Por que tantos indianos e paquistaneses torcem pela seleção brasileira?
Redes sociais foram tomadas por imagens de torcidas organizadas a favor do Brasil de países que nem disputam a Copa do Mundo
Copa do Mundo|Lucas Ferreira, do R7
A estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo do Catar, nesta quinta-feira (24), vai ser o assunto do dia no país. As esperanças são de que os comandados de Tite tragam para o Brasil a taça mais valiosa do futebol após 20 anos de espera.
Entretanto, do outro lado do mundo, indianos e paquistaneses também estão na torcida pela equipe verde-amarela. As imagens de tantos asiáticos no Catar uniformizados com as cores da seleção canarinho podem ter sido uma surpresa, mas para quem mora no sudoeste do continente, onde é realizada a Copa do Mundo, não é.
Há na Índia, inclusive, grandes torcidas organizadas, que, além do Brasil, apoiam a Argentina. Na cidade de Sakthikulangara, uma briga entre os dois grupos em um cemitério, no começo desta semana, causou espanto aos brasileiros, que se questionaram: de onde vem tamanha paixão?
O cientista político e coordenador do curso de pós-graduação de política e relações internacionais da FESPSP, Rodrigo Gallo, explica que é difícil afirmar com certeza a origem desse amor pela seleção brasileira.
“É difícil dizer com precisão como populações asiáticas, tão distantes geograficamente e culturalmente do Brasil, começaram a desenvolver algum tipo de simpatia pelo futebol brasileiro a ponto de formarem torcidas organizadas — o que demonstra algum grau de institucionalização desse sentimento”, diz Gallo ao R7.
O cientista político apontou algumas hipóteses para esse fanatismo, em especial dos indianos. O professor acredita que a ascensão da economia indiana, junto com o sucesso da seleção no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, pode explicar essa relação de amor.
“Imagine que o momento do auge do desempenho do futebol brasileiro, justamente no período entre o tetra e o penta, pode ter representado o momento em que muitos indianos mais pobres encontraram condições de comprar a primeira televisão, e tiveram a oportunidade de assistir às conquistas do Brasil nas Copas. Algo similar pode ter ocorrido no caso paquistanês.”
Uma outra teoria levantada por Gallo é a colonização portuguesa em parte da Índia no século 16. A cidade de Goa, que reúne cerca de 1,5 milhão de habitantes, é um dos municípios mais ricos do país e ainda tem pessoas que falam português.
“Talvez um indiano da região possa não ter muito apreço pelos antigos colonizadores. Mas ele pode desenvolver uma simpatia pelo Brasil, tanto pelo idioma, familiar para os habitantes de Goa, e por conta do passado colonial parcialmente comum, como se fossem terras-irmãs”, explica o professor.
Futebol, Carnaval e novela
Internacionalmente, os brasileiros são amplamente conhecidos pelo futebol, mas também pelo Carnaval e pelas novelas. O ranking The Soft Power 30, que mediu em 2019 a influência dos países ao redor do mundo, colocou o Brasil na 26ª posição.
O índice que capitania o país na lista é a cultura, que colocou o Brasil em 16º lugar entre as nações citadas. Outros indicadores, como desenvolvimento digital, educação, empresas e governo, por exemplo, arrastam o Brasil para as últimas posições no levantamento.
“Os rankings internacionais tendem a mencionar sim o futebol como o grande softpower brasileiro, ainda que haja outros pontos fortes, como a música e o carnaval”, ressalta Gallo. “Alguns rankings posicionam a cultura como o principal elemento do softpower brasileiro.”
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Por outro lado, o brasileiro conhece pouquíssimo da cultura asiática, em especial a dos países citados, Índia e Paquistão. O cientista político enxerga barreiras entre os brasileiros e os moradores do sudeste asiático até no campo empresarial.
“Muitos gestores e empresários nem sequer cogitam a possibilidade de negociar com empresas indianas, principalmente pelo desconhecimento. Os indianos são potenciais compradores de produtos agrícolas brasileiros e estão na 15ª posição entre os maiores importadores [do país].”
Um empecilho para uma conexão maior entre os dois países, que participam do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, são as grandes diferenças culturais, desde a religião até língua e hábitos, como os alimentares.
Ainda assim, a indústria indiana de filmes, conhecida como Bollywood, tenta difundir a cultura do país no Ocidente. Neste século, conseguiu emplacar o grande sucesso Quem Quer Ser um Milionário?.
“É importante destacar, também, que Quem Quer Ser um Milionário?, de 2008, contribuiu, ao menos em parte, para termos contato com a cultura da Índia. O filme foi inspirado em um livro indiano, foi gravado na Índia e ganhou oito estatuetas do Oscar, algumas nas categorias principais. Isso é significativo, ao menos naquele contexto”, conclui Gallo.
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