Futebol Saúde mental é tabu no futebol e só metade dos clubes da série A tem psicólogo

Saúde mental é tabu no futebol e só metade dos clubes da série A tem psicólogo

Calleri, Dudu e Richarlison falaram sobre o assunto recentemente; acompanhamento com psicólogo melhora o rendimento em campo

  • Futebol | Yasmim Santos*, do R7

Resumindo a Notícia

  • Richarlison, Dudu e Calleri são exemplos de jogadores que falaram sobre o assunto.
  • Saúde mental ainda é tabu no futebol.
  • Cuiabá e Internacional não têm um psicólogo à disposição.
  • Contato com psicólogo melhora o rendimento do atleta.
Jogadores tiveram coragem de falar sobre saúde mental

Jogadores tiveram coragem de falar sobre saúde mental

André Coelho/EFE - 17/9/2023/Paolo Aguilar/EFE - 1/2/2022/Reprodução/Instagram @7_dudu

Richarlison, Dudu e Calleri puxam a lista de jogadores que tiveram coragem de, recentemente, falar sobre saúde mental no meio do futebol. O tema é considerado um tabu, mesmo que esteja diretamente ligado ao rendimento do atleta em campo. O são-paulino, inclusive, chamou atenção na decisão do último domingo (24), contra o Flamengo, ao desabar em lágrimas após o apito final confirmar seu primeiro título com a camisa tricolor. 

"Para que um atleta possa performar, ele precisa entender a importância da regulação emocional. Um atleta com segurança psicológica, dentro de um grupo sadio, de uma instituição que o protege, tanto do ponto de vista psicológico como social, é fundamental", explica o psicólogo do esporte Paulo Ribeiro, atualmente no Botafogo.

O especialista diz que essa é a forma de o jogador conseguir extrair o seu melhor potencial e performance. A segurança psicológica faz com que ele entenda que é um ser humano como qualquer outro, que pode ter dias e momentos ruins.

Mas, mesmo diante dessa relevância, apenas metade dos 20 clubes brasileiros da série A mantém um psicólogo fixo na comissão técnica. América-MG, Corinthians, Cruzeiro, Goiás e Grêmio direcionam o atleta para profissionais externos, quando há demanda.

Flamengo e Fluminense mantêm os profissionais no departamento médico, enquanto Cuiabá e Internacional não têm um psicólogo à disposição.

Apenas metade dos clubes que disputam a série A tem psicólogo na comissão técnica

Apenas metade dos clubes que disputam a série A tem psicólogo na comissão técnica

Arte R7

Para Katia Rubio, psicóloga do esporte e professora da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), a assistência psicológica merece atenção como qualquer outro problema de saúde.

"Quando você sente uma dor de estômago, procura o médico. Quando se sente pressionado pelas questões da vida, o acompanhamento é supernecessário", afirma.

O impasse mais comum para a procura de ajuda, segundo Ribeiro, é a associação entre saúde mental e vulnerabilidade. A ideia de se expor diante do treinador ou de o clube afastar o atleta, que só procura auxílio em casos extremos e urgentes.

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Porém, a busca por apoio não deve ocorrer apenas nesses momentos, já que a psicologia traz autoconhecimento ao jogador. "Eu diria que é quase profilático, tem o caráter de se preparar para as questões mais agudas da vida", declara.

Esse preparo é ainda mais relevante ao considerar que a camada entre a vida profissional e a pessoal dos atletas é fina. Constantemente, eles são cobrados em redes sociais e são alvo de protestos da torcida.

Quase tudo se torna público: problemas familiares, conjugais (como aconteceu com Calleri) e desentendimentos. Além da dificuldade de separar o que é interesse do que é amizade, como foi com Richarlison.

Essas situações, em que algo sai do usual ou do comum, são um alerta. Segundo Katia, lidar com um fato novo é difícil e causa desconforto. E essa emoção é um disparador de ansiedade e estresse.

Para resolver a situação, não há segredo, e a psicóloga é direta: "Uma pessoa que não se sente bem em momento de extrema exigência precisa de ajuda, ponto".

À torcida, cabe entender aquele jogador como o ser humano que é e ter respeito. Priorizar a regulação emocional é a melhor forma de conseguir contribuir mais com o time.

E em caso de lesão?

O caso de Dudu, em específico, chamou atenção nos últimos dias. Depois de romper o ligamento cruzado anterior do joelho direito e sofrer uma lesão de menisco durante jogo contra o Vasco, pelo Brasileirão, o clube ofereceu a ele suporte psicológico, além do acompanhamento médico.

O atacante só retorna ao campo ano que vem — entre nove e 12 meses. Dudu já falou abertamente que fez e faz terapia, mas esse apoio se torna ainda mais fundamental em caso de lesão.

Justamente porque muita coisa se passa na cabeça de um atleta experiente que perdeu a vaga e que tem de lidar com outro jogador ocupando o seu espaço, sem saber quando retorna ao gramado.

O importante é ele estabelecer um plano de metas até o retorno, que depende do tamanho e do tempo de recuperação daquele dano.

"O enfrentamento dessas lesões por parte do atleta vai depender também, muito, do capital mental que ele tem, ou seja, o que ele juntou ao longo da sua carreira e que ele conseguiu em nível de superação de problemas. Essas memórias que ele vai criando e esse aprendizado ao longo da carreira no futebol ajudam nesse processo de recuperação", orienta Ribeiro.

*Sob a supervisão de Gabriel Herbelha

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