Como o futebol está ajudando soldados ucranianos amputados pela guerra
Ucrânia realiza primeiro torneio de futebol para amputados feridos no conflito com a Rússia
Futebol|Do R7

O centro de treinamento do clube ucraniano Dínamo de Kiev abrigou o primeiro campeonato de futebol para amputados do país, a “Liga dos Poderosos”, em janeiro. Organizado pela Associação Ucraniana de Futebol, o torneio mobilizou comunidades locais diante do crescente número de civis e soldados feridos após a invasão russa, em fevereiro de 2022.
Os times foram formados com o apoio da associação, que desenvolve um projeto esportivo voltado à reabilitação física e social de amputados. As equipes, compostas por homens e mulheres, incluem participantes feridos tanto na invasão de 2022 quanto em combates anteriores, desde o início das instabilidades na Ucrânia em 2014.
Ao todo, cinco equipes participaram do torneio, compostas por seis jogadores de linha e um goleiro por time. Os jogadores de linha, todos amputados de membros inferiores, e os goleiros, que perderam membros superiores, participam das partidas com auxílio de muletas e sem o uso de próteses.
O campeão da primeira edição foi o Pokrova AMP, liderado pelo capitão Valentyn Osovskyi, que descreveu a vitória como emocionante e afirmou que a Ucrânia irá competir em torneios mundiais de amputados. “Estamos realmente felizes por termos trabalhado pelo título, foi gratificante”, disse o capitão em entrevista à AP.
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O árbitro e supervisor do campeonato, Dmytro Rzondkovsky, afirma que o futebol, antes de tudo, “fornece apoio psicológico” aos amputados. “Aqui, essas pessoas encontram novos amigos e comunicação. Fiquei realmente surpreso com o quanto essas pessoas amam a vida, o futebol e os esportes. Esse amor pela vida é algo que ainda estou aprendendo com eles”, disse Dmytro, que também é o treinador da seleção ucraniana de futebol para amputados.
Embora a “Liga dos Poderosos” não envolva jogadores profissionais, Rzondkovsky classifica o campeonato como a “melhor reabilitação que pode existir” para amputados. Segundo o ministério da Saúde ucraniano, mais de 20.000 pessoas, entre soldados e civis, precisaram de amputações desde o início da guerra.
“Estou realmente orgulhoso de treinar essas pessoas”, acrescentou Rzondkovsky. “Não sou apenas o treinador deles. Sou amigo deles. Estamos brincando muito durante os intervalos. É uma atmosfera muito boa aqui”.
Tem futebol toda quinta-feira
Para além do campeonato, os atletas amputados se reúnem às quintas-feiras para jogarem futebol e realizarem exercícios de força e mobilidade. “Esta será uma prioridade para nós nos próximos anos”, disse Andriy Shevchenko, presidente da Federação Ucraniana de Futebol e ídolo do país, eleito o melhor jogador do mundo pela revista France Football em 2004.
“Foi mais difícil na linha de frente”, diz Roman Lyndov, de 32 anos, goleiro experiente de uma das equipes. O ucraniano perdeu a mão esquerda em fevereiro de 2014, no início da Revolução de Maidan, que agitou protestos em Kiev após crises políticas internas.
Outra jogadora fiel aos jogos de quinta-feira é a veterana de guerra Olhar Benda, de 31 anos. Mãe de dois meninos, Benda perdeu parte da mão esquerda em 2017 após um bombardeio russo.
“Não quero ser a última, quero estar no mesmo nível dos homens”, Beneda disse à CNN, que também acompanhou a partida. “É por isso que não desisto. Não quero ficar sentada em um lugar; quero estar sempre em movimento e manter meu corpo em boa forma física.”
“Preciso dar o exemplo para meus filhos”, explica Beneda, acrescentando que seu filho de nove anos a espera em casa e fica perguntando quando ela vai começar a jogar futebol com ele.