'Faltou solidariedade com a Portuguesa', diz técnico Candinho
Como treinador,ele teve a carreira muito ligada à entidade e considera que os clubes paulistas deveriam ter defendido a Portuguesa na queda em 2013
Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7
Das várias equipes que o ex-técnico José Cândido Sotto Maior, o Candinho, dirigiu, a Portuguesa, que nesta sexta-feira (14) completa 100 anos, foi para onde ele mais retornou. Era uma outra época em que um treinador durava, em média, ainda menos tempo nas equipes do que hoje.
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Mesmo em curtas passagens, a intuição os fazia sentir intensamente o ambiente no clube, para o bem e para o mal. Mas a bem-sucedida relação de Candinho com a Portuguesa é decorrente da sua própria origem.
"Tive a honra de passar pela Portuguesa. Sou filho de portugueses. O clube não é importante só para mim, mas para toda a colônia lusitana e para o futebol paulista também. Surgiu com dificuldades e a história mostra que teve momentos marcantes, muitas vezes cedendo sete ou oito jogadores para a seleção, como Julinho, Djalma Santos, Brandãozinho e tantos outros", afirma.
Treinador rodado, Candinho, hoje com 75 anos, esteve na Portuguesa em quatro ocasiões como técnico. Na primeira (1995-1996), comandou uma geração que chegou ao vice-campeonato brasileiro.
"Foi um momento marcante para o clube. E tive o prazer de ser o técnico na ocasião. Das últimas grandes negociações da Portuguesa, todos os jogadores trabalharam comigo. Das minhas mãos saíram o Rodrigo Fabbri, o Leandro Amaral, o Zé Maria, o César, o Zé Roberto, todos para clubes grandes da Europa. Agora qualquer um vai, naquele tempo não era assim. Além de levar a equipe para o alto, dentro de campo, dei lucro para a Portuguesa", diz Candinho.
Empolgado, ele vai relembrando passagens sobre o clube, mostrando conhecimento histórico.
"Nunca me esqueço do processo de desenvolvimento do Canindé (estádio do clube), comprado junto ao São Paulo. O então presidente Oswaldo Teixeira Duarte trabalhou neste sentido, com a ajuda de empresários, como os Ermírio de Moraes. Primeiro o Canindé foi chamado de 'Ilha da Madeira', porque era baseado neste material e depois foi ganhando outros alicerces"
O atual momento pelo qual passa o clube nada mais é, para ele, do que resultado da falta de solidariedade de vários clubes, em um momento no qual o futebol se tornou negócio e foi perdendo o seu caráter comunitário. Ele considera que o rebaixamento, em razão da utilização errada do jogador Heverton, em 2013, deu início a essa crise que parece não ter fim.
"Foi, desculpe a palavra, uma sacanagem com a Portuguesa. O jogo já não valia nada para a Portuguesa, entrou faltando 10 minutos, não beneficiou em nada a equipe. E na Europa, uma situação semelhante com a Fiorentina não rebaixou o clube, fez ele entrar com menos cinco pontos no campeonato seguinte. Faltou e muito a solidariedade dos clubes paulistas naquele momento. Eles deveriam se recusar a jogar diante daquela situação que beneficiou o Fluminense. Agora a Portuguesa está nesta situação", desabafa.
O clube atualmente não participa de nenhuma das divisões do Campeonato Brasileiro e, endividado, está na segunda divisão do Paulista. Uma situação que, para Candinho, poderia ser revertida com mais facilidade no passado.
"Antes, quando a Portuguesa estava mal, os empresários ajudavam. O clube sempre teve como torcedores donos de postos e de padarias, entre outros. Hoje, ninguém mais quer botar dinheiro", completa.
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