Em amistoso contra a Nova Zelândia, Alex Morgan, dos Estados Unidos, marcou um gol na vitória de 4 a 0
Brett Phibbs-USA TODAY Sports via REUTERSA Arábia Saudita, por meio de entidade de turismo do país, pode ser a principal patrocinadora da Copa do Mundo Feminina, que será disputada entre julho e agosto, na Austrália e na Nova Zelândia.
No último mês, o jornal The Guardian afirmou que a "Visit Saudi" poderia se juntar a outras marcas, como Coca-Cola e Adidas, nas campanhas de divulgação da Fifa ao redor do mundo.
A possibilidade de o país do Oriente Médio se tornar um dos maiores investidores na competição gerou preocupação em confederações e nas atletas, por causa dos casos de desrespeito aos direitos humanos - em especial das mulheres - em solo saudita.
Alex Morgan, atleta dos Estados Unidos e campeã mundial em 2019, repudiou o patrocínio da Arábia Saudita.
"Moralmente, é algo que não faz sentido. É bizarro que a Fifa aceite um patrocínio para visitar a Arábia Saudita enquanto eu, Alex Morgan, não seria apoiada ou aceita naquele país. Não compreendo", afirmou a jogadora. "Quanto à Fifa, espero que tome a decisão certa."
As confederações de futebol da Austrália e Nova Zelândia também se posicionaram contra esta possibilidade.
"A confederação neozelandesa de futebol tomou conhecimento de reportagens que sugerem que a Visit Saudi, a autoridade oficial de turismo da Arábia Saudita, deve ser anunciada como patrocinadora oficial da Copa do Mundo Feminina, o maior evento esportivo feminino do mundo. Se esses relatórios estiverem corretos, estamos chocados e desapontados ao ouvir isso, já que a Nova Zelândia não foi consultada pela Fifa sobre esse assunto. Como coorganizadores da Copa do Mundo, a Nova Zelândia e a Austrália escrevem em conjunto para que a Fifa esclareça a situação com urgência", diz a nota.
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No direcionamento da Fifa quanto aos patrocínios, o dinheiro da "Visit Saudi" seria investido para o desenvolvimento do futebol feminino ao redor do mundo. Na Arábia Saudita, além de desrespeitos aos direitos humanos - o país é um Estado islâmico organizado em uma monarquia absoluta, na qual o rei é o chefe do estado e o chefe de governo -, o país só passou a ter uma seleção feminina de futebol no ano passado.
Assim como outras nações do mundo árabe, o regime saudita é regido, em sua essência, por leis fundamentalistas, com base nos textos sagrados do Alcorão, desde 1979. Uma visão que, entre outras áreas, permite poucos direitos às mulheres.
As sauditas não têm liberdade religiosa, sexual ou até de ir e vir. Recentemente, Mohammad bil Salman, príncipe herdeiro ao trono e primeiro-ministro saudita, promoveu mudanças nas leis do país. Algumas tiraram a obrigatoriedade das mulheres de receberem permissão do marido para transitar livremente em locais públicos e exercer sua cidadania.
Arlene Clemesha, historiadora do mundo árabe e professora doutora da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP), aponta ao Estadão que, muitas destas mudanças nas legislações são meios de "suavizar" o regime saudita, uma ditadura teocrática.
"É uma maneira de transparecer uma preocupação do governo com as mulheres, para ter menos resistência comercial de outros países, como EUA e Israel", afirma.
"A liberdade feminina ainda é um problema latente do regime", destaca Arlene.
A seleção feminina da Arábia Saudita jogo pela primeira em setembro de 2022. A partida foi comemorada por Pelé
Reprodução/Instagram/ @peleDe acordo com a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, as mulheres na Arábia Saudita ainda sofrem discriminação em relação ao casamento, família e divórcio, apesar das reformas.
No relatório do Fórum Econômico Mundial, a respeito da desigualdade entre gêneros, a Arábia Saudita ficou em 127º lugar entre 153 países.
"Apesar dessas reformas, o governo saudita ainda mantém políticas de repressão às manifestações femininas e a ativistas na internet", analisa.
Uma das mudanças, aprovada pelo regime no último ano, permitiu que mulheres pudessem conduzir um veículo por conta própria. Ainda há a obrigatoriedade do uso do hijabe, vestimenta que permite apenas que os olhos sejam visíveis, pelas mulheres na nação.
No âmbito esportivo, assim como a seleção saudita feminina, a primeira liga nacional para as mulheres no futebol surgiu apenas em 2020.
Na última Copa do Mundo, no Catar, mulheres foram vistas torcendo pela equipe masculina nas arquibancadas. A seleção saudita ganhou da Argentina, na estreia do Mundial, mas foi eliminada ainda na fase de grupos.
O possível patrocínio da Arábia Saudita na Copa do Mundo Feminina é mais um dos casos recentes de sportswashing, o uso estratégico e político do esporte para melhorar sua reputação no mundo, da nação árabe.
Recentemente, a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr e a compra do Newcastle, por 300 milhões de libras (cerca de R$ 2,2 bilhões na cotação da época) por um grupo liderado pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita, administrado pelo príncipe herdeiro saudita.
O país também planeja, nos próximos anos, sediar importantes eventos esportivos e fomentar o turismo na região - por causa disso o patrocínio no Mundial feminino.
A Supercopa da Espanha, Superclássico das Américas e a Supercopa da Itália são alguns dos torneios que foram disputados no Oriente Médio nos últimos anos. O Mundial de Clubes de 2023 terá como sede a Arábia Saudita.
Os planos são de que o país receba a Copa do Mundo de 2030 e os Jogos Olímpicos de 2032. Para isso, a Arábia Saudita busca estreitar com a Fifa e com o COI (Comitê Olímpico Internacional).
Em 2029, o país será a casa dos Jogos Olímpicos de inverno da Ásia pela primeira vez na história.
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