Neymar acerta ao contestar árbitro mas erra ao ofender outro da equipe
Francês julgou o que viu pelo que não viu e tem na memória. Politicamente correto no futebol é chatice, mas nada justifica grosserias ao quarto árbitro
Futebol|Eduardo Marini, do R7

O Paris Saint-Germain goleou o Montpellier por 5 a 0, no sábado 1º, pela 22ª rodada do Campeonato Francês. Neymar não fez gol, mas roubou a cena da partida graças a um desentendimento com o árbrito Jérôme Brisard.
Aos 38 minutos da primeira etapa, quando o PSG vencia por 1 a 0, o brasileiro tentou dar o drible da lambreta no zagueiro rival Souquet, na esquerda do ataque, próximo à linha de fundo. O zagueiro cortou o lance com o peito e a bola foi para a lateral.
Tudo soava normal e os jogadores dos dois times pareciam se posicionar para recomeçar a partida, quando Brisard chamou o camisa dez do PSG e o repreendeu por ter tentado a jogada. Contrariado, Neymar começa a discutir enfaticamente com o árbitro.
A tevê transmissora, o jogador e o árbitro não divulgaram o conteúdo do áudio. Mas é possível deduzir com segurança que o brasileiro reclamava por julgar não merecer a repreensão, pois usou uma jogada lícita, um recurso do jogo, e não uma atitude ilegal, para tentar vencer o zagueiro e partir para a área.
A certa altura da conversa, Brisard pune Neymar com o cartão amarelo, o que deixa o brasileiro ainda mais indignado. O PSG fez mais quatro gols após o episódio. Após o apito final, Neymar aproximou-se do quarto árbitro. A emissora francesa Canal+ pegou o diálogo. O craque iniciou a conversa: “jogo futebol, não falo p... nenhuma e tomo a p... do cartão amarelo”.
O quarto árbitro tentou amenizar a situação. “Be patient, be patient (seja paciente, seja paciente)”, repetiu em inglês. Ao que o camisa dez do PSG mandou de bate-pronto: “be patient é o c... vai se f...”.
Neymar estava com a razão ao argumentar e reclamar. O árbitro errou ao chamar sua atenção por ele ter utilizado um recurso do jogo para tentar passar por um rival.
O futebol está um saco, entre outras coisas, por esse falso moralismo exagerado. Qualquer tentativa de drible um pouco mais ousada é vista como tentativa criminosa de humilhar moralmente o adversário, ainda que totalmente dentro da regra.

Um retrocesso de conduta imposto no exagero da onda politicamente correta pelo corporativismo de técnicos medíocres, jogadores limitados e dirigentes sem visão. Ninguém com um mínimo de bom senso suporta mais essa visão recalcada e injustificada.
Por outro lado, dá para desconfiar fortemente de que, pela ênfase, Neymar não deve ter sido exatamente educado com o árbitro. O craque claramente levou o amarelo pelo conteúdo ou intensidade da reclamação – ou, mais provável, pela soma dos dois motivos.
Brisard expulsou de campo a sensatez tão cara aos franceses. Condenou o que via pelo que lembrava ter visto no passado recente do jogador. Na maioria dos casos atuais, o pano de fundo das reclamações do craque é exatamente esse. Dessa vez, não foi diferente.
De fato, não é justo julgar e punir alguém mais pela memória coletiva do que por sua atitude. Mas é preciso lembrar que tais recordações, como diria o mestre Cartola na antológica O Mundo É Um Moinho, não passam do abismo que ele, Neymar, cavou com os próprios pés.
As ofensas grotescas e injustificáveis na conversa com o quarto árbitro, que sequer foi a pessoa a dar-lhe o cartão amarelo, após uma partida em que seu time venceu por 5 a 0 e terminou a rodada na liderança, 12 pontos à frente do segundo colocado, mostra a falta de medida de um adulto de 27 anos que insiste em lutar contra a maturidade e se comportar como um dono de pedaço em rincões provincianos que não precisa respeitar ninguém.
Com esse comportamento, segue conquistando o que todos evitam: errar mesmo quando acerta.
É impressionante como passa o tempo, vem a idade e Neymar não consegue escapar dos erros mesmo eles parecem blindados pelos acertos.