Aos 92 anos, Osvaldo, artilheiro das peladas em Curitiba, não pensa em aposentadoria
Jogador teve, inclusive, sua marca eternizada em "calçada da fama" na AABB da capital paranaense
Lance|Do R7

É começo da tarde e faz frio em Curitiba. Os termômetros marcam 5°C. Parece um daqueles dias que muitos optariam por ficar em casa, com uma boa coberta na cama, se pudessem escolher. Mas, apesar do mau tempo, aos poucos a sede da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) começa a se encher de aposentados para a pelada do dia.
Futebol para eles é coisa séria. A definição dos times é feita por sorteio, uma vez que são cerca de 150 jogadores. Com passos lentos e arrastando um pouco a perna devido a um problema crônico no joelho, chega o grande astro do grupo. No auge de seus 92 anos, é um dia especial para o artilheiro Osvaldo Admar Pereira, que entrará para a calçada da fama do clube.
>Comentarista alfineta Neymar após grande início com o PSG
A idade não é obstáculo para Osvaldo. Ele é o jogador mais assíduo do grupo de aposentados. Reclama quando algum companheiro falta à pelada. Se o motivo é chuva, fica irritado:
- Vocês não são de açúcar!
Na última sexta-feira (19), Osvaldo comemorou o aniversário dele junto aos companheiros de time, fazendo o que mais gosta: jogando bola e marcando gol, o de número 1.283 – marca devidamente anotada em sua caderneta pessoal e que ele se orgulha por ser igual a de Pelé.
- Contabilizo cada gol - afirma Osvaldo.
Como chegar aos 92 anos não é para qualquer um - muito menos jogando bola - o feito rendeu uma homenagem dos colegas de time: os pés de Osvaldo foram gravados na "calçada da fama" do clube.
Trata-se de um fato inédito, digno de Guinness Book e que merecia ser eternizado, conforme Sergio Chiochetta, um dos fundadores do grupo de peladeiros.
- Aqui no clube, certamente, não terá outro que consiga chegar a essa marca - prevê.
Osvaldo talvez seja o jogador mais velho em atividade nos campos de pelada do país. E não perde um jogo. É figurinha marcada nas partidas de terças e sextas-feiras. Locomove-se 10 km de onde mora, perto do Parque Barigui, até a sede do clube. Faz o trajeto de ônibus, carona ou dirigindo o próprio carro.
Osvaldo impressiona já no vestiário, com a facilidade que demonstra ao vestir e amarrar as chuteiras. Alguns companheiros bem mais novos já não têm a mesma destreza.
- O futebol é uma maravilha. É isso que me dá vida. Graças a Deus nunca me machuquei forte e sempre joguei. A melhor coisa da vida é viver com saúde. Graças a Deus, não tenho problema nenhum. Só de tiroide - orgulha-se Osvaldo.
Viúvo há cinco anos, o futebol segue sendo uma das principais alegrias para Osvaldo que aponta o esporte, inclusive, como elemento que ajuda a aliviar as dores e dar maior sentido a sua vida:
- Futebol é vida. Ficar só em casa não é fácil. Aproveito a vida jogando o futebol de terça e sexta-feira.
O companheiro de time, José Moacir Favetti, diz que o atleta sênior é um exemplo de que não se deve deixar tomar pelo desânimo:
- Quando estou no vestiário me queixando dos meus setenta e poucos anos e olho do lado o ‘véio’ botando a chuteira, isso serve como motivação.
Aposentado dos Correios desde o final da década de 1970, Osvaldo nasceu em Jaraguá do Sul-SC, mudou-se jovem para Joinville-SC, depois para o Rio de Janeiro e, por fim, para Curitiba, em 1953, onde vive desde então.
É torcedor do América – segundo ele, o melhor time da década de 1950. Em relação ao futebol paranaense, revela preferência pelo Coritiba, mas diz simpatizar com os três integrantes do Trio de Ferro – além do Coxa, o Paraná e o Athletico:
- Torço para o Coritiba e para os outros estarem bem e podermos assistir a jogos bons.
Com tanta experiência de vida, Osvaldo sabe das coisas e tem seus segredos. É o “curandeiro" do time, sempre com fórmulas para combater pequenas lesões. Para manter a vitalidade, Osvaldo não abre mão de sua cachacinha – a qual bebe moderadamente ao final do jogo, harmonizando com uma cerveja Antártica.
A prática do futebol, aliás, é apoiada pela família como apontou seu filho, Jorge Luiz Pereira, que tem 67 anos de idade.
- Eu incentivo, pois sei que ele respeita o limite dele. E, com esse compromisso, ele está em contato com os amigos. Isto é muito importante - afirmou.
Aos 92 anos, são muitos os motivos para comemorar. Ao final da pelada, após os pés já gravados na calçada da fama, o grupo de aposentados se reuniu para gritar um uníssono:
- Parabéns, Osvaldo!
Emocionado, Osvaldo agradeceu. Mas disse que quer mais. Pretende continuar fazendo gols “até quando Deus permitir”.