Jovem é a primeira mulher com síndrome de down a conseguir faixa preta de taekwondo no Brasil
Mônica Rocha, de 28 anos, pratica a luta há dez anos e sempre sonhou chegar a esse nível de graduação
Esportes|Yasmim Santos*, do R7
O dia 17 de junho mudou a vida de Mônica dos Santos Rocha, de 28 anos, que se tornou a primeira mulher com síndrome de Down a virar faixa preta de taekwondo — arte marcial sul-coreana — no Brasil. A jovem treinou por dez anos para atingir o objetivo. "Estou muito feliz por ter realizado o maior sonho da minha vida", afirmou, em lágrimas, ao R7.
Segundo Ranniere dos Anjos, de 41 anos, taekwondista há 25 anos e professor de Mônica, desde que ela teve contato com a arte marcial no Cieja (Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos), parte do IOK (Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural), idealizava esse nível de graduação.
"Há dez anos, quando ela era faixa branca, já falava que queria alcançar a faixa preta. Ela já veio motivada durante esses dez anos", conta.
Foi o taekwondo que tirou Mônica de um histórico de bullying e preconceitos. O esporte foi um desafio, mas que lhe deu motivação e, com o passar dos anos, se tornou uma forte paixão.
Paixão essa que nem o pai, Márcio Rocha, conseguia prever. No começo, ele "achava que o esporte era para homem". Após ser convencido do contrário, pôde acompanhar a filha crescer no taekwondo e confessa: "Ela me surpreendeu".
Hoje, Rocha diz ter começado a gostar da arte marcial. A mãe de Mônica, Gildete Pereira dos Santos Rocha, de 62 anos, também abraçou o esporte e acompanha a filha nos treinos e nas aulas do instituto, onde ela é instrutora.
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Segundo Gildete, o taekwondo "preencheu a vida" da filha. Por essa razão, foi extremamente especial vê-la chegar à faixa preta.
"É muito emocionante, porque ela faz coisas que eu, mãe dela e que não tenho nenhuma deficiência, não consigo fazer", relata.
O próximo desejo de Mônica é dar aulas e passar a outras pessoas os ensinamentos que aprendeu, preferencialmente em seu próprio espaço.
"Sonho em abrir uma academia e mostrar para as pessoas que tenho capacidade de dar uma aula", conta.
A faixa preta marca a chegada de um atleta à maturidade e garante que ele foi capaz de vencer todos os desafios. Portanto, o próximo passo da jovem é mesmo transmitir o conhecimento adiante.
Mesmo que, por ora, a academia própria não seja uma realidade, Ranniere afirma que Mônica passará de aluna a auxiliar em suas aulas, para que ela adquira, aos poucos, a autonomia de professora.
"Vai ser exemplo para muitas outras pessoas, para que entendam que sonho é possível, não só no taekwondo, mas de forma geral", celebra.
Mônica entende o papel inspirador que desempenha e aconselha: "Nunca desista dos seus sonhos, vai em frente. Se consegui o meu agora, corram atrás que vocês [também] conseguem".
3º Festival de Inclusão
A premiação da jovem aconteceu durante o 3º Festival de Inclusão, organizado pelo Instituto Olga Kos com apoio da SMPD (Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência), da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e da Secretaria Especial do Esporte, do Ministério da Cidadania.
O destaque do dia era a graduação de Mônica, mas também houve a entrega de medalhas a outras pessoas atendidas pelo projeto — com deficiência intelectual e em situação de vulnerabilidade social —, que participaram de oficinas de janeiro a junho.
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Receberam condecorações aqueles que compareceram nas modalidades capoeira, caratê, taekwondo, judô e futsal. Apenas no departamento de esportes, são 2.500 pessoas atendidas pelo instituto.
"Não trabalhamos para promover atletas, formar atletas, mas, para nossa grata surpresa, acaba aparecendo. Nossa visão é trabalhar o desenvolvimento social, cognitivo e motor", explica Cristiane Souza, coordenadora de esportes do Olga Kos.
*Sob supervisão de Carla Canteras
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