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BRASILEIRO 2022

Como vai a vida: Valdomiro, o ídolo que superou desconfianças

Ex-ponta do Inter-RS mantém centro de futebol para crianças carentes em Criciúma

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Valdomiro foi o jogador que mais vezes atuou pelo Colorado
Valdomiro foi o jogador que mais vezes atuou pelo Colorado

Alguns se tornam técnicos. Outros, empresários. Valdomiro Vaz Franco, o Valdomiro, ex-ponta do Inter-RS, não optou por nenhuma destas funções após o término da carreira. Escolheu o caminho da assistência social por meio do esporte, inaugurando, há 20 anos, um Centro Esportivo que leva o seu nome completo, em Criciúma, cidade onde nasceu, em 17 de fevereiro de 1946.

O que ele ganhou no futebol, investiu em imóveis. Isso lhe trouxe tranquilidade financeira para custear todas as despesas da instituição, que tem campos de futebol, piscinas e salas de aula.

— Pago para manter o Centro. Todos os impostos, alvará, bombeiro, vigilância sanitária, tudo. Não recebo nenhuma ajuda governamental e nem quero saber de político aqui dentro. Se a lei me permite isenção, eles que venham aqui me avisar, afinal, dou assistência a famílias de 100 garotos que treinam aqui, 20 deles carentes.

O ex-jogador tenta ser o que o falecido técnico Ênio Andrade, campeão pelo Inter-RS em 1979, foi para ele: um paizão, como ele diz.


— Os meninos aqui têm de seguir as regras, precisam estudar. Esporte é isso, uma maneira de educar e dar saúde. Cobro deles boas notas e companheirismo. E brinco: se chegarem à metade do que eu fui como jogador, já está bom.

Falta de craques


De seu centro, voltado a meninos de até 14 anos, dois jogadores já estão treinando em clubes do país: Gabriel, de 17 anos, está no São Paulo. E João Grahl, atacante, joga pelo sub-17 do Grêmio.

— Mas não quero saber de ser empresário de ninguém. Eles que sigam e tenham sorte.


O ex-atacante ainda tem atração pelos holofotes. Expansivo, não esconde seu gosto pelo futebol, mas também faz questão de ressaltar que no seu tempo a bola rolava com muito mais qualidade.

— Hoje a mídia influencia muito. Qualquer um joga na seleção brasileira. No meu tempo não era assim. Jogava quem era bom. O Dario mesmo brinca. "Se o Valdomiro chegasse antes no Inter-RS e me cruzasse as bolas eu teria feito mais de mil gols". Todos os centroavantes que jogaram comigo foram artilheiros: Dario, Flávio, Bira...

Ele ouviu muita vaia no Inter-RS, quando chegou em 1968, vindo do Comerciário, atual Criciúma. A equipe estava há sete anos sem conquistar nada, enquanto o Beira-Rio estava sendo construído.

— Fiquei oito meses ouvindo apupos. Não foi fácil no começo. Tudo é difícil na carreira de jogador. Quem quer ir para frente precisa trabalhar. Mas depois que o Beira-Rio foi inaugurado, tudo mudou.

Valdomiro ajudou a encerrar o jejum, com o Colorado conquistando o título gaúcho de 1969. Seu estilo era técnico. Driblava e cruzava com precisão, além de cobrar faltas com categoria, como no segundo gol da vitória do Inter-RS sobre o Corinthians, pela final do Brasileiro de 1976.

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Vestindo a camisa

A partir do primeiro título, a adaptação de Valdomiro ficou mais fácil do que pensava, a ponto dele se perpetuar na equipe. Valdomiro se tornou o jogador com mais atuações pelo clube, chegando a 853 jogos com o uniforme vermelho e branco. Foram 192 gols, 10 títulos estaduais (oito seguidos) e três nacionais.

Depois, o ex-craque teve uma passagem pelo Millonários, da Colômbia, antigamente conhecido como "Ballet Azul".

— Estou entre os 10 melhores da história do clube, com o nome escrito em uma placa junto com Di Stéfano, Nestor Rossi e outros.

No momento difícil, no começo no Inter-RS, foi o técnico Daltro Menezes, já falecido, quem o ajudou.

— Ele me chamou em um canto e disse: “o titular é você e quem escala sou eu”. Isso me deu confiança, ele me segurou no time até eu dar a volta por cima.

Já em 1972, após ter sido o sido o terceiro artilheiro do Campeonato Brasileiro, ele foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, pelo técnico Zagallo.

— Veja a diferença. Fui ser reserva do Jairzinho, um baita jogador. E hoje, qual craque temos jogando no Brasil? Não vejo nenhum. O Ganso nem titular do São Paulo é.

Mais do que uma profissão, o futebol para Valdomiro foi um grande palco.

— Tenho amigos no Grêmio também, respeito muito a instituição. O Inter-RS não existiria sem o Grêmio e vice-versa. Para mim é a maior rivalidade do futebol mundial.

Pelo que diz, na carreira, ele não contracenou com jogadores, mas com amigos. Até hoje, frequenta a casa de quase todos os seus ex-colegas de clube e mantém contato com aqueles com que jogou na seleção brasileira.

— O futebol foi um meio de eu encontrar uma segunda família. Vou a inaugurações, até outro dia estive no Chile para inaugurar um estádio com o nome do Figueroa. Tenho amizade com o Nelinho, Clodoaldo, Rivellino, todos que jogaram comigo na seleção. Foi uma época marcante.

Gol histórico

Nem mesmo os momentos difíceis vividos na seleção, muito criticada na Copa de 1974, serviram para estragar as recordações do ex-jogador.

— O futebol mudou muito de 1970 para 1974, com novas maneiras de jogar da Alemanha e da Holanda. Tínhamos um bom time, mas foi uma Copa muito complicada, a pressão era enorme para que vencêssemos novamente. O Brasil sempre entra com essa responsabilidade.

E o terceiro gol contra o Zaire, feito por ele, sem ângulo, aos 40 minutos do segundo tempo? O Brasil precisava vencer por 3 a 0 para se classificar para as quartas e o gol de Valdomiro foi salvador. Teria sido de propósito?

— Que nada, foi intencional. Já fiz muito gol assim no Inter. Treinávamos essa jogada. Eu pela direita, o Lula pela esquerda. Só chutando de quatro dedos. Por ter sido pelo Brasil, foi o gol mais importante da minha carreira. Hoje se o jogador for chutar assim vai quebrar o pé. 

Nem a mesma pergunta sobre o gol, que se repete pela eternidade, é capaz de abalar a sua cordialidade. E ele se despede com o bom humor do gaúcho, que aprendeu a respeitar. “Sr. Valdomiro”, como é conhecido hoje, afinal, é o típico jogador que nunca ligou para desconfianças. Já superou muitas na carreira.

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