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'Quero trocar figurinhas com meus amigos': pai de menino cego lembra começo da paixão do filho por Copa

Pedro Maron Barretto, de 11 anos, nasceu com doença rara que impede visão; desde 2018, adapta livro para braille

Copa do Mundo|Isabella Pugliese Vellani*, do R7

Ir à banca de jornais, comprar o álbum da Copa do Mundo e alguns pacotinhos de figurinhas é, para muitos, um aquecimento para o torneio que neste ano começa em 20 de novembro, no Catar. Para Pedro Maron Barretto, de 11 anos, deficiente visual, o ritual envolve mais um passo: desmontar o álbum e reconstruí-lo de forma especial, com a adaptação para braille. 

Em entrevista ao R7, o pai de Pedro, Marcos Barretto, explicou que o menino, apaixonado por futebol, já nasceu sem enxergar. A ACL (amaurose congênita de Leber), uma doença rara e sem tratamento no grau apresentado, manifestou-se logo nos primeiros dias de vida do morador do Distrito Federal.

Com o passar dos anos, à sua maneira, Peu, como também é conhecido, foi incluindo cada vez mais o futebol na sua rotina. Em um perfil nas redes sociais, gerenciado pelos familiares, o jovem compartilha algumas das suas atividades favoritas. Colecionar figurinhas, claro, não poderia ficar de fora.

Pedro está colecionando um álbum de figurinhas da Copa do Mundo pela segunda vez
Pedro está colecionando um álbum de figurinhas da Copa do Mundo pela segunda vez

Em um desses quadros, o Sextou de Notícias, a ida à banca para comprar o então recém-lançado álbum da Copa viralizou. Ainda mais quando disse que precisaria fazer uma adaptação para poder colecioná-lo, já que não existe um modelo inclusivo para deficientes visuais, uma reclamação antiga de Peu. 


Em sua casa, Peu publicou outro vídeo, mostrando o processo de montagem do álbum adaptado com leitura em braille. Ainda em 2018, para o Mundial da Rússia, o menino quis, pela primeira vez, completar o livro de figurinhas. 

"O Pedro já estava com 7 anos na época e chegou para a mãe [Tatiana Maron] e disse: 'Meus amigos estão trocando figurinhas e eu também quero'. A mãe dele falou que daríamos um jeito e foi pensando a forma de como iria fazer", contou Marcos. 


O pai do menino disse ainda que é preciso ter um cuidado com as páginas do álbum para que não rasguem com tantos adesivos da linguagem em braille. O processo da colagem, feito pelo garoto, torna também o livro mais frágil.

"A gente comprou o álbum normal, depois a mãe dele mandou encadernar. A gramatura do papel braille é um pouco mais grossa, então não tem como fazer o braille no próprio papel. A gente comprou um adesivo, aquele autocolante, e o Pedro escreve em cima do adesivo. Aí, a Tatiana foi colando nas páginas dos países os nomes e números", disse.


Para colar os cromos, Pedro pede o auxílio dos pais e, além deles, o menino conta com a ajuda de seus amigos para colar e também trocar figurinhas repetidas.

"Ele troca figurinhas sem o menor problema. Ele é ótimo, uma criança super sociável, inteligentíssima, possui uma memória privilegiada. Tem vários amigos na escola, tem um grupo de colegas que é desde a creche", disse o pai, orgulhoso. 

Os familiares e Peu iniciaram uma campanha na internet para que a Panini, fabricante dos álbuns de figurinhas da Copa, produzisse um álbum "mais inclusivo", como o próprio garoto diz em muitas das suas postagens.

"Tomara que a Panini se posicione e faça um álbum em braille. Estou torcendo para que isso chegue, para que outras crianças cegas colecionem sem problemas", disse Peu.

A ideia repercurtiu nas redes sociais e mesmo celebridades apoiaram a iniciativa. O pai disse à reportagem que a Panini nunca entrou em contato com a família. Ao R7, a empresa italiana também não se manifestou. 

*Estagiária do R7, sob supervisão de André Avelar

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