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Copa 2018

VAR coloca o futebol diante de seu maior desafio

Utilização do equipamento ainda é inviável em campeonatos entre clubes sem recursos financeiros, o que gera descompasso nas regras

Copa 2018|Eugenio Goussinsky, do R7

Pela primeira vez está havendo interferência externa
Pela primeira vez está havendo interferência externa

A implantação do VAR (árbitro assistente de vídeo) na Copa do Mundo coloca o futebol em uma encruzilhada. Trata-se de uma inegável evolução, mas ela pode ser apenas parcial, a ser implementada em apenas algumas competições.

Uns diriam que é melhor do que nada, e eu concordo. Mas, mesmo assim, essa nova regra tende a impulsionar uma elitização do esporte. O futebol, portanto, sempre democrático, entra numa nova era. Que tenta se impor à famosa frase de Nelson Rodrigues, durante a Resenha Facit, que dizia que o "videotape é burro".

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O futebol já passou por transformações com o surgimento do rádio, da TV, do videotape. Mas agora, o VAR coloca o esporte diante de seu maior desafio.


Pela primeira vez haverá interferência externa, o que mudará a mentalidade dos jogadores, dos técnicos, dos torcedores dos clubes da Série A. De apenas uma pequena parcela do universo futebolístico. Eles tenderão a ficar mais ascépticos, cautelosos. Possivelmente, padronizados.

Resta saber se ficarão ainda mais exigentes, insatisfeitos com frustrações e imperfeições ou se ficarão mais calmos e conformados. Como serão os campeonatos daqui para frente?


Composto por um conjunto de câmeras que transmitem as imagens para uma sala isolada do campo - ou situada até em um local distante -, o VAR tem um custo médio de R$ 50 mil por jogo. Para times brasileiros da Série A, que fazem mais de 70 jogos por ano, o orçamento teria de sofrer um acréscimo de pelo menos R$ 3,5 milhões.

Até poderia ser viável para clubes grandes, mas aí começa o dilema. É uma logística muito difícil englobar todo o equipamento em todos os jogos de futebol. A utilização ainda é inviável em muitos campeonatos compostos por clubes sem tantos recursos financeiros.


Eles não teriam como adquirir o equipamento, reunir profissionais remunerados em mais uma sala, quando mal têm dinheiro para a manutenção de seus estádios. O futebol feminino também teria dificuldades em implementar essa nova regra, devido aos poucos recursos que lhe são destinados.

E neste caso, a ausência do VAR já apontaria um descompasso nas regras do futebol, quando uma equipe menor, que não utilizou o VAR no regional, enfrentar na Copa do Brasil um adversário da Série A do Brasileiro, vindo de um campeonato com uso do VAR.

Haveria um desequilíbrio. Ambos os times chegariam à mesma competição, mas por meio de critérios diferentes. Um pode ter sofrido um gol irregular que foi anulado pelo VAR. Outro pode ter feito um gol irregular que foi validado, sem o uso do VAR, e, com isso, prejudicou seu concorrente na disputa por uma vaga à Copa do Brasil. E isso vale para todas as competições no mundo, com todas as suas divisões, os acessos e os cruzamentos.

Neste sentido, a IFAB (International Football Association Board), órgão da Fifa responsável pelas regras do futebol surpreendeu. Abriu mão de sua rigidez em março último, como nunca fizera antes, e anunciou uma verdadeira revolução no futebol.

Implementou novas regras, com 14 mudanças na regulamentação do esporte, entre elas a permissão do uso da arbitragem de vídeo e de equipamentos eletrônicos. A questão é que a permissão não significa claramente obrigatoriedade.

E abre brecha, então, para uma gama de possibilidades de uso ou não desta tecnologia. Trata-se de algo inédito no futebol, um esporte que sempre foi acessível e democrático por causa da universalidade das regras. Este é o desafio a ser superado.Transformar o VAR em VARU (árbitro assistente de vídeo unificado).

A tendência, no entanto, é de que o futebol comercial se torne um esporte ainda mais elitizado. Mas, por outro lado, o VAR deverá aumentar ainda mais a importância das categorias sub-11, sub-15, da várzea e das poucas peladas que ainda resistem.

Será a maior oportunidade de os meninos brincarem com a bola e desenvolverem a verdadeira essência do futebol. Uma oportunidade que, nas suas vidas, talvez não tenha mais repetição.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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