‘Tite da Várzea’ coleciona troféus e sonha treinar um time profissional
Fabrizio Morandi já conquistou 16 taças – sendo todas as campanhas invictas – com times da várzea em menos de dez anos de carreira no esporte
Futebol|Cesar Sacheto e Guilherme Padin, do R7
O gesseiro Fabrizio Morandi, de 41 anos, morador da zona norte de São Paulo, casado e pai de cinco filhos, certamente passa despercebido pela imensa maioria dos analistas de futebol. No entanto, o apelido dado por companheiros do futebol de várzea revela muito mais sobre este homem simples: Tite da várzea.
Técnico do Existente Futebol e Samba, do Jaçanã, Morandi já conquistou 16 taças de importantes copas e torneios de várzea na Grande São Paulo desde que iniciou a carreira, em 2011. Segundo os amigos, os títulos revelam qualidades similares às conferidas a Tite.
"O Fabrizio é um cara calmo, observador, transparente e analista. Ele não possui um esquema único para todos os jogos, pois costuma analisar cada adversário", avalia Diego Nunes, presidente do UPA Jardim Brasil, um dos principais times da zona norte.
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Morandi confirma a utilização de estratégias diferentes para os jogos, de acordo com o perfil dos oponentes. "Depende do jogo, do adversário. A gente estuda e não trabalha sozinho. Temos uma comissão técnica", explica.
Mas, outras características atribuídas ao treinador da seleção brasileira também são observadas no aspirante a técnico profissional, como a preocupação em cuidar dos jogadores também fora dos gramados.
"Ele conversa com cada um em particular e assim consegue identificar os problemas. Com isso, extrai o máximo deste jogador dentro das quatro linhas", revela Diego Nunes, do UPA Jardim Brasil.
A comparação é um orgulho. Fã de Tite, Morandi sonha em se tornar um técnico profissional e trabalha para alcançar o objetivo. As inúmeras dificuldades, como administrar trabalho, família e treinos não desaminam o treinador.
"A gente vai levando, dando um jeitinho de cá e outro de lá. Chego cansado do trabalho, tenho que dar treinos às terças e quintas. Também treino outra equipe. E tem os jogos. Ontem mesmo (domingo) foram três. A gente chega em casa exausto", conta o técnico. Mas Morandi diz que tem respaldo familiar para seguir em frente. "Eles me apoiam bastante".
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A falta de dinheiro para manter uma equipe varzeana também afeta o treinador. "Você tem que lavar o fardamento, mandar mensagem para os jogadores (para treinar e jogar) praticamente se humilhando, porque não paga. Mas, fazemos por amor", justifica.
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Outra barreira vencida pelo comandante foi a da violência urbana. Morandi disse que precisou de muito esforço para controlar o grupo de jogadores — formado, em média, por jovens de até 23 anos — e criar um ambiente saudável no Existentes.
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"De dois anos em meio para cá, a gente mudou muita coisa. Era um time onde havia muita confusão, drogas no vestiário. Hoje, a gente tem comando. Os moleques me respeitam", frisou.
As rixas entre os times na várzea é outro fator que Morandi procura afastar nas preleções com os atletas. "Não adianta você criar rivalidade. No futebol, um dia você ganha e no outro perde. Isso é natural", complementa o 'Tite da Várzea'.
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"Como amante do futebol, gostaria de um dia ver o Tite da várzea representando meu time do coração. Ele é um cara capacitado, que basta ter uma oportunidade em algum clube profissional que com certeza irá despontar pelo Brasil e pelo mundo", projeta o amigo e colega de várzea Diego Nunes.
Confira a relação de títulos do Tite da Várzea:
Copa V. Bansk (2010)
Copa Noroeste (2010/2011)
Copa Mantiqueira TDT (2011/2012/2013)
Copa Vila Arding (2014/2016)
Copa Estrela Vermelha (2014)
Jogos da Cidade de São Paulo (2015/2016)
Copa Lifugal (2016)
Copa Fuzil (2016)
Copa Joni Walker (2017)
Copa Nove de Julho (2017)
Copa Cecap de Guarulhos (2018)
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