Artilheira santista Ketlen fala como vive com a epilepsia há 11 anos
Autora de 164 gols pelo Peixe, atleta se sentiu motivada após Will Smith sair em defesa da mulher, que sofre de alopecia
Futebol|Do Live Futebol BR
A jogadora Ketlen Wiggers decidiu falar publicamente sobre a epilepsia. Maior artilheira da história do Santos, com 164 gols, inclusive dois no atual Brasileirão Feminino, a camisa 7 tem hoje 30 anos e convive com a doença desde os 19.
“É difícil falar isso. Mas realmente, no momento que eu recebi a notícia do médico, de que eu teria que desistir, que não daria para uma jogadora ser epilética, foi um choque para mim”, conta, entre lágrimas, via assessoria das Sereias da Vila.
“Eu estava indo atrás do meu sonho, sabia que era isso que eu queria para a minha vida, que eu tinha nascido para isso. Quando veio essa notícia, que o médico me proibiu de jogar tive um choque grande, mas falei para a minha mãe: não é essa a resposta que eu quero”.
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‘Efeito Oscar’
A atacante decidiu detalhar sua situação ao se sentir motivada com atitude extrema na cerimônia do Oscar: a imagem que rodou o mundo mostra Will Smith, minutos antes de ganhar a estatueta de melhor ator, subir ao palco e dar um tapa no comediante Chris Rock por ele ter feito piada sobre a careca da mulher do astro, Jada Pinkett Smith, que sofre de alopecia, doença que provoca a perda de cabelo.
“Eu tinha visto o vídeo no dia, dele defendendo a esposa da piada que fizeram. Me senti afetada também naquele momento, porque já passei por isso em público, de as pessoas me zoarem pela epilepsia. Em trabalhos de faculdade, em reuniões de time. Acabei sendo tocada naquele momento porque na época não tinha quem me defendesse e também não conseguia me defender, porque tinha vergonha de falar o que eu estava passando, que eu tinha epilepsia”, continua Ketlen.
Perda de segundos
O Santos, que sempre preservou sigilo, tomou a iniciativa de explicar o que ocorre com a atleta: ela sofre com um tipo de epilepsia chamado “crise de ausência”.
Segundo a médica do clube, Vanessa Resende, que acompanha o caso desde 2020, quando assumiu o posto no futebol feminino do Peixe, “o que ela tinha era uma perda de consciência por, no geral, entre 5 e 20 segundos. O paciente perde a consciência, retorna após poucos segundos como se nada tivesse acontecido e continua a fazer o que estava fazendo, sem entender”.
Estranha descoberta
Sem sofrer com essas crises “há cinco ou seis anos”, Ketlen diz se lembrar bem da primeira vez que teve um desses episódios, ao falar pelo telefone com sua mãe, quando já morava sozinha, em Santos.
“Como eu assistia novela, às vezes falava com ela, mas estava prestando atenção na televisão. Nesse dia, minha mãe parou de falar do outro lado da linha, esperando eu voltar a falar. Mas foi o dia que eu tive a minha primeira crise. Quando eu retornei depois dos 15, 20 segundos que fiquei fora do ar, eu olhei para o telefone e pensei: ‘Ué’? Estou falando com alguém no telefone? Quem está aí desse lado? Nisso, a minha mãe gritou do outro lado: filha, sou eu. E eu nem lembrava que estava falando com ela. Deu um branco".
Na ocasião, Ketlen já atuava há cinco anos na equipe principal do Peixe e estava na Seleção Brasileira. O baque inicial piorou ainda mais quando vieram as primeiras consultas com neurologistas em seu estado natal, Santa Catarina. Mas ela insistiu e foi em busca de um neurologista especializado em epilepsia, em São Paulo.
“A primeira pergunta que eu fiz pra ele quando cheguei foi se eu poderia continuar jogando futebol. Aí ele perguntou no mesmo instante se isso me atrapalhava em campo, mas eu nunca tinha tido nada. Nem treinando, nem jogando”.
Situação estabilizada
Com isso, a atleta iniciou tratamento com medicação controlada e com o tempo, além de não atrapalharem seu sucesso nos gramados, as crises foram diminuindo até evoluir à atual e estável situação clínica.
“Eu tinha muitas referências quando comecei, então queria passar isso pras meninas, para que sigam atrás de seus sonhos como eu consegui e que não desistam em nenhum momento”, conclui Ketlen sobre o que a levou a quebrar o silêncio sobre sua condição.
As Sereias da Vila voltam a campo neste domingo (3), às 15h, pelo Brasileiro, contra a equipe do Kindermann, em Caçador (SC).
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