Esportistas superam imagem de brutalidade e se destacam nas artes
Muitos atletas que se destacam em atividades violentas acabam mostrando sensibilidade quando descobrem um lado artístico em suas personalidades
Fora de Jogo|Eugenio Goussinsky, do R7
Quem observa os traços suaves de alguns quadros de Paulo André, inspirados no pintor Claude Monet (1840- 1926), poderá estranhar o fato de que o autor atuou em uma das posições mais duras e embrutecidas do futebol: a de zagueiro. Não raro ele dividia as jogadas com rispidez.
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O mesmo vale para quem lê um texto emotivo do zagueiro uruguaio Agustín Lucas, cuja marca é a virilidade em campo. Ele já defendeu clubes como o Miramar Misiones; o Albion e o Liverpool de Montevidéu, e também é escritor.
Num de seus contos, Zapatos plateados, ele lembra da sensação de vestir um par de chuteiras prateadas, presente que recebeu da mãe, aos 15 anos.
Também se surpreende quem assiste ao lendário boxeador Jean-Claude Bouttier, amigo do galã Alain Delon, atuar no clássico Retratos da Vida (Les uns et les autres), filme do francês Claude Lelouch, de 1981.
Pode paracer contraditório, mas "um leão faminto dentro da atividade", segundo o psicólogo do Esporte, João Ricardo Cozac, pode sim conviver com um lado afetivo, propenso à Arte, mesmo atuando em esportes até violentos.
"Nos meus atendimentos clínicos com atletas que atuam em esportes, que têm essa pré-concepção da força bruta, percebo que eles estão muitos próximos deste outro lado, da sensibilidade, da insegurança, do medo. Você luta, se defende, ataca, existe sempre o risco de lesão iminente, e existe aí outo ambiente interno, que é pouco falado e que muitas vezes pede para ser expresso por esses atletas", afirma Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
Ele cita como outro exemplo o clipe no qual o lutador Anderson Silva interage com a cantora Marisa Monte, na música Ainda bem.
"Ele (Anderson) demonstrou muita sensibilidade. Há características que são do ser humano, à parte de sua prática esportiva, que alguns atletas conseguem encontrar. São espaços artísticos e de expressão, onde podem trabalhar, desenvolver e demonstrar outras habilidades. Muitas vezes isso é surpreendente para aqueles que estão acostumados a vê-los apenas em ringues, octógonos, quadras ou campos", comenta.
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Muitas vezes, no entanto, a rotina atribulada, somada a uma ideia pré-concebida de que, neste tipo de vida, não há lugar para a prática de atividades distintas, impede o atleta de enveredar por outros campos. Neste caso, segundo ele, uma terapia pode ajudar o atleta a descobrir seu lado artista.
"Existem habilidades que, em vários casos, ficam adormecidas, por conta das exigências do cotidiano. Quanto mais for possvel a promoção do auto-conhecimento, maior o cmapo de oportunidades de expressão e de nteração consigo mesmo. Essa exploração é enriquecedora. Quando você trabalha a dimensão do ser humano, você ajuda na dimensão do 'ser atleta' e quando você explora a dimensão do 'ser atleta' também contribui para o lado humano", completa.
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