Desenvolvimento de games no Brasil cresce, mas ainda precisa de estímulo
Falta de incentivo e pouca experiência dos profissionais são obstáculos para o mercado no País
Jogos|Do R7*
De acordo com estimativa da Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais), existem cerca de 220 empresas desenvolvedoras de jogos no Brasil, número que deve aumentar nos próximos anos. Além disso, os gamers brasileiros passam em média 5,5 horas por semana na frente dos videogames. Estes dois dados são apenas uma amostra do momento positivo que o mercado de jogos no País se encontra.
São vários os exemplos que mostram como o Brasil já oferece boas opções de games 100 por cento nacionais.
Um destaque é Carcará: Asas da Justiça, game que segue o advogado Fábio Carcará em sua missão de ajudar os que mais precisam. Para isso, ele mesmo coleta provas, faz investigações e defende seus clientes no tribunal.
Criado pela Supernova Indie Games, o jogo pode até ser comparado com o seriado CSI, uma vez que o jogador deve ter muito jogo de cintura para enfrentar os inimigos em um sistema de interrogatório criado para o game, assim como ele também precisa utilizar de forma correta os itens coletados no cenário para desvendar os casos.
O game pode ser baixado gratuitamente para Windows, Mac, Linux e celulares Android no site oficial da desenvolvedora.
Outro jogo de destaque é Dengue Over, da Ilusis Interactive. Nele você aprende sobre riscos e modos de prevenir a dengue. A missão aqui é alertar os moradores da sua rua sobre os problemas ocasionados pela doença e defender a vizinhança do mosquito ao inspecionar as casas procurando focos do inseto. Mesmo sem data de lançamento, o jogo voltado para escolas foi um dos oito selecionados pelo BIG Starter do BIG Festival, um projeto que escolhe jogos independentes para receberem investimentos.
Como afirma o coordenador do curso de Design de Games da Universidade Anhembi Morumbi, Delmar Galisi, é possível perceber que o mercado de games cresceu bastante por aqui.
— Nos anos 1980 e 1990, você tinha iniciativas de desenvolvimento de games no Brasil, mas era algo muito isolado. A partir dos anos 2000 é que começou a surgir muitas empresas de jogos, e de lá para cá temos tido um crescimento grande mesmo, uma linha ascendente.
O desenvolvimento chegou em um ponto que até mesmo pessoas não especializadas são capazes de criar jogos, como é o caso dos estudantes Alexandre Nowacki e Wesley Raymundo que desenvolveram um jogo voltado a portadores de deficiências motoras.
Say It The Game é um game no qual o jogador controla todas as ações do personagem apenas por comandos de voz. Na história, o persoangem deve fugir no meio da mata do Mapinguari, personagem do folclore brasileiro. Para ajudá-lo, Saci Pererê, Mula Sem Cabeça e outras lendas estarão presentes no game.
Com o aumento da produção de títulos no país, por que ainda não ouvimos o nome de jogos brasileiros nas rodas de conversas sobre games? O motivo é o mercado, segundo Galisi.
— O desenvolvimento está muito globalizado. Ao fazer um game, você não está pensando no mercado nacional, hoje se desenvolve para distribuir um jogo no mundo inteiro. É difícil você olhar só para o mercado brasileiro, assim como os jogos que são feitos lá fora são comprados por brasileiros.
Profissionais com qualidade
O mercado de jogos no país ainda é relativamente novo. O curso de Design de Games na Universidade Anhembi Morumbi foi aberto há apenas nove anos, enquanto o curso de Jogos Digitais no Senac São Paulo está formando sua nona turma.
Enquanto alguns títulos se destacam pela qualidade, muito disso é proveniente de tentativa e erro, avalia o professor de Jogos Digitais do Senac São Paulo, Guilhermes Damian.
— A gente ainda tem que comer muito feijão com arroz para chegar no nível dos profissionais do exterior porque eles estão há muito mais tempo nesse mercado. A academia brasileira, seja a faculdade ou pós graduação, não está preparando um profissional para o mercado brasileiro e sim para um mercado que não ainda existe aqui.
Ao contrário dos grandes estúdios em países como Japão e EUA, no qual cada profissional é responsável por um setor, aqui no país as empresas ainda engatinham, e muitas vezes os desenvolvedores precisam se desdobrar em diversas funções para tirar uma ideia do papel. Em vista disso, é normal que o Brasil ainda precise de tempo para se adaptar no mercado, conforme explica Galisi.
— O Brasil é uma indústria nova, ainda está ganhando musculatura. Os cursos de desenvolvimento de jogos têm apenas 12 anos, então a formação de mão de obra é recente. Outro fator é que é difícil penetrar tão rapidamente no mercado, ainda precisa de um pouco de tempo porque você concorre com mercados que são mais globalizados.-
Outro fator que atrapalha o desenvolvimento do setor é a falta de colaboração entre as produtores, na opinião de Marivaldo Cabral, sócio da QUByte Interactive.
— O que falta é as produtoras divulgarem mais informaçoes, divulgar o que acertaram, o que erraram. Existe muita integração do ponto de vista técnico, mas quando se fala do negócio em si existe esta falta de informação.
* Colaborou Raphael Andrade, estagiário do R7.
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