Esperança para o hexa da seleção brasileira, Ancelotti vai ter de quebrar tabu histórico
Técnico italiano assume a Amarelinha no dia 26 de maio, após o término da temporada no Real Madrid
Futebol|Carol Malheiro*, do R7

Carlo Ancelotti sequer fez a primeira convocação pela seleção brasileira e já terá de lidar com um tabu histórico: uma seleção nunca foi campeã mundial enquanto era dirigida por um estrangeiro. As 22 equipes que venceram a Copa do Mundo na história tiveram treinadores do próprio país no comando. Inclusive, o Brasil, que estará pela quarta vez sob comando fixo de um gringo.
Caso Ancelotti esteja no comando da seleção até o final da Copa do Mundo, ele já terá atingido uma marca histórica. O italiano será o técnico estrangeiro a ficar mais tempo à frente do Brasil, pouco mais de um ano. O uruguaio Ramón Platero foi o primeiro técnico estrangeiro a liderar a seleção, em 1925, durante o Sul-Americano.
O segundo foi o português Jorge Gomes de Lima, conhecido como Joreca, que teve 100% de aproveitamento sob comando da seleção, pois só comandou o Brasil em dois amistosos e ainda dividiu a direção da equipe com Flávio Costa, treinador do Flamengo na época. Já o terceiro, o argentino naturalizado brasileiro Filpo Núñez, esteve à frente do Brasil por um jogo em 1965.
Entre as oito seleções que já ergueram a taça da Copa do Mundo, três nunca tiveram um estrangeiro sob o comando: Alemanha, Argentina e Espanha. No Mundial de 1934, a França foi dirigida pelo inglês George Kimpton e foi eliminada nas oitavas de final da competição. Após 30 anos, a seleção, que não se classificou para a Copa de 74, foi comandada pelo romeno Ștefan Kovács entre 1973 e 1975.
Já a Inglaterra teve gringos como treinadores em três Copas do Mundo consecutivas. Em 2002, quando foi eliminada nas quartas para o Brasil, o sueco Sven Goran Eriksson estava no comando da equipe, e repetiu o trabalho em 2006, quando foi eliminado por outro técnico brasileiro, Luiz Felipe Scolari, que na ocasião estava à frente de Portugal, seleção vice-colocada na Eurocopa de 2004.
Enquanto em 2010, a seleção inglesa apostou no italiano Fabio Capello, conhecido por seus trabalhos no Milan, na Roma e na Juventus. A escolha de um estrangeiro no cargo se provou, mais uma vez, um fracasso, já que a Inglaterra foi eliminada nas oitavas da competição após uma goleada por 4 a 1 para a Alemanha.
A Itália, tetracampeã mundial, teve só um treinador estrangeiro em sua história: o húngaro Lajos Czeizler, que esteve à frente da seleção na Copa do Mundo de 1954. Os italianos foram eliminados ainda na primeira fase, com duas derrotas consecutivas para a Suíça.
A seleção uruguaia também teve apenas um estrangeiro a dirigir a equipe: o argentino Daniel Passarella. O ex-zagueiro foi capitão durante a campanha do primeiro título do Mundial dos argentinos, em 1978, mas não chegou a comandar os uruguaios em uma Copa do Mundo, já que deixou a seleção em 2001, após conquistar um vice da Copa América em 99.
Os técnicos que já foram campeões mundiais pelo Brasil
Carlo Ancelotti também se diferencia dos demais técnicos brasileiros, pois nunca comandou um time do país, mesmo que já tenha experiência com diversos craques nacionais. Todos os cinco técnicos brasileiros que comandaram a seleção nacional ao título da Copa do Mundo treinaram, ao menos, um clube nacional.
O paulistano Vicent Feola, primeiro treinador campeão em 1958, foi voz fundamental na convocação da jovem promessa Pelé, então com 17 anos, que seria o craque do torneio. Antes de assumir a seleção, ele esteve no comando do São Paulo por mais de 20 anos entre 1937 e 1957, com 532 jogos no currículo. O carioca Aymoré Moreira, campeão em 62, comandou o Brasil três vezes, além de ter passagem pelos quatro grandes de São Paulo, entre outros clubes, como o Cruzeiro, o Botafogo e o Flamengo. Ele também chegou a jogar pela seleção como goleiro em 1946.
O alagoano Zagallo teve quatro passagens pelo Brasil, duas como coordenador técnico. Na comissão técnica das vitórias mundiais de 1970 e de 1994, ele é considerado o treinador mais bem-sucedido da história do Brasil. Além de ter no currículo, os quatro clubes grandes do Rio de Janeiro.
Situação semelhante ao carioca Carlos Alberto Parreira, técnico campeão em 1994, que passou pela seleção quatro vezes como técnico e coordenador, além de estar no elenco vencedor da Copa de 70 como preparador físico. Por clubes, Parreira tem três passagens pelo Fluminense, e passou um tempo por Corinthians, São Paulo, Santos e Atlético Mineiro.

O gaúcho Felipão voltou a comandar a seleção brasileira em 2012, após o título da Copa do Mundo de 2002, o último da equipe. Na carreira, ele treinou mais de dez clubes brasileiros, tendo três passagens pelo Palmeiras e duas pelo Grêmio.
Contradizendo os padrões anteriores, Ancelotti chega à seleção brasileira sem qualquer passagem anterior pelo país no currículo. O máximo que chegou perto da história do Brasil foi na final da Copa de 1994, quando era auxiliar-técnico de Arrigo Sacchi, na seleção da Itália, vice-campeã do torneio. O técnico viu do banco a conquista brasileira. Multicampeão na Itália, na Espanha e na Inglaterra, e com referências e estilos de jogo do futebol europeu, talvez ele seja o nome que o Brasil precise neste momento após os fracassos recentes de treinadores brasileiros.
*Sob supervisão de Camila Juliotti