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Ao Jogada10, técnico que revelou Neymar e Coutinho na Seleção relembra resenhas históricas

Lucho Nizzo, hoje aos 62, recorda ao J10 várias curiosidades em relação aos craques; Vasco x Santos se enfrentam no domingo (30)

Jogada 10

Jogada 10|Do R7

Foto: Arquivo Pessoal

Chegou o momento, torcedor! O Brasileirão começa neste sábado (29), e um dos principais jogos ocorre no domingo (30), na Colina Histórica de São Januário. Será quando Vasco e Santos medirão forças pela rodada inaugural. Havia a enorme expectativa para o primeiro confronto em solo nacional entre Coutinho e Neymar, que estão de volta ao seus clubes formadores. O craque santista, porém, lesionado, não vai a campo.

E, pensando nisso, o Jogada10 cavucou a história e encontrou o técnico responsável por fazer a primeira convocação de Philippe Coutinho e Neymar para as Seleções de base do Brasil. Lucho Nizzo, hoje aos 62 anos, relembrou histórias de quando convivia não só com esses craques, mas como outros também lapidados por ele, a exemplo de Alisson (Liverpool), Casemiro (Manchester United) e Marcelo (ex-Real Madrid), falando muito sobre o processo do trabalho formativo.

“O trabalho de um treinador de formação é projetar o que você pega, naquele momento com 15 anos, faz uma variação jogando para cima cinco anos e a evolução deles se tratando de clubes grandes. Obviamente esses caras vão chegar. Então modéstia à parte eu acertei mais do que errei”, inicia o comandante.

Coutinho chega primeiro à Seleção


Nizzo relembra a cronologia de quando conheceu a dupla. Ele foi treinador do sub-15, sub-16 e sub-17 da Seleção entre 2007 e 2009, revelando que Neymar chegou depois de Coutinho.

“A sub-15 foi formada. Na época, os dois jogadores de mais destaque se chamavam Philippe Coutinho e Wellington Nem. Na verdade, o Neymar chega bem no finalzinho, a equipe já estava pronta. O processo formativo já vinha de sub-15. E eu rodava o Brasil todo! Outra coisa que ninguém sabe: as pessoas acham a gente convoca porque o empresário manda. Pelo menos no meu trabalho, graças a Deus, sempre foi de forma diferente. A gente tinha liberdade pela CBF para rodar o Brasil, a gente buscava acompanhar as competições de calendário. Copa Nike, Copa Tupi, Copa Londrina, Copa Saudades. São várias Copas. A gente pede ao setor de seleções, eles fazem um mapinha para a gente, emitia passagem e a gente ia embora”, recorda.


 


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Primeiro Granja, depois viagem

Nizzo, aliás, relembra que não convocou inicialmente o garoto do Santos para competições fora por preferir primeiramente ambientar os jovens em treinos na Granja Comary, onde as Seleções treinam.

“E lá, a gente é recebido pelos supervisores dos clubes, que criam atmosfera para a gente observar os treinamentos. Então, por exemplo, eu ficava uma semana no Santos, uma semana no São Paulo para conhecer os meninos. E na Copa Tupi, eu tive a felicidade de encontrar o Neymar. A equipe já estava formada, praticamente definida. Aí quando eu vim, tínhamos uma competição fora e eu tinha como praxe não convocar os jogadores para viagem fora. Gostava de convocar o cara para uma semana na Granja (Comary) para se familiarizar ao grupo e depois, sim, levar ele para fora. Assim, não o convoquei”, revelou.

Sorte com Neymar

Ele acredita que deu “sorte” ao não convocá-lo, pois, no dia seguinte à convocação, saiu a notícia da renovação milionária do garoto com o Peixe.

“Aí tive a maior sorte da minha vida: na véspera da convocação, eu ainda cometei com meu assistente, vamos deixar para outra convocação. No dia seguinte sai a manchete no jornal que o Neymar tinha feito uma multa rescisória não sei quantos milhões de dólares. Aí eu penso: “se eu convoco, iam dizer que eu tinha esquema pra convocar para poder valorizar o garoto”. Então dei maior sorte porque eu não convoquei”, explica.

Coutinho e Neymar, enfim, juntos

Nizzo conta sobre a disputa do MICFootball, um torneio internacional com o objetivo de reunir jovens jogadores. Ele ocorre na Espanha, local que Coutinho já conhecia bem.

“Depois que ele chega, ele assumiu o protagonismo, que passou a ser Coutinho e Neymar. Mas o Coutinho já era muito conhecido. Quando a gente chega em Barcelona para o MIC, que todo ano se faz, o Coutinho lá já era uma figura extraordinária e todo mundo conhecia. Coutinho, Coutinho, Coutinho! Porque nós fomos como sub-15, como sub-16 e como sub-17, então ele já ficou conhecido. Essas competições, os europeus criam para começar já a vincular quais são os futuros jogadores que eles vão contratar”, recorda.

Segundo Lucho, vários jogadores já são cooptados pelos gigantes europeus neste torneio.

“Barcelona, Real Madrid…No meu grupo de 88, Marcelo lateral-esquerdo foi para o Real Madrid através dessa competição. Denilson, do São Paulo, foi embora para o Arsenal. Todos esses meninos, o Willian, do Chelsea, também foi visto lá. Então é uma competição que eles mandam os scouts de toda a Europa para observar. Só os clubes tops. Eles já começam ali a detectar e acompanhar os meninos”, disse.

Início de longa amizade entre os craques

Segundo Nizzo, por já ter participado de outras edições, Coutinho chegou ao MIC com mais pompa. No entanto, foi ali que a dupla com Neymar se iniciou, com os jogadores ficando inseparáveis.

“E o Coutinho era o grande nome. Muito mais conhecido que o Neymar. Neymar não tinha esse alcance porque ele não saía do Brasil. Mas o Coutinho já estava desde o sub-15. Nos Estados Unidos, Copa Nike, o moleque realmente era diferenciado. E as competições eram muito: “quem joga mais?” Aí a gente precisa explicar porque as pessoas começam com essa coisa “quem é melhor?”. Coutinho é mais cerebral, que cadencia as jogadas. O Neymar já é um finalizador. Um completa o outro. E, assim, conseguimos que eles jogassem juntos, a equipe começou a subir de produção. E eles ficaram parceiros, sempre viajavam ao lado um do outro nos ônibus, ficavam no mesmo quarto”, relembrou.

Timidez de Coutinho

A timidez de Coutinho não é de agora! Lucho Nizzo recorda que tal característica já existia no craque do Vasco. Ele, porém, exalta a qualidade do, à época, menino.

“A gente brincava, sempre fui de brincar com eles. Sempre pensei que tinha que descer da minha idade para entendê-los. Eu me sentia um jovem para poder lidar com eles. Sempre foi muito na dele, tímido, não é muito de falar. Mas pô, joga para caralh*. É um negócio sem explicação. Desde os 15 anos ele já tinha essa bagagem e essa experiência toda. É espírito de adulto num corpo de um menino de 15 anos, tamanha a facilidade em lidar com a bola. Foi ali que se conheceram! Na época, eles eram muito colados, muito parceiros, sempre juntos”, afirmou.

Resenha incrível com Eto’o

O trabalho de um técnico de base não envolve apenas campo e bola. Afinal, os jogadores chegam muito jovens e inexperientes, além de pouco conhecidos. Lucho, então, relembra uma passagem envolvendo a lenda Samuel Eto’o, em que pode dar uma bela lição aos craques.

“Me recordo numa ocasião que a gente estava voltando de Madrid, do MIC, esperando o voo. E aí aconteceu uma aglomeração no aeroporto e fomos. Era o Eto’o de terno embarcando. A multidão toda em cima dele pedindo autógrafo. Eto’o pacientemente atendendo todo mundo, uma educação, uma simplicidade. E eles (Coutinho e Neymar) estavam com vergonha. Aí eles falaram: “E aí, professor?” E eu falei: “Ué, vocês querem um autógrafo? Você vai lá e entra na fila, é normal”. E eles foram. Quando eles voltaram, eu falei: “Vocês só não podem esquecer disso aí, estão vendo? Ele teve “mó” paciência, atendeu a todos. Vocês, um dia, se chegarem ao topo que o Eto’o chegou, não esqueçam que vocês devem respeito e devem atenção a todos os torcedores. Porque vocês brigam para chegar nesse ponto””, recordou.

Ele seguiu, dando novos exemplos efetivos de como funciona o trabalho formativo de um treinador.

“”Quando chega nesse ponto, vocês começam a não querer atender, a não querer tirar foto ou dar autógrafo, então, irmão. Estão vendo aí o Eto’o? Put* jogador, é um cara que é consagrado, mas está aí humildemente atendendo a todo mundo. Inclusive a vocês dois! Então que vocês não esqueçam desse momento.” Esse é o trabalho formativo. Não é só o futebol. É formar o homem, o cidadão, profissional que vai entender o futebol como uma ferramenta de transformação social. Não só dele, mas daqueles com que ele terás (contato)”, afirmou.

Pseudo-parceiros?

Um fator que acomete muitos craques que furam a bolha e se tornam ícones mundiais é o famigerado “parça”. Pessoas que, segundo Nizzo, não são os verdadeiros amigos de infância e que visam se beneficiar da fama de tais jogadores.

“Eu preciso contextualizar algumas coisas para você entender o mecanismo do futebol. Esses meninos começam muito cedo, têm somente seus familiares. Exemplo: eu tinha muito contato, mas muito contato mesmo com mãe, o pai do Philippe e os dois irmãos. Todas as apresentações eu encontrava com eles. Apresentação deles eram sempre no Galeão, onde a gente marcava um encontro. Todos chegavam ali, embarcavam no ônibus e íamos para a Granja. Quando a gente retornava, a gente também deixava eles no aeroporto”, iniciou.

Nizzo segue, chegando ao termo “pseudo-parceiro”.

“Mas eu sempre conversava com a mãe e o pai, pessoas humildes. O que acontece? Quando esses caras começam a chegar no estrelato, começa a aparecer uma porrada de urubu. Esses urubus vão entrando, e têm por finalidade fazer um cordão de isolamento para que eles não tenham mais contato com ninguém porque eles querem somente eles usufruir mesmos. É o pseudo-parceiro”, disse.

“Hoje, não consigo contato”, diz o treinador

Segundo ele, tais pessoas dificultam acesso não só de fãs, mas também de pessoas que outrora foram próximas dos craques.

“Mas ele só é parceiro porque o cara chegou no estrelato, aí é mole ser parceiro. Conviver das coisas boas, das vantagens. Eu quero ver se eles não chegassem ao estrelato, se essa rapaziada ficava toda com eles. Então esses caras vão dificultando o acesso dos verdadeiros amigos a esses meninos. Eu até hoje não consigo ter o telefone do Philippe e do Neymar, porque ninguém me dá. Eles querem ter os meninos só para eles. Eu também não ligo. De 15 a 17 anos, viajávamos, permanecíamos juntos, hotel, resenha, jogo, preleção… A gente tinha contato com eles”, lamentou.

Lucho conta bastidores com pai de Neymar, que levava o ainda menino à Granja junto com vários amigos e pedia ao treinador que os liberassem para brincar. O professor, claro, dava permissão, mas lamenta perder o contato.

“O Neymar, o pai dele, por exemplo, levava o carro cheio de colegas para a Granja. Ele dizia: “professor, ele pode sair para brincar com os amigos?” Domingo era liberado após o almoço até à noite. A gente tinha contato. Hoje, eu não consigo. Eu não esquento minha cabeça, porque os caras acham que você vai pedir alguma coisa. A curiosidade seria sentar com esses caras e relembrar as situações engraçadas, as brincadeiras, essas coisas todas”, afirmou.

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