Saiba por que Renato é o técnico há mais tempo em um clube da Série A
Treinador do Grêmio desde 2016, ele soube ganhar a confiança da diretoria depois de ter feito história como jogador
Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Ao longo dos anos, o Grêmio foi um clube que passou por várias revoluções para se manter com um dos grandes. A primeira diz respeito a um contexto social.
Foi quando se abriu para a diversidade, promovendo uma interação, para muitos tardia, entre negros e brancos no elenco.
Na década de 40, o ponta Tesourinha foi contratado e "escancarou-se a abertura que já havia no clube para pessoas de todas as cores", segundo o escritor Léo Gerchmann, em seu livro "Somos Azuis, Pretos e Brancos", que conta a história do clube e contesta a afirmação de que em muitas ocasiões, no passado, o clube se pautou por atitudes racistas.
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A segunda revolução, veio dentro do conceito de jogo. Até os anos 70 e 80, a equipe era conhecida por um estilo de jogar muito mais uruguaio, baseado em forte marcação e um jogo pesado, com bolas alçadas, do que brasileiro.
O protagonista desta mudança foi um jovem atacante, alto, cabelos longos, personalidade forte e extrovertida chamado Renato. Com a contribuição do treinador Valdir Espinosa.

Nascido em Guaporé (RS), o craque logo ficou conhecido como Renato Gaúcho. Seu estilo sempre irreverente, muito ligado às coisas do Brasil, ajudou a transformar a imagem sisuda do Grêmio em uma bem mais descontraída, com muita ginga carioca inserida no estilo gaúcho.
Desde 1983, quando ele comandou o Grêmio em campo, na vitória por 2 a 0 sobre o Hamburgo, dois gols dele, colocando os alemães para rebolar, Renato levou o Grêmio ao título mundial e dava seus primeiros passos para se tornar o maior ídolo da história do clube. Antes, ele já havia sido decisivo, dando um cruzamento espetacular, após levantar a bola quase na linha lateral e lançar para Caio marcar o gol do título da Libertadores daquele ano.
Polêmico, muitas vezes extrapolando nas falas, como jogador, Renato trouxe alegria e leveza dentro de campo. Suas arrancadas e dribles deram novas cores ao estilo de jogar do clube. Essa nova visão facilitou o surgimento de novos craques, como Ronaldinho Gaúcho.
Ídolo como técnico
Como técnico que mais comandou o Grêmio em todos os tempos, superando os 400 jogos, ele amplia cada vez mais sua credibilidade junto à torcida e diretoria.

Renovou por mais uma temporada, antes da final da Copa do Brasil de 2020 (em 7 de março último), independentemente do resultado, algo raríssimo no futebol brasileiro. O Grêmio acabou sendo derrotado.
Renato soube utilizar toda essa história e trabalhá-la com competência, aproveitando a confiança nele depositada e se mostrando sintonizado com os anseios da diretoria.
Na montagem do time, Renato compreendeu a importância de dar para a equipe seu estilo dos tempos de jogador: uniu técnica, habilidade e força física.
No cargo de técnico do Grêmio desde setembro de 2016 (em sua terceira passagem como treinador do clube), a cada temporada ele busca reestruturar a equipe para que ela não perca a competitividade. É de longe o técnico que está há mais tempo em um clube da Série A.
Mesmo avesso a conhecimento teóricos, ele recicla também alguns de seus conceitos futebolísticos, para que a relação com o clube e o elenco não se desgaste.
E, como uma coisa leva a outra, seu status o fez ganhar influência na gestão.
Essa compreensão das necessidades financeiras, buscando a cada ano encontrar substitutos para nomes que acabaram negociados, também levou a diretoria a considerar que mantê-lo é muito mais produtivo do que ficar trocando de técnico a cada temporada.
A pressão exercida sobre ele, desta forma, se assemelha à de um técnico no futebol europeu. Ele não depende exclusivamente de uma sequência de vitórias para manter a confiança da diretoria, algo praticamente inédito entre os técnicos no futebol brasileiro.
Maior ídolo
Para Leo Gerchmann, sob o prisma dos resultados alcançados, Renato pode ser considerado o maior ídolo da história do clube.
"O Renato pode ser considerado o maior ídolo da história do Grêmio pelo que conquistou, mas é muito complicado, por outro lado, dizer isso em um clube que está para completar 118 anos, tem o Eurico Lara, que tem o nome no hino, o próprio Lupicínio Rodrigues, que não era jogador, tem uma representatitivade fantástica no Grêmio, o Aírton Pavilhão...a bandeira do Grêmio tem uma estrela dourada em homenagem a Everaldo, uma das feras que conquistaram o tri da seleção em 70, são figuras muito reluzentes. O Renato tem essa questão dos títulos".
Outro ponto importante citado por Gerchmann é a relação do ex-craque com o número 7.
"O Renato, na Libertadores e no Mundial, foi o cara que decidiu, e quando volta como treinador, conquista títulos importantes, é uma figura ímpar e consolidou o número 7 como um número especial no Grêmio, depois utilizado por Paulo Nunes".
Não foram raras as vezes em que suas declarações o levaram a ser visto como arrogante. Mas, pesando os prós e os contras, o Grêmio reconhece a importância de Renato para o clube.
Quando completou 58 anos, em setembro último, ele foi homenageado com uma mensagem que simboliza toda essa reverência.
"Hoje, o maior ídolo da nossa história, e nosso treinador, completa mais um ano de vida! Feliz aniversário, Renato Portaluppi!" declarou o clube, pelo Twitter.
Ele, por sua vez, já não havia deixado a modéstia de lado ao exigir que o clube erguesse uma estátua em sua homenagem. Foi atendido. E na cerimônia de inauguração, em março de 2019, foi a vez dele relevar a importância do Grêmo em sua vida.
"É uma homenagem inesquecível para mim. Mas a maior alegria minha é dar alegrias para nossa torcida. Há uma semana que não durmo. É difícil até as palavras saírem. Se eu já era gremista, imagina agora. Meu sangue sempre foi e sempre vai ser azul", declarou o treinador, que, assim como o apelido do clube, é imortal na história gremista.
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