‘Teria mais medo de ir com roupa justa em estádio no Brasil do que no Catar’, diz torcedora na Copa
Brasileiras dizem se sentir à vontade nos estádios; locais garantem não ver problema com estrangeiras nas arquibancadas
Copa do Mundo|André Avelar, do R7, em Doha, no Catar
Diferenças culturais e religiosas entre o Catar e o Ocidente podem muito bem ter afastado mulheres estrangeiras dos estádios. O ambiente é bastante masculinizado mesmo entre fãs do mundo árabe, mas torcedoras brasileiras garantem que estão à vontade nas arquibancadas da Copa do Mundo e se sentem até mais seguras em vestir roupa justa por aqui do que no próprio país.
A sensação geral entre as mulheres brasileiras entrevistadas pela reportagem do R7 é de total respeito. As próprias mulheres árabes, de maioria islâmica, que costumam cobrir a cabeça com um lenço, o hijab, e vestir a abaya, um vestido preto e de mangas longas, também não vêem problemas com as estrangeiras.
Leia também
Denise Alves desembarcou em Doha especialmente para a Copa do Mundo. Sozinha, a loira de cabelos longos foi ao estádio 974, para a vitória do Brasil sobre a Suíça, com calça e tênis brancos, barriga de fora e uma camisa azul da seleção. Tudo sem receber nenhum olhar opressor por parte de quem defende os costumes locais.
“Eu amo calor e me visto com roupas confortáveis e ninguém fala nada, nem olha torto. De repente, no Brasil teria mais medo de ir ao estádio do que aqui, vestida assim. Cheguei a evitar trazer certo tipo de roupa, coisa mais chamativa, mas só para não ser constrangedor”, disse a torcedora carioca.
Do palco com música ao vivo até o portão 3 do estádio, em um percurso de pouco mais de 800 metros, Denise garantiu que a caminhada foi tranquila, sem olhares maliciosos. Apenas um canal de TV suíço pediu uma entrevista com a moça, depois que terminasse o papo com a reportagem brasileira.
Avó e neta, Sônia e Ana Laura Ribeiro revelaram que pensaram em não viajar para o Catar por conta das restrições do país, que também não é favorável ao consumo de bebidas alcóolicas.
“Pensamos muito nessa questão do comportamento, por causa da cultura e da religião deles, mas senti um país muito respeitoso. Fomos muito bem tratadas até aqui, estamos adorando o Catar”, disse Sônia. “Percebemos alguns olhares, sim, mas não ofensivos, nada obsceno ou vulgar. Eles olham porque a gente é turista. São os turistas chegando no país deles. Aí queremos ser o mais invisível por isso. Mas, até agora, não rolou nenhum episódio grosseiro e pudemos aproveitar a Copa do Mundo”, completou a neta.
O olhar local
O povo do Catar desconhece essa visão internacional de que seu país é fechado. Em comparação com os vizinhos da Arábia Saudita, do Kuwait e do Irã, que vivem sob ditaduras e têm regimes ainda mais conservadores, o país-sede da Copa do Mundo é mesmo conhecido como moderno. O mesmo acontece, por exemplo, nos Emirados Árabes Unidos, com mais características comuns às do Ocidente.
“Eu não tenho esse olhar sob o ponto de vista do Ocidente. Mas é normal que desperte curiosidade. A minha mulher e a minha família têm total liberdade aqui. É um país muito seguro e nada de errado aconteceria com as mulheres”, afirma Lufuz Zaman.
Para Fahmida Akther, mulher catari, que vestia o hijab, tudo é permitido no país da Copa do Mundo. Segundo ela, as vestes das brasileiras também não a incomodaram.
“O Catar é um país plural. Se você quiser usar hijab usa, se não quiser, não usa; se quiser ir ao estádio vai, se não quiser, não vai. É um lugar muito bom para viver. Sinto que tenho liberdade aqui”, resumiu.
Guardas montados em camelos protegem o escritório administrativo do Catar