Especialistas apontam “amadorismo” e “imprudência” em acidente com avião da Chapecoense
Professores de ciências aeronáuticas indicam "pane seca" como principal razão para tragédia
Futebol|Giorgia Cavicchioli, do R7

A falta de combustível na aeronave que transportava o time da Chapecoense e caiu na última terça-feira (29) na Colômbia, deixando 71 mortos, pode ter sido a principal causa da tragédia. Especialistas ouvidos pelo R7 apontam que o piloto Miguel Quiroga não cumpriu os regulamentos internacionais de planejamento de voo e observou corretamente a quantidade de combustível necessária para completar a viagem.
O professor de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Paulo Villas-Bôas afirma que ainda é preciso que as investigações avancem para saber o que realmente causou a queda, mas diz que “o piloto não cumpriu os regulamentos internacionais” em relação ao voo e que ele “não cumpriu os protocolos em relação à aviação”.
Villas-Bôas explica que não é possível saber os motivos que fizeram com que Quiroga não cumprisse esse procedimento, mas diz que foi “uma coisa, assim, muito amadora”. O especialista, que tem mais de 35 anos de aviação, afirma com convicção que foi uma “pane seca” que causou o acidente.
— [A aeronave] teria que fazer um pouso intermediário para fazer o abastecimento. A legislação exige um combustível adicional.
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Villas-Bôas diz que, “a grosso modo”, um avião tem que ter combustível para uma hora e trinta minutos ou uma hora e quarenta minutos a mais de voo. Segundo ele, o piloto fez um planejamento quase “zero a zero” para cumprir o trajeto.
Do aeroporto de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, até o aeroporto de Medellín, na Colômbia, são 2.975 Km. O modelo original da aeronave Avro RJ-85 tem condição de percorrer, com o tanque cheio, 2.965 Km, 10 Km a menos. Algumas aeronaves tiveram o tanque de combustível expandido pela fabricante, mas não é possível afirmar que o modelo que caiu passou pelo reparo.
De qualquer maneira, afirmam especialistas, a autonomia da aeronave era limitada. Para complicar, segundo informações da torre de controle do aeroporto de Medellín, foi necessário aguardar outro avião pousar antes.
— Ele [piloto] quis evitar esse tipo de operação [parada para abastecer]. Teria que pagar taxas aeroportuárias, seria mais um pouso. Ele quis arriscar. Foi uma ousadia.
O especialista em segurança de voo Deusdedit Carlos Reis, da Universidade Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura), de Belo Horizonte (MG), concorda com a teoria do professor, tendo em vista o que se foi apurado até o momento sobre as causas da tragédia.

Reis diz que é preciso acompanhar as investigações até o final para poder ter certeza do que motivou a queda. Mas explicou que a conversa entre a tripulação e a torre de controle divulgada pela imprensa ontem é “esclarecedora”.
— Estava sem combustível. A pane, na verdade, não era uma pane elétrica. De fato, o controle de tráfego aéreo declarou que estava acabando o combustível.
Reis diz que já se sabe que, na aviação, os acidentes nunca são causados por um único fator, mas que “sem combustível é ruim em qualquer situação” e que a autonomia do avião ficaria “no limite da distância”. O “planejamento inadequado do piloto”, segundo ele, parece ser um fator contribuinte para o acidente.
— Se confirmada [a falta de combustível como a causa da queda], ele foi imprudente. Não parece ter sido em decorrência de pane. Tem que ter combustível e com certeza não tinha essa autonomia toda. Ele arriscou. O certo seria ele fazer um pouso e reabastecer para prosseguir viagem. Mas a investigação é o que vai realmente mostrar a sequência de fatos que decorreu no acidente.
O especialista em segurança de voo da Fumec afirma também que o piloto poderia estar querendo “ganhar tempo”, mas que isso não faria sentido visto que dava tempo para fazer todo o procedimento antes do compromisso dos jogadores — o jogo seria na quarta-feira (30), à noite. Outra hipótese seria a diferença de valores de abastecimento de um país para outro e até de uma cidade para outra.
— Ele deve ter feito as contas e ele arriscou. Se você parar para pensar é um absurdo, mas [o piloto] vai tomando um costume e já não consegue avaliar um risco. A confirmar essa versão, foi uma temeridade. Foi uma imprudência. Ele jogou com a sorte e aviação não se joga com a sorte.
Reis conta que ter aceitado fazer duas voltas antes de aterrissar foi “fatal” para as pessoas que embarcaram no avião e que todos precisam tirar “lições” da tragédia. Para ele, é importante “reforçar a necessidade de que os pilotos sejam mais cuidadosos no planejamento de seu voo”.
Segundo Villas-Bôas, da PUC-RS, o fato de a cabine ter ficado escura e de as luzes terem apagado momento antes da queda mostra que a pane elétrica “foi uma consequência da falta de combustível”.
— Ele alegou a pane elétrica, mas aconteceu a pane quando acabou o combustível.
Na última terça-feira (29), a aeronave Avro RJ-85, da empresa boliviana Lamia, fabricada pela empresa inglesa British Aerospace, caiu na localidade de La Unión, a cerca de 30km do aeroporto de Medellín, na Colômbia. Ao todo, 71 pessoas morreram e seis foram resgatadas com vida.
Os atletas Danilo, Gimenez, Caramelo, Dener Assunção, Marcelo, Felipe Machado, William Thiego, Sergio Manoel, Matheus Biteco, Josimar, Gil, Cleber Santana, Arthur Maia, Ananias, Bruno Rangel, Lucas Gomes, Tiaguinho, Kempes, Aílton Canela e o técnico do...
Os atletas Danilo, Gimenez, Caramelo, Dener Assunção, Marcelo, Felipe Machado, William Thiego, Sergio Manoel, Matheus Biteco, Josimar, Gil, Cleber Santana, Arthur Maia, Ananias, Bruno Rangel, Lucas Gomes, Tiaguinho, Kempes, Aílton Canela e o técnico do time, Caio Júnior faleceram na tragédia. Além de 20 jornalistas esportivos, 23 membros da comissão da Associação Chapecoense de Futebol e sete tripulantes