Professora sobre Gabriel Jesus: 'Não queria que ele virasse estatística'
Rita, que deu aula para o atacante da seleção, diz que jogador do Manchester City é solidário e que "meninas nem ligavam pra ele"
Copa 2018|Isadora Tega, do R7

"Estávamos conversando, rindo muito, e eu falei para ele: 'Vamos tirar uma foto, porque daqui a quatro anos você vai jogar a Copa do Mundo'." As palavras da professora de filosofia Rita de Cássia, ditas a um aluno de um bairro da periferia de São Paulo em 2014, poderiam parecer utópicas e absurdas. Mas o garoto era Gabriel Jesus, titular absoluto da seleção brasileira no Mundial da Rússia.
Rita virou assunto nos últimos dias ao compartilhar, em uma rede social, a tal foto com Gabriel. Apesar de parecer ter adivinhado o que aconteceria com o jogador, então com 17 anos, ela afirma que tudo não passou de uma brincadeira. "Foi totalmente sem maldade. As crianças da periferia já são muito maltratadas pela realidade, e nós, professores, não queremos que nossos alunos virem estatística. Fazemos de tudo para incentivá-los a ir atrás dos sonhos. E foi isso que fiz com o Gabriel. Quando vi o Tite falando o nome dele na convocação, fiquei muito emocionada".
"Eu não conheço nenhum jogador de futebol que ainda frequente tanto o lugar onde nasceu e cresceu como o Gabriel faz"
A professora, que assim como Gabriel também é do Jardim Peri, diz que o sonho dele, bem como o da maioria das crianças do bairro, sempre foi viver do futebol e "comprar uma casa para a mãe e melhorar a vida da família e dos amigos". Ele conseguiu e, hoje, aos 21 anos, defende um grande clube europeu (Manchester City-ING), mas nunca deixou as raízes para trás. "Eu não conheço nenhum jogador de futebol que ainda frequente tanto o lugar onde nasceu e cresceu como o Gabriel faz", diz, admirada, a professora.
Solidariedade
Rita conta que, mesmo depois que se mudou para a Inglaterra, onde mora com a família e dois amigos, o atacante visita regularmente o Peri e sempre faz questão de ajudar os moradores. "Ele doa cestas básicas para muita gente; na Páscoa, deu ovos para as crianças e, no Dia das Crianças, comprou presentes. Chama amigos MCs e promove shows de graça para todos. Ele ajuda muito as pessoas da comunidade".
"As meninas nem ligavam pra ele"
Gabriel é arrasador dentro de campo, mas, segundo a professora, fora das quatro linhas ele é muito discreto. O maior motivo disso? Vera Lucia, mãe do craque.
"Ele não é nada deslumbrado, e muito disso é porque a Vera é muito brava. Com ele não tem essa de ficar saindo com um monte de mulher. Ele sempre falou: 'Minha mãe não deixa, ela marca em cima'. A Vera deixou bem claro que não quer 'rodízio' de mulher na casa dela; ou namora sério, ou não leva para conhecer. Ela criou ele sozinho e sabe como é difícil. Ele não era namorador nem quando estava na escola, até porque, naquela época, as meninas nem ligavam pra ele. Hoje, eu converso com o pessoal do Peri e elas falam: 'Nossa, nunca tinha percebido como o Gabriel é lindo'. Eu respondo: 'Aaah! É lindo agora porque é famoso, né?' (risos)."
"Com ele não tem essa de ficar saindo com um monte de mulher. A Vera [mãe de Gabriel] deixou bem claro que não quer 'rodízio' de mulher na casa dela"
Influência para outras crianças
"Desde que ele subiu para o profissional, ainda no Palmeiras, muitas mães começaram a colocar os filhos em escolinhas de futebol. E lá no Peri ainda tem um projeto social para crianças que o próprio Gabriel vai de vez em quando. Ele é um grande exemplo para muitas crianças, que veem que um menino negro periférico saiu da favela e, hoje, está jogando uma Copa do Mundo como um dos grandes nomes do Brasil.", afirma Rita.