Momento pede que Fla se esforce nos acordos da maior tragédia de sua história
Ricardo Moraes/Reuters - 14.2.2019O Flamengo tentará o bicampeonato mundial de clubes contra o Liverpool, da Inglaterra, dono do elenco considerado o melhor do mundo, às 14h30 deste sábado (21), em Doha, no Qatar.
Quando a equipe retornar ao Brasil, independentemente do resultado contra os Reds, seus dirigentes deveriam aproveitar o final de um ano de belo futebol, grandes conquistas e faturamento na casa do bilhão de reais para fechar definitivamente a grande - e talvez única - ferida aberta na temporada: a conclusão das indenizações de todas as famílias dos dez meninos entre 14 e 16 anos mortos no incêndio de 8 de fevereiro de 2019 no Ninho do Urubu, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Muitos apressam-se em condenar o rubro-negro e a defender que o clube faça chover dinheiro sobre todas as famílias das vítimas sem pensamento, negociação ou questionamento. Em boa parte desses casos há preocupação relevante. Mas em outra, considerável, a gritaria não passa de discurso futebolístico mal disfarçado de compromisso afetivo e social.
Mais do que preocupados com pais e mães dos garotos, algumas penas e microfones adestrados querem mesmo é sugerir uma maneira de abalar, pela amplificação do sentimento de culpa, o cofre forte e o equilíbrio do hoje poderoso concorrente rubro-negro.
Mas essa verdade não retira, de forma alguma, a obrigação do Flamengo de aproveitar o momento para resolver a questão da maneira mais nobre e rápida possível, se possível entre a virada de ano e os dias iniciais de 2020.
Sem prejuízo das críticas às hesitações, é justo reconhecer que existe um trabalho legítimo do Flamengo em busca de solução. Havia 26 adolescentes no Ninho naquela madrugada triste. Dez morreram e três ficaram feridos. Quatro das dez famílias das vítimas fatais e todos os sobreviventes feridos fecharam acordo de indenização, remuneração mensal e tempo de cobertura sem a necessidade de processos litigiosos.
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez adolescentes mortos e três feridos
LanceMais precisamente, no caso dos mortos, três famílias e meia. Parte de uma das quatro famílias envolvidas nos acordos exige algo mais na Justiça, na única opção litigiosa de parentes das vítimas contra o clube até agora. Todos os outros permanecem, ao menos até o momento, em negociação, representados por seus advogados.
Enquanto esperam um desfecho, seja ele acordado ou litigioso, todos recebem, segundo o clube, valores mensais extrajudiciais, que o presidente do clube, Rodolfo Landim, garante manter até que todos os casos tenham um fim. Dias atrás, o Ministério Público registrou o pedido de que o Flamengo pague no mínimo R$ 10 mil a cada família envolvida até a decisão final.
“Foi a maior tragédia da nossa história. A dor dos familiares é incomparável, não há o que discutir, mas nós também ainda sofremos muito no clube por causa dela. Não houve caso semelhante no País, nos últimos tempos, em que a instituição envolvida tomou tantas decisões, por conta própria, no curto espaço de tempo em que tomamos”, defende-se Landim. “Não acho que um clube que age como estamos agindo mereça ser taxado de negligente ou insensível. Nossas atitudes desde a tragédia mostram que podemos ser quase tudo, menos dirigentes que não estão interessados e mobilizados para resolver a situação”, acrescenta o presidente rubro-negro.
O Flamengo considera que o fechamento dos próximos seis ou “seis acordos e meio” será mais um caso de equilíbrio e bom senso do que propriamente de finanças. A ideia é a de que, por mais doloroso que seja, o clube precisa ter agenda própria para questão, e não a externa, imposta por pressões nem sempre (e em muitas situações quase nunca) ligadas à preocupação com as famílias envolvidas.
Um ponto destacado por negociadores e advogados do Flamengo envolvidos no caso é o de que o clube, ainda que tenha condição, não pode aceitar das famílias ainda sem acordo um pedido dez, vinte, várias vezes superior ao fechado com as quatro primeiras, a pretexto de resolver o problema rapidamente e se livrar da pressão. Uma atitude dessa, argumentam os representantes, desmoralizaria, antes de tudo, os próprios travados anteriormente.
Mas, feitas as ressalvas, permanece claro como a luz do sol que o Flamengo tem, no momento, plenas condições políticas e, sobretudo, financeiras para fazer um esforço e se acertar senão com todas, pelo menos com a quase totalidade dos familiares dos dez meninos mortos.
Mesmo porque, se o clube não conseguir fechar com todos nos próximos dias e semanas, o acerto com a maioria chamará atenção para a possibilidade que a parte mais resistente a posições razoáveis, entre todas as envolvidas na negociação, pode não ser a do clube.
Veja quem são as vítimas da tragédia no CT do Flamengo