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BRASILEIRO 2022

‘Quem é Carille?’: sete anos depois, título dá resposta a Andrés Sanchez

Surpreendente treinador foi de anônimo a campeão brasileiro no Corinthians

Futebol|Do R7*


Campeão Paulista e Brasileiro, Carille é hoje exaltado por torcida corintiana
Campeão Paulista e Brasileiro, Carille é hoje exaltado por torcida corintiana

Quando o Brasileirão 2017 começou, a média de experiência dos 20 treinadores da Série A era de quase 12 anos. Somados, eles acumulavam 237 anos de carreira no futebol. Mas em meio a técnicos veteranos como Cuca, Abel Braga e Paulo Autuori, quem diria que o campeão seria aquele com o menor tempo de preparo? Somente Fábio Carille, com seus quatro meses de trabalho efetivo, podia prever que, no fim do campeonato, seria ele quem levantaria a taça.

Ao lado de Rogério Ceni, Carille era o comandante com menos tempo de trabalho como treinador profissional. Ambos assumiram suas equipes no início do ano e chegaram ao Brasileirão como os nomes para conduzir Corinthians e São Paulo no principal torneio nacional.

Carille apostou em Jô, artilheiro do time em 2017
Carille apostou em Jô, artilheiro do time em 2017

Respaldado pelo título do Paulistão conquistado no início de maio, Carille estreou no Campeonato Brasileiro como o treinador que fazia mágica com um elenco limitado. Peças questionadas como Romero e Jô desempenhavam papel de destaque nas mãos do ex-auxiliar técnico. Entretanto, nem o troféu estadual foi suficiente para fazer dele uma unanimidade.

“Fortaleci muito com as críticas. Esse ano foi uma faculdade para mim. Com todas as incertezas, conquistar o Campeonato Paulista, depois o Brasileiro ainda sob desconfiança”, disse Carille, antes de levar o tradicional banho de água gelada dos jogadores, na entrevista coletiva. “Independente do que for acontecer ali na frente, saio muito satisfeito neste ano.”


Carille jogou futebol profissionalmente, mas em menos de um ano de carreira como treinador já alcançou mais destaque do que com a bola nos pés. Lateral-esquerdo e zagueiro, rodou pelo Brasil e teve passagens por diversos clubes, como Corinthians, Paraná e Grêmio Barueri, onde pendurou as chuteiras e começou a se dedicar ao ofício de auxiliar, no ano de 2007.

"Quem é Carille?"

Do anonimato ao centro das atenções: Carille completa dez anos no Corinthians
Do anonimato ao centro das atenções: Carille completa dez anos no Corinthians

Durante a Série B de 2008, Carille foi chamado para integrar a comissão técnica do Corinthians. Chegou ao clube como o segundo auxiliar de Mano Menezes e permaneceu no Parque São Jorge até hoje. O campeão brasileiro de 2017 acompanhou as trajetórias de Adilson Batista, Tite, Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira no banco alvinegro até ganhar sua chance como treinador efetivo. Antes dessa temporada, ele havia comandado o time em apenas quatro partidas.


Antes da chegada de Tite, em 2010, Carille era o técnico interino da equipe. O então presidente Andrés Sanchez, porém, não demonstrava muita confiança em seu trabalho. Em uma entrevista, o mandatário respondeu “quem é Carille?” quando perguntado sobre o treinador.

Mas o sucesso de Carille calou até o maior dos críticos. O extraordinário desempenho do desconhecido técnico do Corinthians foi suficiente para dobrar inclusive os que não apostaram nele no passado. Hoje, quando fala do treinador, Sanchez escolhe outras palavras.


"Já recebi os cumprimentos dos outros treinadores. Recebo ligações e mensagens. Contra a Ponte, o próprio Eduardo [Baptista] falou que a gente não merecia a derrota. O Renato [Gaúcho], apesar de ter falado que ia 'despencar' e tal, nas duas vezes que encontrei, deu muita atenção. São pessoas que tenho contato e quero aumentar o círculo de amizades entre os treinadores. Só tenho que agradecer a cada um deles. Muito se fala da geração nova. Para o bem do futebol, que fiquem os melhores, independentemente da idade. Vou falar o que de Luxemburgo e Abel? Que fiquem os melhores", disse o treinador.

“Não sou mais uma promessa”

Sete anos depois, o vencedor do Campeonato Brasileiro deu a resposta ao ex-presidente. Pouco antes de assegurar seu segundo título na temporada, Carille lembrou que já não era mais um iniciante.

"Sei que desde o Campeonato Paulista já não tem mais a desconfiança. Já não sou mais uma promessa”, declarou o comandante.

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Carille de fato não é uma promessa. As duas conquistas irretocáveis do time que menos dinheiro investiu entre os grandes paulistas passam muito pelo trabalho do treinador.

Seu time titular ideal tem Cássio, Fagner, Pablo, Balbuena, Guilherme Arana, Gabriel, Maycon, Rodriguinho, Jadson, Romero e Jô. Muitos não colocavam essa equipe entre as favoritas, mas Carille fez um trabalho irretocável com garotos da base e jogadores desacreditados, chegou à liderança na 5ª rodada e não largou mais.

Caminho até efetivação

Antes de assumir oficialmente, Carille teve apenas dez jogos como interino
Antes de assumir oficialmente, Carille teve apenas dez jogos como interino

Quando precisou assumir a equipe em 2010, Carille teve aproveitamento ruim. Em duas partidas com o estrelado elenco corintiano, conseguiu somente um empate e uma derrota. Era sua primeira experiência dirigindo um time profissional e logo de cara o auxiliar teve que lidar com nomes como Ronaldo e Roberto Carlos no vestiário.

Seis anos mais tarde, veio a segunda oportunidade. Após a saída de Tite para a seleção brasileira, o desempenho foi mediano: uma vitória e uma derrota. A diretoria decidiu apostar em Cristóvão Borges para a sequência do campeonato.

Sem sucesso com o novo treinador, o comando técnico caía mais uma vez no colo de Fábio Carille. E ele fez questão de mostrar que tinha capacidade: venceu quatro dos seis jogos que fez. Ainda assim, não ganhou o voto de confiança da direção, que optou por Oswaldo de Oliveira para fechar o ano.

Raramente clicado sorrindo, técnico pode celebrar 2017
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Somente após se decepcionar com mais um treinador foi que o presidente Roberto de Andrade enfim escolheu Fábio Carille para dirigir o Corinthians. Mas a decisão foi mais por exclusão do que por vontade do mandatário. Antes de efetivá-lo, o clube tentou Reinaldo Rueda, hoje no Flamengo. Com a recusa do colombiano, o plano B foi acionado e Carille ficou com o emprego.

Se em 2010 a obrigação de liderar estrelas o atrapalhou, um dos elencos menos badalados do Corinthians neste século deu a Carille seus primeiros títulos como técnico profissional. Sem a pressão por resultados e com o estigma de “a quarta força” do Estado, o time brincou no Campeonato Brasileiro e faturou o caneco com três rodadas de antecedência.

Responsável por comandar o Corinthians em seu sétimo título brasileiro, Carille precisou lutar contra a desconfiança durante toda sua caminhada no futebol. Nem com a liderança isolada seu time foi poupado de críticas. Durante a campanha ruim no segundo turno, muros do Parque São Jorge foram pichados por torcedores com medo da aproximação dos rivais.

Entre aplausos e dúvidas, o inexperiente Fábio Carille entrou para a história dos campeões brasileiros com uma campanha surpreendente. O ilustre desconhecido liderou um grupo tão desacreditado quanto ele para o ápice do futebol nacional. E isso tudo sem ter completado sequer um ano de carreira. Parece que, enfim, a resposta para a pergunta “quem é Carille?” foi dada.

*Pedro Rubens Santos, estagiário do R7

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