garoto não passou. Depois, não sei o que aconteceu com ele. Ele desapareceu das minhas mãos e da comunidade do futebol. Estou convencido de que ele teria sido uma estrela também, mas ele se foi. Sei que essas crianças existem em todo o Canadá. Somos um país que acolhe as pessoas. Agora é a hora de tirar essas crianças das sombras e dar-lhes uma chance - destacou Tim Adams, responsável pelo projeto Free Footie.

- Embora ele fosse o melhor em sua faixa aos 10 anos, foi entre 12 e 16 anos que ele realmente se desenvolveu. Treinando-o quando jovem, percebi que ele pode ir muito longe. Acreditei logo no começo que ele chegaria ao topo um dia - disse Nick Huoseh, treinador de Alphonso Davies no Edmonton Strikers.

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- Quando olho para trás, lembro do campo de refugiados, sem comida, sem roupas, e aqui estamos hoje. Alphonso tem tudo de que precisa. E eu estou orgulhoso dele - finalizou Victoria, orgulhosa mãe do futuro jogador do Bayern.

'SOU UM CIDADÃO CANADENSE ORGULHOSO'

Até junho de 2017, Alphonso foi classificado como um cidadão da Libéria, e teve que solicitar a cidadania canadense a fim de representar o time nacional de sua pátria adotiva. Pouco depois de receber seu novo passaporte, aos 16 anos, ele se tornou o mais jovem jogador a representar a seleção do Canadá. Hoje ele tem seis jogos e três gols pela seleção. Os três gols foram na disputa da Copa Ouro 2017, quando sagrou-se artilheiro da competição e recebeu a honraria de melhor jovem do torneio - onde sua seleção caiu nas quartas.

Alphonso Davies pelo Canadá, na Copa Ouro 2017
Alphonso Davies pelo Canadá, na Copa Ouro 2017

Na atual temporada, Alphonso tem oito assistências e cinco gols na MLS. Seu time, após 22 jogos, é o sétimo colocado na Conferência Oeste, entre 12 clubes. No entanto, suas atuações brilhantes neste ano não limitam-se apenas aos gramados. No mês passado, em Moscou, o jogador discursou em congresso da Fifa, com o agasalho da seleção canadense, em defesa da candidatura tripla Canadá, Estados Unidos e México pela Copa do Mundo. Numa sala lotada de engravatados, ele emocionou ao contar sua história e pedir votos.

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- Foi uma vida difícil, mas quando eu tinha cinco anos de idade, um país chamado Canadá me acolheu. Sou um cidadão canadense orgulhoso e meu sonho é competir um dia na Copa do Mundo, talvez até na minha cidade natal, Edmonton - disse Alphonso, em fala que durou um minuto, mas foi poderosa em cada um dos seus segundos. E, de fato, a Copa de 2026 será na América.

Uma história semelhante já aconteceu no Canadá, porém com final diferente. Asmir Begovic, goleiro de 31 anos, atualmente Bournemouth, nasceu na Iugoslávia e foi para Edmonton com sua família em 1999, fugindo de guerra em seu país. Ele desenvolveu como goleiro na América, mas, na adolescência, assinou contrato com o Portsmouth (ING) e, embora tenha representado o Canadá na Copa do Mundo Sub-20, em 2007, se disponibilizou para o país de seu nascimento e estreou pela seleção da Bósnia e Herzegovina em 2009.

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- Não vi o futuro ser tão bom para o futebol canadense - comentou, em 2014.

Voltando para o futebol atual, outro prodígio com nacionalidade canadense, Ballou Tabla, de 19 anos, transferiu-se do Montreal Impact (CAN) para o Barcelona em janeiro, sendo colocado na equipe B. Tabla ainda não definiu se jogará pelo Canadá ou defenderá seu nascimento, a Costa do Marfim.

Porém, Alphonso Davies promete mais do que Tabla. Alphonso tem média de 68% de acerto nas tentativas de dribles na MLS atual. Se econseguir manter a estatística na Europa, isso o colocará em pé de igualdade com Neymar e Lionel Messi no quesito dribladores de nível mundial. Se ele será um campeão no mundo da bola, só o futuro dirá. Mas campeão na vida, isso já é uma certeza.

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