Herói em acesso do Fortaleza quase morreu na tragédia da Chape
Marcelo Boeck foi um dos responsáveis por levar time cearense para Série B
Futebol|Do R7*
Estrear no futebol profissional logo em uma final de campeonato, escapar de uma tragédia e agora ser herói do seu clube: essa é a história de vida de Marcelo Boeck.
Com 31 anos de idade, o goleiro do Fortaleza já passou por diversas experiências inusitadas em sua carreira e nesta segunda-feira (2) tem a chance de fazer história novamente.
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O Tricolor passou pelo Tupi-MG em classificação heróica nas quartas de final do Campeonato Brasileiro da Série C e, agora, disputa o primeiro jogo da semi contra o Sampaio Correia. De quebra, o clube conquistou a vaga para Série B do Brasileirão.
Em entrevista ao R7, Boeck contou sobre seu início de carreia no Internacional. O atleta, então com 21 anos, estava no clube de Porto Alegre desde 1999, mas foi em 2005 que estreou como profissional, e em uma situação inusitada.
"Fui chamado para jogar a final do Gaúchão na reserva do André. No segundo tempo ele acabou quebrando o braço e lá fui eu para o gol. Teve um lance cara a cara que eu consegui espalmar e no final acabamos com o título", disse o goleiro.
No Inter até 2007, Boeck acabou se transferindo para o Marítimo de Portugal. Ele ficou por lá até 2011, quando o Sporting o contratou. Apesar das boas atuações, o brasileiro nunca conseguiu se firmar no clube, já que o titular era Rui Patrício, camisa 1 da seleção lusitana.
Mesmo assim, o jogador não tinha vontade de sair e ficou por mais cinco anos em Portugal. Foi quando a Chapecoense veio com um convite para voltar ao Brasil. Resguardada pelo bom projeto, a Chape acabou ganhando a concorrência de outros clubes brasileiros e repatriou Boeck.
Segundo o arqueiro, o projeto proposto pela equipe e a distância para Vera Cruz, sua cidade natal, foi fundamental para a mudança de ares.
"Eu tive um contato da Chapecoense há três anos, mas como estava bem no Sporting preferi não aceitar. Em 2016, a Chape veio novamente com um convite. Mesmo com dois anos e meio de contrato ainda em Portugal, avaliei bem e optei pela equipe, graças à seriedade do projeto e a distância para minha cidade, que é de quatro horas.
Foi no Verdão do Oeste que a vida do goleiro mudou completamente. Com bons jogos e uma sequência de 11 partidas na titularidade, Boeck ia bem no gol alviverde, mas, com a chegada de Caio Júnior perdeu espaço.
"O grupo era sensacional, muito amigo e muito família. Joguei 11 jogos como titular, mas aí o Caio Junior chegou e depois de cinco partidas optou por me tirar".
Barração salvou vida de Boeck
Os dias foram passando e o atleta não era utilizado. Mas no dia 27 de novembro tudo parecia mudar. Acordado com Caio Júnior para jogar as partidas contra Palmeiras e Atlético Nacional, o goleiro doi desconvocado de última hora e viu sua vaga de terceiro arqueiro ir para outro jogador de linha.
Chateado por ter ficado de fora da final da Copa Sul-Americana, Boeck então decidiu comemorar seu aniversário e de seu filho e torcer para seus colegas da sala de casa.
“Eu e meu filho fazemos aniversário no dia 28 de novembro, um dia antes da tragédia, e a última mensagem que eu tenho dos meus ex-companheiros é me parabenizando”.
"Minha ficha caiu quando minha mulher me disse que ela poderia ter dado a pior notícia da vida dela para nosso filho"
Logo após comemoração, veio a notícia que mudaria a vida do jogador para sempre: "Uma cunhada minha não conseguiu falar comigo no dia do meu aniversário, na manhã de terça-feira (29) vi a ligação dela no meu celular", contou.
"Achei que ela estava me ligando para me parabenizar, em seguida ela me ligou novamente e a única palavra dela ao ouvir minha voz foi 'graças a deus", revelou o arqueiro.
Após a notícia, o goleiro de 31 anos ligou a TV e tomou consciência do que havia acontecido. Ele contou que sua primeira reação foi de ingratidão com deus, já que pensava estar sendo injustiçado e até mesmo ter levado em conta parar de jogar.
Mas o que realmente fez ele a entender a gravidade do ocorrido foi em um conflito familiar: "Minha ficha caiu quando minha mulher me disse que ela poderia ter dado a pior notícia da vida dela para nosso filho, aí meu mundo desmoronou. Depois ainda ouvi meu filho comemorando que não fui morto, ouvir isso de uma criança de 6 anos é complicado".
O recomeço
Depois da tragédia, o vice-presidente do Fortaleza ligou para Boeck e falou do projeto do clube. Mas o momento era conturbado o atleta estava sem cabeça. Após o velório das vítimas, porém, o arqueiro finalmente acertou sua ida ao clube cearense.
Com bom desempenho desde o começo do ano, Marcelo Boeck e seus companheiros de time tentam conquistar uma vaga na final da Série C. O jogo desta segunda-feira será na Arena Castelão, às 20h45. A volta acontece no dia 7 de outubro, às 17 horas, no Castelão do Maranhão.
*Leonardo Vallejo, estagiário do R7