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BRASILEIRO 2022

Quem são os barras bravas que serão presos se vierem ao Brasil

Moro e ministra argentina assinam acordo e trocam informações para deter torcedores violentos daquele país caso cheguem para a Copa América

Futebol|Eduardo Marini, do R7

Moro recebeu informações sobre 5.400 barras bravas de 44 times argentinos
Moro recebeu informações sobre 5.400 barras bravas de 44 times argentinos

O ministro da Justiça, Sergio Moro, assinou em Buenos Aires, nesta sexta-feira (31), um acordo com os argentinos para compartilhar informações sobre 5,4 mil torcedores barras bravas de 44 times daquele país. Esses torcedores estão proibidos de frequentar estádios na Argentina por terem se envolvido em atos de violência, assassinatos, corrupção e tráfico de drogas.

A meta é barrá-los caso tentem entrar no Brasil durante a Copa América, que começará em 14 de junho. Se algum deles conseguir ultrapassar a fronteira entre os dois países, o governo brasileiro, a pedido do argentino, deverá prendê-los na porta dos estádios.

O acordo foi assinado por Moro e a ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, na 43ª reunião de ministros do Interior e da Segurança e de ministros da Justiça do Mercosul e de Estados associados.

A Argentina estreará em 15 de junho contra a Colômbia, em Salvador. No dia 19 vai encarar o Paraguai e, em 23, fecha a participação na primeira fase contra o Catar, em Porto Alegre.


A violência nos estádios é praticamente coisa do passado nos campos da Inglaterra, berço dos hooligans que assustaram o mundo com sua violência para muitos inexplicável, pois se trata de um dos povos mais ricos e com melhor qualidade de vida do mundo. Hoje, é bonito e saudável ver cadeiras tomadas de torcedores situadas à beira dos gramados dos estádios ingleses, todos eles sem fossos a separar o público das estrelas.

Infelizmente, a coisa ainda não é assim na América Latina. Na Argentina, barras bravas representam a face mais violenta, desafiadora, ameaçadora, e em grande, parte criminosa das torcidas organizadas da América de língua espanhola, de maneira geral, e da Argentina em particular.


No caso argentino, os grupos se organizam em estruturas hierárquicas fortes, com definição clara da maioria obediente e, acima de tudo, da minoria com poder e mando.

O Boca, dono da maior torcida argentina, tem centenas de torcedores na lista
O Boca, dono da maior torcida argentina, tem centenas de torcedores na lista

Possuem como hábitos acompanhar as partidas de pé, nas arquibancadas e atrás dos gols, e incentivar seus times com muitos fogos e uma cantoria ensandecida durante toda a partida, independentemente do resultado.


Preferem, inclusive, aumentar a gritaria justamente quando suas equipes levam um gol ou ficam atrás no placar. Para dificultar a localização e a identificação pela polícia e autoridades, frequentemente dispensam os uniformes comuns em torcidas organizadas.

Os grupos de barras bravas mais temidos da Argentina são Jugador Nº 12 (Boca Juniors), Los Borrachos del Tablón (River Plate), La Barra Del Rojo (Independiente), La Hinchada Más Popular (Newell's Old Boys), Los Guerreros (Rosario Central) e La Butteler ( San Lorenzo de Almagro).

Entre os capi (chefes) históricos, destacam-se Gallego (La Barra Del Rojo nos anos 1980 e 1990), Jose Abuelo Barrita (Jugador N° 12, também entre 1980 e 1990), e Roque e Muchinga (Chacarita Juniors, nas décadas de 1970 e 1980).

A exemplo do que ocorre no Brasil com os núcleos criminosos das torcidas organizadas, barras bravas argentinos combinam apoio fanático a seus times com muita violência, chantagem a dirigentes, ações ilegais (muitas vezes em parceria com cartolas do próprio clube e, das confederações regionais e da AFA, a associação nacional), corrupção, consumo e até tráfico de drogas.

O primeiro assassinato cometido por BBs na Argentina ocorreu em 1939. De lá para cá, mais de 150 pessoas perderam a vida e milhares ficaram feridas em ações e confrontos liderados pelos grupos.

Além do tráfico, costumam ser financiados com doações e pagamento de viagens e refeições por parte de dirigentes, jogadores e autoridades, e rendas vindas com tours em estádios, comércio de uniformes e venda excedente de ingressos doados pelos clubes.

Apoiados nessas facilidades, os grupos de BBs funcionam como verdadeiras estruturas geradoras de recursos, com “empregados” na base e líderes jogados sobre a doce paz do ócio bem remunerado. Uma relação promíscua, agravada, nos últimos anos, pelos efeitos das sucessivas crises econômicas no país vizinho.

Lá, como cá, políticos, cartolas de clubes e federações, jogadores, empresários e, em parte, o próprio aparelho do estado “oficializam” a ação nociva dos BB. Mas, entre nossos hermanos, essa “legitimação” é ainda mais intensa e disseminada na sociedade, sobretudo fora dos limites dos estádios.

É comum políticos e cartolas argentinos utilizarem BBs como “seguranças” de suas campanhas eleitorais e atividades políticas e administrativas. E eles costumam pavimentar o caminho até o recebimento das benesses e mamatas com ameaças de sacudir as partidas e no dia-a-dia dos clubes com muita confusão e violência – como, por sinal, ocorre muitas vezes em um grande país vizinho. Não por acaso.

Em troca dos favores recebidos “carinhosamente” dos poderosos, Os BBs prestam serviços sujos, entre eles pressão sobre atletas que rescindem contrato em condições desfavoráveis para a equipe e “garantia de segurança” em jogos e eventos do clube.

Em 2017, Cristian Alvarez, líder da barra do Independiente, foi detido ao extorquir o técnico Ariel Holan. Antes, tinha conseguido derrubar outro treinador, Antonio Mohamed, e também um presidente do clube, Javier Cantero, combatente sem sucesso dos BBs. Hoje, o clube é dirigido pelo sindicalista Hugo Moyano, tido como um "um barra brava do lado de fora" por muitos na Argentina.

"Quando um dirigente decide dar um basta, sempre acaba expulso pelo sistema", disse Mariano Bergés, chefe da organização Salvemos al Futbol, a Sthepany Afonso, para o jornal Lance!. A AFA tenta amenizar o problema adotando medidas duras como o jogo de uma só torcida. Muito prejuízo e pouco efeito prático.

Em 2014, o jornal El Confidencial revelou as ligações de barras bravas com a ex-presidente Cristina Kirchner, provável candidata a voltar ao cargo nas eleições de 27 de outubro de 2019. Entre outras coisas, Cristina teria orientado sua turma a atacar fisicamente opositores, em troca de vista grossa das autoridades e alívio na repressão policial.

Juan Manuel Lugones revela em seu livro Barra Brava para Todos que o Ministério do Interior, onde trabalhou, foi infestado de BBs dos Borrachos del Tablón, do River, durante a gestão do ex-presidente Nestor Kirchner, marido de Cristina, morto em outubro de 2010.

Desde 1982, o governo argentino envia uma torcida organizada com barras bravas às Copas do Mundo, com tudo pago, para apoiar a seleção do país. Na mais recente, Russia 2018, o grupo escolhido foi o La Doce, de hinchas do Boca Juniors.

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