Técnico do Londrina em 1996, ator famoso fazia ioga com jogadores
Nuno Leal Maia tinha jeito bem diferente de comandar a equipe
Futebol|Gustavo Alves, do R7

Muito antes do aparecimento do marketing no futebol brasileiro, o Londrina Esporte Clube, do Paraná, inovou. Até demais, pra falar a verdade.
Em 1996, o presidente do clube, Marcelo Caldarelli, resolveu dar uma sacudida no cenário esportivo. Teve uma ideia brilhante: contratar o ator Nuno Leal Maia para treinar a equipe na disputa do Estadual daquele ano.
Sergio Prestes, o Serginho, um dos mais experientes atletas daquele time, se lembra com carinho da passagem do astro pelo clube.
— Eu não sei se isso foi planejado pelo presidente ou foi uma loucura da cabeça dele. Foi bem-sucedida, na minha opinião. Todo mundo achou estranho no começo mas teve uma mídia forte em cima do Londrina naquela época.
A aposta deu certo, na medida do possível. Nuno chegou ao clube no início de 1996, quando ainda vivia grande fase como ator. Seu auxiliar-técnico, também contratado naquela temporada, era Romeu Evaristo, que ficou famoso por interpretar o Saci-Pererê no Sítio do Pica-Pau amarelo. Seginho conta que se surpreendeu com a dupla logo no início dos treinamentos.
— O Nuno e o Romeu eram pessoas muito bacanas, nada a ver com astros globais. Eles usavam mais a parte psicológica, de contato com o ser humano e conversavam bastante. Na verdade, nós, que éramos os líderes do time, é que comandávamos as ações dentro de campo. Por serem tão boas pessoas, eles conquistaram todo mundo. Nós acabamos comprando a ideia deles ali e a coisa saiu bem.
Nuno tinha um passado com o futebol. Chegou a jogar pelo juvenil do Santos, seu time do coração, mas trocou a carreira nos gramados pela profissão de ator. Entre as gravações de novelas no Rio de Janeiro, arrumava espaço para ir até Londrina para comandar a equipe. Quando o atraso era grande, o telefone ajudava na hora de passar instruções para quem estava com o time.
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— Quando não tinha jogo no meio de semana, ele chagava só na quarta ou quinta-feira à noite. Nós treinávamos com outros integrantes da comissão técnica nos outros dias. Ele dirigia quinta e sexta o treinamento e nós íamos pro jogo no final de semana. Quando tinha jogo no meio de semana, de quarta, aí ele chegava no dia do jogo.
Nuno Leal Maia fazia o que podia para arrumar o time antes da partida, conta o ex-jogador.
— Ele pegava algumas informações e falava "vai jogar tal e tal pessoa". Escalava o time. As palestras dele eram mais motivacionais do que táticas e técnicas. Ele tinha noção do futebol, sem dúvida, mas a prática do dia a dia, do treinamento do futebol, não tinha. Nem o linguajar, o vocabulário, era uma coisa diferente mesmo. Mas ele não falava nada incoerente, era só de outro jeito. Ele ficava mais na questão da motivação, de levantar o astral de todo mundo, fazer o pessoal se sentir bem.
A rotina era diferente de qualquer outro técnico. Principalmente na hora dos treinamentos físicos.
— Ele tirava alguns jogadores mais velhos, outros até com um pouco de sobrepeso, e levava para fazer ioga na beira da piscina do hotel onde ele morava. Fazia uns alongamentos e tal. O preparador físico queria morrer porque sabia que nós precisávamos treinar, perder peso. Mas o Nuno tirava. A gente sentava na beira da piscina e ficava lá falando sobre futebol, sobre o dia a dia, batendo papo mesmo. Fazíamos uma hora de alongamentos, com bastante calma, exercícios de ficar em alguma posição, meditando. Era ioga mesmo. Uma ioga mais simplificada dele.
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Nuno tinha o sonho de trabalhar com futebol, e se achava capaz de comandar uma equipe profissional. Apesar da falta de intimidade com o trabalho, conseguiu levar o Londrina à segunda colocação nos dois turnos classificatórios do Campeonato Paranaense. Quando foi demitido, o time caiu de produção.
- Acho que deve ter durado uns 2, 3 meses. Nos classificamos bem. Quando foi pro turno final, mudou a comissão técnica. Quando o presidente viu que poderíamos conseguir alguma coisa no campeonato, decidiu trazer alguém mais experiente. Deu errado totalmente. Mudou do carinho total para a porrada total. Tanto é que depois que ele saiu nós perdemos todos os jogos da fase final.