Tudo ou nada para Tite. Não haverá meio termo contra a Sérvia
Sob pressão absoluta, Tite sabe que o Brasil não poderá errar contra a Sérvia. O castigo seria a eliminação. E ele resolveu apostar no time que formou
Copa 2018|Do R7 e Cosme Rímoli
Moscou, Rússia
A coletiva se encaminhava para o final, no estádio do Spartak. A pergunta que deveria ser feita a Tite, escapava dos jornalistas. E o assessor de imprensa da Fifa optou por encerrar a coletiva. Ele havia respondido até sobre o Canarinho Pistola. Quando foi quebrado o protocolo.
"Tite, por favor, será que você pode responder uma última pergunta? É importante, desculpe", pedi, sem microfone.
"Está bem, pode fazer."
O assessor da Fifa não teve outra saída a não ser permitir a questão.
"Você demorou um ano e meio para formar esse grupo. E confia plenamente nos seus jogadores. Só que há dois deles que não estão correspondendo, jogando tudo o que podem. Já foram duas partidas. E mesmo assim, você confirma que Willian e Paulinho seguirão no time. Por quê? Por ter chegado a hora de mostrar confiança?", perguntei.
Tite perdeu a 'leveza da entrevista'. Fechou a fisionomia e respondeu sério.
"Eles têm condição de crescer, como cresceu o segundo tempo da equipe. Ela vai se harmonizando. OIhe a trajetória do Willian e do Paulinho. Olha o quanto foram consistentes e decisivos. Não posso desconsiderar isso. O foguetinho (Willian) vai para um contra um direto. Ou dá para esquecer o jogo do Paulinho contra o Uruguai? Foi construído nesses 23 jogos", disse o treinador ao blogueiro do R7.
Não satisfeito, o treinador olhou e pediu para o seu auxiliar, Cléber Xavier, complementar a resposta.
"É uma questão da nossa cultura. Aquele que não está jogando é sempre melhor. O futebol de Paulinho e de Willian está crescendo de acordo com a Copa. Eles já mostraram, fizeram por onde ter a nossa confiança."
Mas Tite conversou, orientou, cobrou Paulinho e Willian. Quer melhor movimentação do volante e mais confiança do atacante, ao driblar, triangular com Fagner. O treinador realmente não está contente com os dois.
Confia, mas preparou Renato Augusto e Paulinho. Ambos poderão entrar na partida de amanhã, caso a dupla siga se render.
Roberto Firmino também está preparado. Deverá atuar. Entrar no lugar de Gabriel Jesus ou atuar ao lado do outro atacante agudo. Vai depender do andamento do jogo.
"Os erros que cometemos, o técnico não externa. Quando era boleiro, não me expunham. Podem ter certeza de que teremos discernimento e não vamos nos omitir em relação a isso. Entre ter mau prestígio e má consciência, prefiro ter mau prestígio. Não vou me omitir de fazer as coisas corretas."
O certo é que, pela terceira vez na Copa da Rússia, o Brasil terá a mesma formação. Mesmo tendo pela frente um time técnico, muito forte fisicamente e dez centímetros mais alto, em média.
Tite deu seu voto de confiança porque também não pôde contar com Douglas Costa, contundido. Se ele estivesse bem, atuaria na vaga de Willian, o foguetinho.
O Brasil vai disputar a sua primeira decisão neste Mundial de 2014. Se perder, não haverá perdão. O Brasil estará eliminado. Até por uma questão de praxe, a CBF definiu uma estratégia, se o país igualar a sua pior participação nas Copas, a de 1966, na Inglaterra. Há um vôo reservado para o time na sexta-feira. Sairia de Moscou, iria para Sochi, de lá para Londres e Rio de Janeiro.
Só que se o pior acontecer, os atletas não são obrigados a seguir de Sochi para Londres. De lá memo, poderiam ir para onde desejassem.
Tite teve de responder até sobre se a Sérvia poderia ser o seu 'novo' Tolima. Ou seja, foi relembrado o adversário que eliminou o Corinthians da Pré-Libertadores de 2011.
"Pode ser, sim. Pode. Toda situação é possível, e traz aprendizado. Eu trago para cá. Com uma diferença: estou há dois anos com essa equipe. E quando acabou o segundo tempo contra a Costa Rica, me deu orgulho. Normalmente, quando chega 30 minutos, tu quer apressar, quebra de padrões, e quando ela se manteve, eu pensei "vamos fazer, não é possível!". Tenho dois anos, 23 jogos, é pouco em relação ao Löw (técnico da Alemanha)... Eles mantiveram padrão aos 50 minutos, não quebraram e venceram o jogo (contra a Suécia)."
Ou seja, Tite está ciente do risco de eliminação. Mas dá uma prova de confiança absoluta nos seus atletas. Nos seu trabalho.
"A Sérvia tem a característica, sim, de bola aérea ofensiva, mas também a qualidade técnica individual. Jogadores de alto nível também. Temos a condição de poder neutralizar, evitar situações próximas, de faltas laterais, encurtar ou bloquear, e tirar proveito de alguma situação. Uma altura maior vai perder alguma coisa, a vida é assim. Estrategicamente vamos buscar."
Tite trabalhou demais as bolas paradas. E tem a certeza que o contato físico será fundamental para evitar gols sérvios. Thiago Silva, Miranda e Casemiro serão os grandes responsáveis pelos melhores cabeceadores inimigos.
O técnico confirmou também que não escolherá adversário. Nem pensa em jogar ou não com a Alemanha.
Lógico que não poderia estar fora de suas explicações, o choro de Neymar. O treinador foi muito inteligente. Não abordou o tema diretamente. Falou da sua emoção, ao estrear como treinador da Seleção.
"Quero colocar para toda a nação brasileira. Estou em um posto, não sou... No primeiro jogo contra o Equador, o Tite chorou. O Tite chorou. Quando liguei para minha esposa, chorei de alegria, de satisfação, porque é nossa característica emocional. Chorei de prazer, de orgulho, de um momento de tanta pressão fazer um grande jogo."
Tite está tenso.
Mas fez questao de tentar exalar confiança.
"A (leveza) vem com a passagem dos dias. Quando olho para traz e vejo toda a trajetória que nossa seleção fez, o momento que estivemos juntos. Quando começamos a nos lembrar. Quando começo a lembrar todo o passado, a construção dessa campanha. A necessidade da força de cada um, de equilíbrio emocional, para chegar até aqui. A comissão técnica e o quanto a gente procura se preparar bem me gera expectativa, mas me gera confiança."
"Essa equipe está calejada suficientemente para jogos importantes. Fomos jogar contra a Colômbia, saímos ganhando, a Colômbia empatou e cresceu no segundo tempo. Cheguei no intervalo e disse que tinha que manter o nível de concentração alto. Tu vai construindo. Não é um discurso vão, otimista. Está embasado. Trinta anos de bagagem, de estrada."
Tite conseguiu.
Pareceu ter o controle absoluto da Seleção, em um momento tão importante. Era o que tinha a fazer.
Ele também é estreante no Mundial.
E paga esse pedágio.
Sabe o que estará em jogo amanhã, aqui no estádio do Spartak.
Ou o Brasil embala ou pode repetir a tragédia de 1966...