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Futebol brasileiro se mantém em baixa com juízes intimidados

Com a intimidação se espalhando por vários setores da sociedade, os árbitros não têm tomado providências para coibir a violência dos jogadores 

|Eugenio Goussinsky, do R7

Árbitros não estão punindo com rigor a violência
Árbitros não estão punindo com rigor a violência

O futebol brasileiro e sul-americano vivem um momento de decadência. Especialistas do esporte falam em má gestão dos clubes e falta de ousadia dos treinadores como algumas causas.

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Tenho a impressão de que um fator ainda pouco debatido tem atuado como protagonista: o crescimento da intimidação.

O futebol brasileiro está sofrendo de alto nível de intimidação. A sociedade brasileira está intimidada. Como reflexo, o futebol brasileiro, portanto, tem aspectos que retrocederam.


Em um país que foi o último a acabar com a escravidão, momentos de vácuo ético têm se repetido em ciclos.

Prevalecem então, interesses egoístas que acabam se inserindo no dia-a-dia dos cidadãos como uma prática banalizada.


Da mesma maneira que Nova York no século 19, um acordo tácito entre pessoas de grupos semelhantes tem prevalecido nos hábitos.

E ocultado, na rotina aparentemente comum, um grau de selvageria, em geral, silenciosa.


Entre os mais intimidados estão os árbitros. Eles praticamente têm abolido o prioritário combate à violência em campo, fazendo vistas grossas a entradas desleais como a de Dixon Arroyo em Diego, em jogo do Flamengo pela Libertadores.

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Nem cartão amarelo foi mostrado após aquela brutalidade que deixará o brasileiro meses parado.

O jogo era na casa do Emelec e, naquele momento, o clube da casa tinha mais peso do que o milionário Flamengo.

Cenas assim, por deslealdade ou imprudência, têm se repetido em quase todos os jogos. Quem não se lembra da brutal entrada de Fágner em Ederson, do Fla, em 2016? 

No último domingo, Rafinha, do Fla, deu um carrinho por trás em Moisés e só recebeu o amarelo. Ainda reclamou do árbitro dizendo que era apenas sua primeira entrada.

Até comentaristas de arbitragem, muitos deles burocráticos, ficam receosos em repudiar tal conivência de árbitros com a violência.

Analisam jogadas absurdas, sob o que chamam, em tom solene, de "luz da regra", e nem indignados ficam com a omissão de seus ex-colegas.

Preferem ficar apontando erros em jogadas triviais, do ponto de vista técnico, ajudando, inclusive, neste sistema de intimidação.

E por que o árbitro está intimidado? Porque é o menor salário, entre todos os participantes do futebol de elite.

Com que poder ele vai expulsar o jogador, nesta era de negócios no futebol, que vale milhões, pertencente a um clube cujos interesses, entre patrocinadores e outros, muitas vezes extrapolam os bilhões?

Pode nem ser algo dito às claras. Mas é velado. Essa força oculta é velada. E tome cerco ao juiz em cada marcação; e tome o acinte de se desferir pontapés sem nenhum constrangimento. Neste sistema, o VAR é apenas uma peça de fachada.

A mesma intimidação, também relacionada em parte aos altos salários dos atletas, tem resultado na ameaça constante de torcedores a jogadores, em aeroportos ou até mesmo dentro dos centros de treinamentos.

Mas o amadorismo é tanto que, mesmo com o futebol fazendo girar cifras milionárias, nem se percebe que a aceitação dessa intimidação, possivelmente com o objetivo de não desvalorizar a agremiação, é justamente o que mais a desvaloriza.

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Recentemente, o ex-técnico Candinho me contou que, no final da década de 70, em um jogo no Pacaembu, jogadores de dois grandes clubes já ensaiavam um prenúncio do que viria nas décadas seguintes.

Engalfihavam-se em cada jogada, cercavam o árbitro Oscar Scolfaro em cada marcação. Abusavam da violência. Extrapolavam, salivantes.

Até que Scolfaro, um juiz consagrado, parou o jogo. Foi até o quarto árbitro e lhe entregou o cartão amarelo.

Virou-se para os jogadores que se juntaram, curiosos, à sua frente: "a partir de agora, é só vermelho." O jogo, então, seguiu de outra maneira. Sem mais nenhuma entrada.

Aquele tempo era mesmo diferente. Os salários dos jogadores não eram ainda tão altos. O valor patrimonial dos clubes, também não.

E Scolfaro era um empresário, de família tradicional de Campinas, com uma boa renda fora do futebol. Não se deixou ser intimidado. Ele tinha poder.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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