Fã de boxe, Avancini 'beijou a lona' no ciclismo. Hoje, é esperança do Brasil
Brasileiro utiliza elementos da luta como inspiração em seu esporte e vibra com o top 3 mundial após ‘nocaute’ no Rio. Focado em Tóquio-2020, ele encara desafio na Alemanha
Lance|Do R7
O termo em inglês “crossover” significa um cruzamento entre dois estilos ou atividades que nada têm a ver. É aplicado na biologia, na literatura, na música e, conforme mostra o o ciclista Henrique Avancini, também no esporte.
Quem se depara com as fotos de suas aventuras em percursos montanhosos mundo afora não imagina que, para o ciclista, esperança do Brasil no mountain bike nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, é possível utilizar elementos até mesmo do boxe na preparação para o pedal.
– Gosto de buscar informações em outros esportes. Muitas vezes, a gente subestima muito o crossover que as modalidades podem gerar para nós – contou o atleta, ao LANCE!.
Terceiro colocado no ranking mundial, Avancini se inspira em elementos da nobre arte para alcançar a concentração necessária e encarar maratonas no MTB desde novo. Hoje com 30 anos, o fluminense vive o auge e se orgulha de um início de 2019 quase perfeito, com quatro pódios nos quatro eventos que disputou.
Campeão mundial de cross-country maratona MTB e quarto colocado no Mundial do ano passado, Henrique já faturou este ano os títulos da etapa de Araxá da Copa Internacional, da SA Cup e da Tankwa Trek, além do vice-campeonato na maratona Cape Epic, na África do Sul.
– Sou um grande fã de boxe. Viciado mesmo. Uso muitos dos elementos, principalmente na preparação mental, para competir. Sou de 1989, peguei aquela década agitada dos pesos-pesados dos anos 90. Era bem novinho, mas foi a primeira semente. Depois, os ídolos sempre pesaram. Sou da geração que viu o Popó. Ele me fez perder algumas noites de sono – relembrou o ciclista, que compete desde 2015 pela Cannondale, uma das principais equipes do planeta.
Neste sábado, Henrique disputa a etapa de Albstadt (ALE) da Copa do Mundo de MTB. O evento vai até domingo. Na temporada, o foco maior é o Campeonato Mundial, que acontecerá em Mont-Sainte-Anne, Canadá, em agosto. Além de mirar o topo do ranking mundial, ele quer ajustar os detalhes para os Jogos Olímpicos.
Atualmente, o atleta soma 1.654 pontos e está atrás apenas do suíço Nino Schurter (2.005) e do italiano Gerhard Kerschbaumer (1.775).
A ascensão impressiona. Após ficar em 23º lugar no cross country olímpico (XCO) em Londres-2012 e na Rio-2016, ele iniciou uma escalada na lista da União Ciclística Internacional (UCI) em 2017. No ano passado, alcançou a vice-liderança. Nunca o país havia chegado tão longe.
– Depois da Rio-2016, fazendo uma analogia com o boxe, acho que eu beijei a lona. Tomei um nocaute (risos). Mas tudo foi importante – falou o ciclista, que sofreu um estiramento na coluna paravertebral durante os Jogos do Rio.
O período de classificação para Tóquio-2020 começou em maio de 2018 e vai até maio de 2020. Serão 37 vagas, mais uma do país-sede, e cada nação poderá ter o máximo de três atletas. A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) divulgará a convocação de acordo com o número de vagas do país, mas já avisou que utilizará como critério o ranking da UCI.
Confiança em título mundial dos brasileiros
Quando soube que haveria uma competição de boxe no Brasil em março deste ano, o Boxing For You, com a presença dos maiores astros do país, Henrique Avancini entrou em contato com a organização e fez questão de assistir aos triunfos dos medalhistas Esquiva Falcão, prata em Londres-2012, e Robson Conceição, ouro na Rio-2016, em Mangaratiba (RJ), que os manteve invictos no profissional. E o ciclista acredita que o título mundial virá logo.
– Vejo uma história bem construída dos dois. Estão muito próximos de ter um “title shot” (luta por cinturão), o que seria algo de bastante peso para o nosso país, após duas Olimpíadas com medalhistas olímpicos. Estou sonhando para que chegue logo e acredito que o título virá, não importa a organização que for – declarou o ciclista, que começou a pedalar aos oito anos, com uma bicicleta de sucatas montada na oficina do pai, e se apaixonou pelo esporte.
– Nunca cheguei a treinar boxe sério, nem praticar. Só gosto bastante de acompanhar. Dentro da minha preparação, faço alguns exercícios que são similares aos da preparação de um boxeador – explicou Avancini.
Bate-Bola
Henrique Avancini
Terceiro no ranking mundial de MTB, ao LANCE!
Que avaliação faz do seu momento atual no ciclo olímpico?
Consistência é o principal que venho construindo, o que aconteceu muito depois de 2016. Eu venho construindo uma carreira com ascensão expressiva sobretudo desde que fui para a Europa, em 2009. Foi bem gradativo e fora do comum, de onde vim até onde cheguei.
O que mudou após a sua participação na Rio-2016 para a sua ascensão?
A partir da Olimpíada do Rio, passei a apresentar melhores resultados em nível internacional, 2018 foi magnífico, terminei como número 2 do mundo e com um título mundial nas costas. E estou começando 2019 de maneira ainda melhor. Temos tudo para comemorar um medalhista olímpico, quem sabe campeão, também no mountain bike.
Você trava uma briga acirrada pela vice-liderança no ranking no XCO. Quais são suas prioridades para 2019?
A diferença é quase nula para o segundo colocado. Estamos alternando colocações. Comecei com quatro vitórias internacionais, segunda colocação no Cape Epic, que escapou por muito pouco. Um título que seria muito marcante, mas foi importante. Agora, tenho feito um período de regeneração. Meu grande objetivo agora é a Copa do Mundo, no final de maio, e depois tem o Campeonato Mundial.
Você brigou, durante anos, com a CBC devido aos critérios de convocação para a Seleção. O que acha do formato atual? isso te estimulou a focar no projeto olímpico?
Hoje, temos uma situação de critério clara. Foi uma grande briga, mas agora o ranking prioriza o trabalho a longo prazo. Eu aprovo isso. Estamos em uma situação super confortável, algo que nunca se imaginou antes no Brasil. Muito provavelmente teremos dois atletas na modalidade em Tóquio. Apesar de ter um ano para a classificação, eu estou praticamente garantido. Hoje, tenho mais a preocupação de chegar bem do que de buscar a vaga. Isso dá tranquilidade.
QUEM É ELE
Nome
Henrique da Silva Avancini
Nascimento
30/3/1989, em Petrópolis (RJ)
Altura e peso
1,77m/67kg
Conquistas
Campeão mundial de MTB maratona em 2018; quarto colocado no Mundiais de 2017 e 2018; vice-campeão da Cape Epic, em 2019 e terceiro colocado em 2018; três vezes campeão pan-americano (2006, 2007 e 2015); ouro nos Jogos Sul-Americanos de Santiago, em 2014; oito vezes campeão brasileiro de XCO.