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BRASILEIRO 2022

Oposição diz que Palmeiras está nas mãos de Paulo Nobre

Empréstimos de R$ 135 milhões vieram de venda de ações e serão pagos em 15 anos

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Maioria dos conselheiros não conhece os negócios do presidente
Maioria dos conselheiros não conhece os negócios do presidente

A noite de 1 de setembro de 2014 parecia mais uma entre tantas noites secas na capital paulista nos últimos meses. Mas, na região da rua Turiassu, na sede do Palmeiras, houve uma ameaça de tempestade. 

Além de uma invasão de torcedores descontentes, que obrigou a chegada de reforço policial, o presidente Paulo de Almeida Nobre tentava aprovar uma proposta que também o estava deixando atormentado.

O mandatário buscava um acordo para iniciar o parcelamento da dívida que o clube tinha com ele, hoje em torno de R$ 135 milhões. No total, o clube deve cerca de R$ 336 milhões.

O que fez Nobre, na presidência desde janeiro de 2013, tomar a decisão de tirar tanto dinheiro do próprio bolso para tentar sanear as finanças do Palmeiras?


Logo que assumiu ele garantiu que não iria emprestar ao clube, mas, ao perceber que, naquele ano, havia somente 25% do orçamento à disposição, mudou de ideia. Muitas receitas futuras haviam sido antecipadas: R$ 57,6 milhões no balanço de 2013, sem contar R$ 64 milhões de cotas de televisionamento comprometidas.

Mesmo assim, a atitude de Nobre causou estranheza nos conselheiros e a reunião foi tensa por isso. Mas no fim, 90% deles aprovaram a proposta em relação ao pagamento do empréstimo, a ser feito em parcelas, a partir de maio próximo, com duração de cerca de 15 anos. Isto gerou alívio, conforme disse o conselheiro Mário Giannini, um dos participantes do encontro.


— O Palmeiras não tinha dinheiro para comprar um elástico. Começou-se a quitar uma dívida que havia sido contraída em outras gestões. O clube recolhia uma série de encargos, salários, FGTS e não pagava. Era uma situação de crime.

Negócios de Nobre


Pessoas próximas ao presidente contam que não houve dilema para ele tomar a decisão do empréstimo. Palmeirense desde a infância, Nobre, que é solteiro, argumenta que era o único jeito de evitar a falência do clube. Seus defensores garantem que ele perdeu muito dinheiro com esta decisão.

Giannini foi um dos que apoiaram a decisão. Para ele, colocar dinheiro no Palmeiras, ainda mais neste momento, é um investimento de muito menor retorno do que uma aplicação agressiva em algum fundo, por exemplo. Aliás, Nobre está acostumado a alavancar recursos, atuando no mercado financeiro como dono de fundo de investimentos.

Em 2012, Nobre realizou uma operação de compra de ações da Telebrás, que contou com a participação de um fundo de investimento de Nobre, o Manitu High Yield, para assumir uma participação superior a 5% do capital da empresa.

O Manitu comprou quase 1,64 milhão de ações preferenciais da companhia de telecomunicações, em montante que foi dividido em 1.075.299 ações para o Manitu e 564.600 para Nobre, então seu único cotista, segundo comunicado da Telebrás.

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Nobre, um advogado paulistano, de 46 anos, ficou bilionário ao herdar uma fortuna da família e fazer este dinheiro crescer com a diversificação de investimentos. Mas se nega a fazer qualquer comentário sobre suas transações e sobre seu patrimônio, se irritando com qualquer pergunta deste tipo.

Nem mesmo para o Conselho Deliberativo ele deu detalhes sobre a origem dos recursos repassados ao Palmeiras. Ninguém por lá sabe o nome de suas empresas ou qualquer atividade do presidente fora do clube. A não ser a sua paixão por rali, que o fez investir em uma equipe própria há alguns anos, a Palmeirinha, da qual foi piloto.

Os conselheiros confiaram no fato de o Conselho de Orientação Fiscal ter aprovado a proposta. Muito bem posicionado no mercado, Nobre disse, na reunião, que vendeu ações no mercado para, com o dinheiro obtido, emprestar ao Palmeiras como instituição financeira. Isto foi o que contou Wlademir Pescarmona, candidato à presidência pela oposição nas eleições do fim do ano e um dos 10% contrários ao acordo.

— Esta foi a explicação dele na reunião, diante de 200 conselheiros.

Clube nas mãos

Os juros a serem pagos pelo Palmeiras são bem menores do que se o clube fosse captar empréstimo junto a uma instituição. Baseados em Certificado de Depósito Interbancário (CDI), utilizados em negociações entre instituições financeiras, giram em torno de 1% ao mês. Dentro deste tipo de negociação, Nobre é isento de pagar Imposto de Renda. Pescarmona usa este argumento para dizer que o presidente não fez um mau negócio e praticamente ficou com o clube nas mãos.

— As garantias são grandes, ele tem um contrato com o clube, aprovado em Conselho, com longa duração e a negociação está isenta de Imposto de Renda. Num investimento tradicional, em banco, ele não pega tudo isso, já que 1% de juro livre deste imposto é um bom negócio. 

Pescarmona, porém, concorda que, caso o Palmeiras fosse diretamente às instituições, como sempre ocorreu, os juros seriam pelo menos seis vezes maiores.

— A negociação não foi ruim para o Palmeiras, mas ele também de certa forma vai ganhar. 

Por outro lado, Giannini observou que, sem o dinheiro, o Palmeiras, que, neste Campeonato Brasileiro, luta para fugir do rebaixamento, não tinha mais garantias nem para contrair empréstimos.

O conselheiro confirmou que muitas receitas já estavam comprometidas, como os adiantamentos vindos da Federação Paulista, válidos para o campeonato paulista de 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, todos já recebidos. 

— Não tenho dúvida de que o Nobre era um dos únicos que poderiam ajudar. Se ele não for o mais rico, é um dos mais ricos do Palmeiras. A questão dentro de campo é uma. O Palmeiras pode ser rebaixado, ainda há a possibilidade de reverter, mas isso não quer dizer que o garoto (o presidente) não esteja fazendo a coisa certa para dar equilíbrio financeiro ao clube. Agora ele vai em busca do reequilíbrio das contas.

Pescarmona, porém, aponta para outra questão. Para ele, houve falta de competência desta administração em captar outros recursos e não permitir que o clube precisasse de empréstimos salvadores.

— Esta administração não alavancou um tostão para o Palmeiras. Nem de patrocínio nem do parceiro, a WTorre, com quem está em conflito. Não adianta brigar com um parceiro que poderia ajudar e facilitar a obtenção de receitas. A função do presidente é gerir e criar fontes de recursos e não ficar emprestando.

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